quinta-feira, 24 de novembro de 2011

13ª APARIÇÃO - Quarta-feira, 31 de maio de 1944

13ª APARIÇÃO


Data: Quarta-feira, 31 de maio de 1944

Hora: 20:00

Presentes: Cerca 350.000 pessoas

Visão: A Sagrada família

O fluxo de peregrinos de toda parte continuou ininterruptamente de noite tanto que as autoridades ficaram muito preocupadas com a ordem pública. Se estima que bem 90.000 pessoas chegaram do Piemonte (região italiana), muitas a pé.

Naquela tarde o sol era quentissimo, a multidão imponente. Mais ou menos as 18:30 Adelaide foi levada no braço por um comissário ao local das aparições. Adelaide sentiu imensas dores ao abdomem. Os médicos se consultaram. Embora o sofrimento, ninguém conseguiu convencê-la a ir para casa. Depois, imprevistamente, se colocou em pé com dificuldade e começou a rezar. Depois de algum tempo, disse decidida. "Agora vem". Deu um suspiro profundo e seu olhar se tornou límpido e radiante. A Sagrada Família estava ali.

Do caderno de Adelaide:

Neste dia Nossa Senhora apareceu as oito. Estava vestida como na primeira aparição. Sorria mas o seu sorriso não era belo como das outras vezes, mas a sua voz era suave.
Disse-me. "Querida filhinha, sinto muito ter que te deixar, mas a minha hora passou, não te assustes se por um pouco não me verás. Pensa no que te disse, na hora da tua morte virei de novo. Nesta vale de dores serás uma pequena mártir. Não percas a coragem, desejo logo o meu triunfo. Reza pelo Papa e diga-lhe para fazer logo porque quero ser zelosa com todos neste local. Qualquer coisa que me for pedido, intercederei junto a meu filho. Serei a tua recompensa se o teu martírio for alegre. Estas minhas palavras te servirão de conforto na provação. Suporta tudo com paciência que virás comigo no paraíso. Aqueles que voluntariamente te farão sofrer não irão para o paraíso se antes não tiverem consertado tudo e se arrependido profundamente. Ficas alegre que nos veremos ainda pequena mártir".

Senti um doce e suave beijo na minha fronte, depois como nas outras noites desapareceu.

OBS: Toda visita de Nossa Senhora era precedia por duas pombas brancas. A Virgem tinha sempre rosas brancas aos pés.

Também em 31 de maio foi observado o fenômeno solar seja em Ghiaie como em outros locais. Muitas curas aconteceram também àquele dia.

12ª APARIÇÃO - Terça-feira, 30 de maio de 1944

12ª APARIÇÃO


Data: Terça-feira, 30 de maio de 1944

Hora: 18:50

Presentes: Cerca 250.000

Visão: Virgem Maria com anjinhos

Naquele dia o calor sufocante era terrível. Alem do calor e do cansaço, foi necessário segurar com fadiga os empurrões da multidão que empurrava ameaçadoramente o recinto.

Do caderno de Adelaide:

"Nesta aparição Nossa Senhora apareceu vestida de rosa com o véu branco. Não tinha as pombinhas pretas entre as mãos e em torno dela tinham só os anjinhos.

Com um sorriso mais que maternal me disse:

"Querida menina, você é toda minha, mas mesmo estando no meu coração, amanhã te deixarei neste vale de lágrimas e dor. Me reverás na hora da tua morte e enrolada no meu véu te levarei ao céu. Com você também irão todos aqueles que te compreendem e sofrem".

Abençoou e se distanciou mais rapidamente que nos outros dias.

11ª APARIÇÃO - Segunda-feira, 29 de maio de 1944

11ª APARIÇÃO


Data: Segunda-feira, 29 de maio de 1944

Hora: 18:32

Presentes: Cerca 300.000 pessoas

Visão: Virgem Maria com anjinhos

Também naquela segunda -feira, uma multidão de pessoas foi para o local das aparições. O fluxo de doentes e de enfermos foi tão grande a Ghiaie di Bonate que foi necessário organizar um serviço de voluntários, da cruz vermelha, médicos e ambulâncias. Aconteceram muitas curas milagrosas no campo tanto que a Curia de Bergamo instituiu uma seção própria para as verificações de costume.

Do caderno de Adelaide:

"Também nesta aparição Nossa Senhora apareceu com os anjinhos, vestida de vermelho com o manto verde e a sua manifestação foi precedida por duas pombinhas e do ponto luminoso. Entre as mãos tinha ainda as duas pombas de penas escuras e no braço o terço.

Nossa Senhora me sorriu e disse:

" Os doentes que querem sarar devem ter maior confiança e santificar os seus sofrimentos se querem ir ao paraíso. Se não fizerem isto, não receberão nenhum prêmio e serão severamente castigados. Espero que todos aqueles que conhecem minha palavra façam todos os esforços para merecer o paraíso. Aqueles que sofrerem sem lamento obterão de mim e do meu Filho tudo que pedirem. Reza muito por aqueles que têm a alma doente, o meu filho Jeus morreu na cruz para salvar todos. Muitos não compreendem estas minhas palavras e por isto eu sofro. "

Enquanto Nossa Senhora levava a mão a boca para mandar-me um beijo com o indicador e o polegar unidos, as duas pombinhas voaram em volta dEla enquanto ela se distanciava muito devagar."

10ª APARIÇÃO - Domingo, 28 de maio de 1944

10ª APARIÇÃO


Data: Domingo, 28 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Cerca 300.000 pessoas

Visão: A Virgem Maria com dois Santos ao lado

Adelaide transcorre a semana em proveitoso retiro, em Bergamo, nas Irmãs Ursulinas para preparar-se para a primeira comunhão. A Ghiaie di Bonate chegaram numerosos peregrinos animados de grande fé. Tinha-se espalhado a notícia de curas milagrosas. Era pentecostes. Adelaide recebeu a Primeira comunhão e volta a Bergamo das Freiras. Voltará ao local das aparições no fim da tarde.

Do caderno de Adelaide:

"Nestes dias fiz a primeira comunhão. Como as outras noites fui levada ao local das aparições e o ponto luminoso apareceu novamente manifestando Nossa Senhora com os anjinhos e dois Santos ao seulado. Nossa Senhora me disse: " Reza pelos pecadores obstinados que fazem sofrer o meu coração porque não pensam na morte. Reza também pelo Santo padre que passa por maus momentos. Tantos o maltratam e muitos atentam contra a sua vida. Eu o protegerei e ele não sairá do Vaticano. A paz não vai demorar, mas o meu coração espera aquela paz mundial na qual todos se amem como irmãos. Só assim o Papa sofrerá menos".

Nossa Senhora tinha nas mãos duas pombas pretas que simbolizavam a união que devem ter os cônjuges para formar a sagrada família sob o vigilante olhar de Nossa Senhora. Símboloza também que a sagrada família não pode existir se não vivermos esperançosos entre as mãos maternas de Nossa Senhora.

Nossa Senhora não me revelou o nome dos dois Santos que tinha a seu lado. Somente por inspiração interna tive uma clara intuição do nome deles: São Lucas e São Judas. O nome Judas para mim traz uma triste recordação porque mesmo involuntariamente traí Nossa Senhora. Nesta aparição eu vejo a caridade maravilhosa de Nossa Senhora mostrando-me Judas Santo , porque quis prevenir-me e tornar-me cautelosa diante as provas que encontraria para afirmar a sua palavra materna e segua e que infelizmente eu não fui capaz. No meu coração sinto pesar o meu grande erro, mas mesmo imitando Judas traidor quero santificar-me seguindo o exemplo de Judas Santo, apóstolo e mártir por amor de Jesus e de Nossa Senhora. São Mateus inspira ao meu coração confiança na salvação porque ele também pecador seguiu Jesus e se fez apóstolo em seu nome.

Os dois Santos estavam vestidos de roxo com manto marrom, Nossa Senhora estava vestida de vermelho com o manto verde; na fronte tinha um diadema forma de coroa coberto de pequenas pérolas luminosas de diversas cores. Antes de distanciar-se, olhou para os dois Santos, depois lentamente desapareceu. "

Se repetiu o fenômeno do sol, visto não somente a Ghiaie di Bonate mas também em locais muito distantes entre eles.

Do boletim paroquial de Tavernola de junho de 1944, se lê: " As 18:00 em ponto se vê uma diminuição da luz solar acompanhada de um jato como um relâmpago repentino, observado distintamente em primeiro lugar por alguns jogadores de bocha. Olhando o sol se via verde, depois vermelho vivo, depois amarelo ouro e girava vertiginosamente sobre si mesmo. Pare ver este espetáculo as pessoas foram para as ruas......"

Se soube em seguida, pelas revelações do general da SS na Itália Karl Wolf, que o Papa correu um sério perigo de deportação e que Roma correu o risco de se tornar uma segunda Stalingrado.

9ª APARIÇÃO - Domingo, 21 de maio de 1944

9ª APARIÇÃO


Data: Domingo, 21 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Cerca 200.000 pessoas

Visão: A Sagrada família

A aparição daquele domingo foi o última daquele primeiro ciclo. Desde de manhã, a Ghiaie di Bonate chegou uma maré humana. Foi preparada uma sólida cerca em volta do local das aparições onde de tarde alguns homens de boa vontade colocaram vários doentes. Durante a aparição Adelaide foi submetida a numerosas provas por parte dos médicos presentes.

Do caderno de Adelaide:

Esta aparição também foi precedida de duas pombas e no ponto luminosos se manifestou a Sagrada Família, vestida como ontem no meio de uma igreja. Na porta principal estavam um burrinho de cor cinzenta, uma ovelha branca, um cachorro de pelo branco com manchas marrons, um cavalo na normal cor marrom. Todos estes animais estavam ajoelhados e moviam a boca como se rezassem, De repente o cavalo se levantou, passou por trás de Nossa Senior, saiu pela porta aberta e foi em direção a única estrada a qual conduzia a um campo de lírios, mas não teve tempo de pisar tantos quantos gostaria porque São José o seguiu e o pegou. O cavalo apenas viu S. José, procurou se esconder perto de um pequeno muro que servia para cercar o campo de lírios, mas deixou-se pegar com docilidade e ser levado por S. José de volta a igreja onde se ajoelhou e voltou a rezar.

Aquele dia expliquei o fato só dizendo que o cavalo era uma pessoa ruim que queria destruir os bons. Ou simplesmente, para explicar melhor os sentimentos que aquela visão produziu em mim. No cavalo vi uma pessoa soberba e má, ávida por domínio, que abandonada a oração queria destruir os lírios daquele magnífico campo pisando e destruindo sem ser visto o seu frescor e simples candor. É preciso notar que enquanto o cavalo tentava massacrar aquele campo manifestava um sentido de malícia porque procurava não ser visto. Quando o cavalo viu São José procurando-o, abandonou o estrago furtivo e procurou esconder-se perto do muro do local. São José se aproximou, com um doce olhar de reprovação e o levou de novo para a casa de oração. Enquanto o cavalo fazia estragos, os outros animais não interromperam a oração.

Os quatro animais representavam quatro virtudes indispensáveis para formar a Sagrada Família. O cavalo o chefe que não deve abandonar as orações porque longe dessa só é capaz de desordem e ruína. Repudia a paciência, a fidelidade, a mansidão e o silêncio familiar representados simbolicamente pelos animais. Nesta visão ninguem falou e lentamente tudo desapareceu.

OBS: as manchas particulares no pelo do cachorro são uma figura da fidelidade familiar tão corrompida. A porta aberta do templo é figura da liberdade que Deus dá a cada criatura.

Aquela noite aconteceram fenômenos solares impressionantes a Ghiaie di Bonate e na Lombardia (região italiana).

Muitos foram os depoimentos das pessoas que se encontravam no local e nas cidades limítrofes. Mais ou menos as 6, o sol saiu das nuvens, girou vertiginosamente sobre si mesmo projetando em todas as direções fachos de luz amarela, verde, vermelha, azul, roxa que coloravam as nuvens, os campos, as árvores e a multidão. Depois de alguns minutos o sol parou para recomeçar logo com os mesmos fenômenos. Muitos notaram que o disco ficou branco como uma hóstia, as nuvens pareciam abaixar-se sobre as pessoas. Teve quem observou no céu uma conta do terço como quem observou uma majestosa figura de Nossa Senhora com um longo manto. Outros de longe, viram delinear-se o rosto de Nossa Senhora no sol. De Bergamo muitas testemunhas observaram o sol tornar-se pálido e emanar as cores do arco-íris em todas as direções e notaram uma grande faixa de luz amarela de uma luminosidade intensa descer do céu perpendicularmente a Ghiaie.

8ª APARIÇÃO - Sabado, 20 de maio de 1944

8ª APARIÇÃO


Data: Sabado, 20 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Cerca 30.000 pessoas

Visão: A Sagrada família

Adelaide, acompanhada do padre Don César Vitali e da prima Maria, foi a Bergamo contar ao Bispo o segredo recebido de Nossa Senhora. A prima falou com o Bispo do anúncio dado por Adelaide de um milagre que aconteceria no fim do primeiro ciclo de aparições. Àquela noite, em Ghiaie, havia uma grande multidão esperando Adelaide.

Do caderno de Adelaide:

"Como todos os outros dias fui para cima da pedra esperando a querida Nossa Senhora. Apareceu de novo a Sagrada Família e Nossa Senhora me disse: " Amanhã será a última vez que te falo, depois por 7 dias te deixo pensar bem no que eu te disse. Procura entender bem porque quando fores maior te servirá muito se quiser ser toda minha. Depois destes sete dias voltarei ainda por quatro vezes". A sua voz era tão harmoniosa que por mais que eu tenha tentado imitar nunca consegui. "

Como em Fatima, também em Ghiaie, aconteceram fenômenos celestes, nunca antes observados.

A Doutora Eliana Maggi testemunhou com deposição legal de 16 de janeiro de 1946 em frente a comissão de Bispos: " aquele sábado era um dia chuvoso. No começo da aparição veio um raio de sol na cabeça da menina. Eu levantei os olhos e vi uma passagem em forma de cruz no céu e uma chuva de pontinhos de ouro e de prata, por um minuto ou dois, e todos gritaram milagre. "

Don Luigi Cortesi escreveu a propósito dos fenômenos solares daquele fim de tarde de sábado:

"Alguns notaram uma estranha faixa de luz, que iluminava intensamente a menina e se rebatia sobre os circunstantes. Outros viram o sol a forma de cruz, outros viram o disco solar girar vertiginosamente em um círculo não maior de meio metro. Nos baixos extratos da atmosfera, viram chuva de estrelinhas de ouro, nuvenzinhas amarelas a forma de rosquinhas, tão densas e tão perto que alguns tentaram pega-las com as mãos. Nas mãos e nos rostos dos presentes se viam as cores mais variadas, com uma prevalência de amarelo; se viram mãos fluorescentes, globos de luz a forma de hóstia... "

7ª APARIÇÃO - Sexta-feira, 19 de maio de 1944

7ª APARIÇÃO


Data: Sexta-feira, 19 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Cerca 10.000 pessoas

Visão: A Sagrada família

Aquele dia, foram levados ao local das aparições os bilhetes dos fiéis com as suas súplicas a Nossa Senhora. Havia uma grande multidão e Adelaide conseguiu com muita dificuldade chegar ao seu lugar. Daquele dia em diante, um médico, a Doutora Eliana Maggi, estava sempre presente, perto da menina.

Do caderno de Adelaide:

"Como todas os outros dias fui para o meu lugar onde tinha sido colocada uma pedra de granito na qual eu subia durante as aparições. Vi o ponto luminoso e neste a Sagrada Família. Nossa Senhora estava com um véu e vestido azul celeste. Uma faixa branca em torno aos quadris; tinha umas rosas aos pés e o terço nas mãos. O Menino Jesus vestia ainda rosa com as estrelinhas de ouro e as mãozinhas unidas. O seu rosto era sereno quase sorridente. São José estava sereno mas não sorria, estava vestido de marrom, dos seus ombros descia um pedaço de tecido marrom a forma de manto e na mão direita tinha um bastãozinho de lírio florido. Estavam também ainda aos anjinhos.

Nossa Senhora me olhou sorrindo mas eu falei antes pela primeira vês e manifestei o desejo de muitos com estas palavras: " Nossa Senhora, as pessoas me pediram para perguntar se os filhos doentes devem ser trazidos aqui para que possam sarar".

Com voz paradisíaca Ela me respondeu: " Não, não é necessário que próprio todos venham aqui, aqueles que podem venham que de acordo com os seus sacrifícios serão curados ou continuarão doentes, mas não façam mais pecados graves". Pedi que ela fizesse algum milagre para que as pessoas acreditassem nas suas palavras. Me respondeu: " Também isto acontecerá, muitos se converterão e eu serei reconhecida pela Igreja". Depois séria acrescentou: "Meditas nestas palavras cada dia da tua vida, tenha coragem em todas as dificuldades. Me verás na hora da tua morte, te colocarei embaixo do meu manto e te trarei ao céu". "

6ª APARIÇÃO - Quinta-feira, 18 de maio , festa da Ascensão

6ª APARIÇÃO


Data: Quinta-feira, 18 de maio , festa da Ascensão

Hora: 18:00

Presentes: Cerca 7.000 pessoas

Visão: Virgem Maria com oito anjinhos

A multidão acreditou rapidamente em Ghiaie di Bonate. Todos queriam ver a menina e se temeu pela sua incolumidade. Um sargento romano ajudou o pequeno grupo a alcançar o local das aparições.

Do caderno de Adelaide:

"Durante o oratório pensava em Nossa Senora e mais ou menos as 5 fui tomar lanche para ser pontual e ir ao local das aparições. A visita de Nossa Senhora foi precedida das duas pombinhas. A Virgem vestida de vermelho com o manto verde e circundada ainda dos anjinhos como ontem.

Nossa Senhora me sorriu depois por três vezes repetiu estas palavras: "Oração e penitência. " Depois acrescentou: "Reza pelos pecadores mais obstinados que estão morrendo neste momento e que machucam o meu coração".

Muitas pessoas tinham me pedido para perguntar a Nossa Senhora qual era a oração que ela mais gostava. Eu fiz esta pergunta a Ela que me respondeu: " A oração que eu mais gosto é a Ave Maria". Dizendo isto Nossa Senhora lentamente desapareceu".

5ª APARIÇÃO - Quarta-feira, 17 de maio de 1944

5ª APARIÇÃO


Data: Quarta-feira, 17 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Cerca 3.000 pessoas

Visão: Virgem Maria com oito anjinhos

Aquele dia foi o último que Adelaide freqüentou a escola primária de Ghiaie di Bonate. A professora lhe perguntou das aparições e o que contou Adelaide foi convincente. Ao seu retorno a casa, Adelaide foi levada para o quarto pela mãe que, chorando, lhe perguntou a verdade sobre as aparições. Adelaide confirmou.

Do caderno de Adelaide:

" No horário justo fui para o local das aparições. As duas pombas apareceram antes do ponto luminoso e Nossa Senhora apareceu vestida de vermelho com o manto verde que tinha uma longa cauda. Entorno aos três círculos de luz estavam oito anjinhos vestidos alternadamente de azul celeste e rosa, todos na altura dos cotovelos de Nossa Senhora, formando um semicírculo. Apenas vi Nossa Senhora ela falou comigo e me confidenciou um segredo para ser revelado somente ao Bispo e ao Papa com estas palavras: "Diga ao Bispo e ao Papa o segredo que te confio.... te recomendo de fazer o que eu disse, mas não contar a mais ninguém". Depois lentamente desapareceu".

Três dias depois, 20 de maio, Adelaide foi levada para falar com o Bispo e lhe revelar o segredo. O que havia de tão importante no segredo para que o Bispo, na metade de junho de 1944, voltasse expressamente a Gandino, onde estava a menina, para que o repetisse?

Adelaide foi acompanhada a Roma em 1949 e foi recebida em audiência particular pelo Papa Pio XII ao qual revelou o segredo que Nossa Senhora tinha revelado a ela em 17 de maio de 1944.

4ª APARIÇÃO - Terça-feira, 16 de maio de 1944

4ª APARIÇÃO


Data: Terça-feira, 16 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Cerca 150 pessoas

Visão: A Sagrada família

Naquela tarde Adelaide foi no Oratório onde foi interrogada pela Irmã Concetta sobre as aparições. Adelaide revelou, alem disso, que a chegada de Nossa Senhora era sempre precedido do vôo de duas pombinhas brancas e que a Virgem falava com ela em dialeto bergamasco. A menina voltou para casa a tempo mas teve que insistir muito para que a deixassem ir ao encontro das 18:00 com Nossa Senhora.

Do caderno de Adelaide:

"Nesta aparição para ser pontual ao meu horário tive que insistir muito com a gente que enchia a minha casa porque todos tentavam me convencer que fossem 5 da tarde mas no meu coração sentia que era o horário de ir encontrar Nossa Senhora. De tanto insistir para me deixar livre, um homem me pegou no braço e me levou ao local das aparições. Como nas outras noites o ponto luminoso precedido das pombinhas apareceu e Nossa Senhora com Jesus Menino e São José se manifestou de novo. As suas roupas eram como no dia anterior.

Nossa Senhora me deu um sorriso depois com o rosto sofredor me disse: "Tantas mães tem as crianças infelizes pelos seus pecados graves; não façam mais pecados e as crianças se curarão. "

Pedi um sinal externo para satisfazer o desejo da gente. Ela me respondeu: "também isto acontecerá a seu tempo. Reza pelos pobres pecadores que precisam das orações das crianças. " Assim dizendo se afastou e desapareceu. "

3ª APARIÇÃO - Segunda-feira, 15 de maio de 1944

3ª APARIÇÃO


Data: Segunda-feira, 15 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Adelaide , 2 amiguinhas e uma centena de pessoas

Visão: A Sagrada Família (mais luminosa do que de costume)

Do caderno de Adelaide:

"Pouco antes das seis, cheguei no local das aparições com minhas amigas: Ítala Corna e Giulia Marcolini. Demorei muito tempo a chegar lá porque a estrada estava cheia. O ponto luminoso precedido de duas pombas apareceu e lentamente se aproximou manifestando a Sagrada Família mais luminosa do que de costume. Os olhos luminosos e azuis de Jesus Menino nesta aparição chamaram a minha atenção de forma particular. A roupinha que o cobria até os pés era lisa a forma de camisa, cor rosa cheia de estrelinhas de ouro. Nossa Senhora vestia um vestido azul com um véu branco muito comprido que lhe descia da cabeça. Pequenas estrelinhas formavam uma auréola em volta do rosto de Nossa Senhora, nos pés tinha duas rosas e entre as mãos as contas de um terço.

Muitas pessoas me tinham recomendado de dizer a Nossa Senhora para curar os seus filhos e de perguntar quando viria a paz. Disse tudo a Nossa Senhora que me respondeu:

"Diga a eles que se querem que os filhos se curem devem fazer penitência, rezar muito e evitar certos pecados. Se os homens fizerem penitência a guerra acabará entre dois meses, senão em pouco menos de dois anos. "

Rezou comigo uma dezena de contas do terço e depois lentamente se afastou até que desapareceu."

Da multidão de pessoas que chegaram sucessivamente, acreditaram ter feito toda aquela penitência e orações que Nossa Senhora pediu e pensaram que a guerra acabaria em dois meses. Ao invés disso, dois meses depois daquele 15 de maio, na quinta feira 20 de julho, aconteceu o atentado a Hitler que provocou o início do declínio da Alemanha e a sua derrota. A guerra durou ainda até o verão de 1945, com a diminuição gradativa das hostilidades. Nossa Senhora tinha previsto corretamente: "pouco menos de dois anos."

2ª APARIÇÃO - Domingo, 14 de maio de 1944

2ª APARIÇÃO


Data: Domingo, 14 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Adelaide e algumas meninas e um menino

Visão: A Sagrada Família

Do caderno de Adelaide:

"Eu estava no Oratório com as minhas colegas mas, mais ou menos as seis senti um grande desejo de correr ao local onde Nossa Senhora tinha me falado. Parti correndo com algumas minhas colegas, chegando no local instintivamente olhei para cima e vi passar duas pombas brancas, depois mais para cima vi um ponto luminoso que se aproximava e que delineava clara e majestosamente a figura da Sagrada Família.

Num primeiro momento me sorriram, depois Nossa Senhora me repetiu o que me tinha dito ontem

"Deve ser boa, obediente, sincera e rezar bem, respeitosa com o próximo . Entre os seus 14 e 15 anos, você se tornará madre Sacramentina. Sofrerás muito, mas não desanimes porque depois virás comigo no Paraíso." Depois lentamente se afastou e desapareceu como a noite anterior.
Sentia no meu coração tanta alegria pelas breves palavras de Nossa Senhora e na minha mente era clara e precisa a recordação da sua presença. Voltei com as minhas colegas para o Oratório, no meio do caminho encontrei um rapaz que me interrogou. Quando afirmei ter visto Nossa Senhora, ele ansioso me disse: "volta lá ainda para ver se Ela aparece de novo e pergunta se eu poderei ser sacerdote consagrando minha vida a Ela. "

Voltei rapidamente ao local, olhei para o céu com a esperança que Ela reaparecesse. Realmente depois de alguns minutos se manifestou de novo a bela presença de Nossa Senhora, a qual falei do desejo de Cândido, presente nesta minha nova visita. Ela com voz suave e materna, me respondeu: " Sim, ele será um Sacerdote Missionário segundo o Sagrado Coração, quando a guerra acabar". Dito isto lentamente desapareceu.

Terminada a visão, senti que ele puxava o meu avental, ansioso, perguntando o que tinha respondido Nossa Senhora. Quando lhe repeti as palavras de Nossa Senhora, ele correu feliz e foi contar a sua mãe.

Voltei para casa com minhas colegas e no meu coração sentia uma grande alegria. Nossa Senhora antes de ir embora me disse de voltar por outras sete vezes."

Adelaide não demorou a experimentar a verdade da segunda profecia. De fato, àquela noite, em família, foi repreendida severamente. Padre A. Tentori escreve que nesta aparição Nossa Senhora confirmou a vocação de Cândido "ao qual sorriu" mas depois Adelaide deu um grito e escondeu o rosto entre as mãos, sem querer explicar o porque. Provavelmente tinha consciência dos sofrimentos que aquela vocação deveria custar ao amigo. Entretanto, a notícia das aparições ultrapassou os limites de Ghiaie di Bonate.

1ª APARIÇÃO - Visão: A Sagradra Família, 13 de maio de 1944

1ª APARIÇÃO


Data: Sábado 13 de maio de 1944

Hora: 18:00

Presentes: Adelaide e algumas meninas

Visão: A Sagrada Família

Naquele fim de tarde de 13 de maio de 1944, a menina Adelaide Roncalli de 7 anos foi recolher flores de sabugueiro e margaridas na vereda que desce ao lado do bosque de pinhos para por na frente de uma Nossa Senhora.

Com ela, a uma certa distância, estavam a irmã PalmiNa de 6 anos e algumas amiguinhas.

Do caderno de Adelaide:

"Eu estava recolhendo flores para a Nossa Senhora que fica no meio da escada para subir aos quartos na minha casa. Tinha recolhido margaridas e tinha colocado em uma carriola que tinha feito meu pai. Vi uma bela flor de sabugueiro mas estava muito alta para que eu pudesse pegar. Fiquei admirando-a quando vi um pontinho de ouro que descia do alto e se aproximava devagarinho a terra e como se aproximava ficava maior e nele se mostrou a figura de uma bela Senhora com o menino Jesus nos braços e a sua esquerda S. José. As três pessoas estavam envolvidas em três cercos ovais de luz e ficaram suspensas no espaço pouco distante dos fios da luz.

A Senhora, bela e majestosa, vestia um vestido branco e um manto azul; no braço direito estava o terço composto de contas brancas: sob os pés nus estavam duas rosas brancas. O colo do vestido tinha um acabamento de pérolas todas iguais ligadas em ouro formando quase um colar. Os círculos que envolviam as três pessoas eram luminosos com tonalidades de luz dourada. No primeiro momento tive medo e quase escapei, mas a Senhora me chamou com voz delicada e me disse: "Não fuja porque eu sou Nossa Senhora!"

Então fiquei parada a olhá-la, mas com um pouco de medo. Nossa Senhora me olhou, depois acrescentou: "Deve ser boa, obediente, respeitosa com o próximo e sincera: reza bem e volte neste lugar por nove noites sempre a esta hora"

Nossa Senhora me olhou por alguns instantes, depois lentamente se afastou, sem virar de costas. Eu olhei até que uma nuvem branquinha a tirou da minha visão. Jesus Menino e S. José não falaram, só me olharam.

Vendo Adelaide em êxtase, as suas amiguinhas a chamaram, a chacoalharam sem sucesso, tanto que a irmã Palmina, impressionada, foi correndo chamar a mãe e dizer que Adelaide estava como morta em pé. Saindo devagar do êxtase, Adelaide contou as amiguinhas ter visto Nossa Senhora mas não falou em família, tanto que o jantar transcorreu tranqüilamente. Mas as amiguinhas não fizeram o mesmo e assim começaram a correr vozes na cidade.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

LADAÍNHA DOS SANTOS ANÓNIMOS

Santos e Santas de Deus, vós que não tendes data no calendário, mas a quem Deus concedeu um lugar na Sua Glória Eterna:
- Rogai por nós!

Santos e Santas de Deus, vós que fostes provados pelo sofrimento, pela pobreza e pelo desgaste do trabalho ou pelo drama do desemprego:

- Rogai por nós!

Santos e Santas de Deus, vós que fostes pais e mães de família e procurastes educar os vossos filhos nos caminhos do Senhor:

- Rogai por nós!

Santos e Santas de Deus, vós que vos consagrastes ao Senhor no silêncio de um convento ou no bulício do mundo, ou vos dedicastes ao serviço do Povo de Deus, como seus pastores:

- Rogai por nós!

Santos e Santas de Deus, vós que fostes professores e educadores de crianças e jovens:

- Rogai por nós!

Santos e Santas de Deus, vós que fostes nossos familiares e amigos, e envolvestes a nossa vida de ternura e nos ajudastes a realizar-nos com o auxílio da Graça de Deus:

- Rogai por nós!

Santos e Santas de Deus, vós que destes testemunho da Verdade e da Santidade de Deus e do Evangelho derramando o vosso sangue pela fé:

- Rogai por nós!

Santos e Santas de Deus, vós que aceitastes, de olhos em Deus, o desgaste da fidelidade aos deveres de cada dia, na família, no trabalho e na sociedade, quantas vezes com a incompreensão e ingratidão dos outros:
- Rogai por nós!

(Cónego João de Sousa, Pároco Jubilado da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica em Lisboa)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

5 Vias de São Tomás de Aquino - Parte 1

EXISTÊNCIA DE DEUS

Iª Via - Prova do movimento

IIª Via - Prova da causalidade eficiente

IIIª Via - Prova da contingência

IVª Via - Dos graus de perfeição dos entes

Vª Via - Prova da existência de Deus pelo governo do mundo

"Ninguém afirma: `Deus não existe' sem antes ter desejado que Ele não exista".

Esta frase, de um filósofo muito suspeito, por ser esotérico - Joseph de Maistre - tem muito de verdade.

Com efeito, o devedor insolvente gostaria que seu credor não existisse. O pecador que não quer deixar o pecado, passa a negar a existência de Deus.

Por isso, quando se dá as provas da existência de Deus para alguém, não se deve esquecer que a maior força a vencer não é a dos argumentos dos ateus, e sim o desejo deles de que Deus não exista. Não adiantará dar provas a quem não quer aceitar sua conclusão. Em todo caso, as provas de Aristóteles e de São Tomás a respeito da existência de Deus têm tal brilho e tal força que convencem a qualquer um que tenha um mínimo de boa vontade e de retidão intelectual.

É para essas pessoas que fazemos este pequeno resumo dos argumentos de São Tomás sobre a existência de Deus, tendo por base o que ele diz na Suma Teológica I, q.2, a.a 1, 2, 3 e 4.

Inicialmente, pergunta São Tomás se a existência de Deus é verdade de evidência imediata. Ele explica que uma proposição pode ser evidente de dois modos:

1) em si mesma, mas não em relação a nós;

2) em si mesma e para nós.

Uma proposição é evidente quando o predicado está incluído no sujeito. Por exemplo, a proposição o homem é animal é evidente, já que o predicado animal está incluso no conceito de homem.

Quando alguns não conhecem a natureza do sujeito e do predicado, a proposição - embora evidente em si mesma - não será evidente para eles. Ela será evidente apenas para os que conhecem o que significam o sujeito e o predicado. Por exemplo, a frase: "O que é incorpóreo não ocupa lugar no espaço", é evidente em si mesma e é evidente somente aqueles que sabem o que é incorpóreo.

Tendo em vista tudo isso, São Tomás diz que:

a) A proposição "Deus existe" é evidente em si mesma porque nela o predicado se identifica com o sujeito, já que Deus é o próprio ente.

b) Mas, com relação a nós, que desconhecemos a natureza divina, ela não é evidente, mas precisa ser demonstrada. E o que se demonstra não é evidente. O que é evidente para nós não cabe ser demonstrado.

Portanto, a existência de Deus pode ser demonstrada. Contra isso, São Tomás dá uma objeção, dizendo que a existência de Deus é um artigo de fé. Ora, o que é de fé não pode ser demonstrado. Logo, concluir-se-ia que não se pode demonstrar que Deus existe. São Tomás ensina que há dois tipos de demonstração:

1) Demonstração propter quid (devido a que)

É a que se baseia na causa. Ela parte do que é anterior (a causa) discorrendo para o que é posterior ( o efeito).

2) Demonstração quia (porque)

É a que parte do efeito para conhecer a causa.

Quando vemos um efeito mais claramente que sua causa, pelo efeito acabamos por conhecer a causa. Pois o efeito depende da causa, e é, de algum modo, sempre semelhante a ela. Então, embora a existência de

Deus não seja evidente apenas para nós, ela é demonstrável pelos efeitos que dela conhecemos.

A existência de Deus e outras verdades semelhantes a respeito dele que podem ser conhecidos pela razão, como diz São Paulo Rom. I, 19), não são artigos de fé. Deste modo, a fé pressupõe o conhecimento natural, assim como a graça pressupõe a natureza e a perfeição pressupõe o que é perfectível.

Entretanto, alguém que não conheça ou não entenda a demonstração filosófica da existência de Deus, por aceitar a existência dele por fé.

É no artigo 3 dessa questão 2 da 1ª parte da Suma Teológica que São Tomás expõe as provas da existência de Deus. São as famosas 5 vias tomistas.

Iª Via - Prova do movimento

É a prova mais clara.

É inegável que há coisas que mudam. Nossos sentidos nos mostram que a planta cresce, que o céu fica nublado, que a folha passa a ser escrita, que nós envelhecemos, que mudamos de lugar, etc.

Há mudanças substanciais. Ex.: madeira que vira carvão. Há mudanças acidentais. Ex: parede branca que é pintada de verde. Há mudanças quantitativas. Ex: a água de um pires diminuindo por evaporação. Há mudanças locais. Ex: Pedro vai ao Rio

Nas coisas que mudam, podemos distinguir:

a) As qualidades ou perfeições já existentes nelas.

b) as qualidades ou perfeições que podem vir a existir, que podem ser recebidas por um sujeito.

As perfeições existentes são ditas existentes em Ato.

As perfeições que podem vir a existir num sujeito são existentes em Potência passiva. Assim, uma parede branca tem brancura em Ato, mas tem cor vermelha em Potência.

Mudança ou movimento é pois a passagem de potência de uma perfeição qualquer (x) para a posse daquela perfeição em Ato.

M = PX ---->> AX

Nada pode passar, sozinho, de potência para uma perfeição, para o Ato daquela mesma perfeição. Para mudar, ele precisa da ajuda de outro ser que tenha aquela qualidade em Ato.

Assim, a panela pode ser aquecida. Mas não se aquece sozinha. Para aquecer-se, ela precisa receber o calor de outro ser - o fogo - que tenha calor em Ato.

Outro exemplo: A parede branca em Ato, vermelha em potência, só ficará vermelha em Ato caso receba o vermelho de outro ser - a tinta - que seja vermelho em Ato.

Noutras palavras, tudo o que muda é movido por outro. É movido aquilo que estava em potência para uma perfeição. Em troca, para mover, para ser motor, é preciso ter a qualidade em ato. O fogo (quente em ato) move, muda a panela (quente em potência) para quente em ato.

Ora, é impossível que uma coisa esteja, ao mesmo tempo, em potência e em ato para a mesma qualidade.

Ex.: Se a panela está fria em ato, ela tem potência para ser aquecida. Se a panela está quente em ato ela não tem potência para ser aquecida.

É portanto impossível que uma coisa seja motor e móvel, ao mesmo tempo, para a mesma perfeição. É impossível, pois, que uma coisa mude a si mesma.

Tudo o que muda é mudado por outro.

Tudo o que se move é movido por outro.

Se o ente 1 passou de Potência de x para Ato x, é porque o ente 1 recebeu a perfeição x de outro ente 2 que tinha a qualidade x em Ato.
Entretanto, o ente 2 só pode ter a qualidade x em Ato se antes possuía a capacidade - a potência de ter a perfeição x.

Logo, o ente 2 passou, ele também, de potência de x para Ato x. Se o ente 2 só passou de PX para AX, é porque ele também foi movido por um outro ente, anterior a ele, que possuía a perfeição x em Ato.

Por sua vez, também o ente 3 só pode ter a qualidade x em Ato, porque antes teve Potência de x e só passou de PX para AX pela ajuda de outro ente 4 que tinha a qualidade x em Ato. E assim por diante.

PX ---> AX PX (5) ---> AX PX (4) ---> AX PX (3) ---> AX PX (2) ---> AX (1)

5 Vias de São Tomás de Aquino - Parte 2

Esta sequência de mudanças ou é definida ou indefinida. Se a seqüência fosse indefinida, não teria havido um primeiro ser que deu início às mudanças.

Noutras palavras, em qualquer seqüência de movimentos, em cada ser, a potência precede o ato. Mas, para que se produza o movimento nesse ser, é preciso que haja outro com qualidade em ato.

Se a sequência de movimentos fosse infinita, sempre a potência precederia o ato, e jamais haveria um ato anterior à potência. É necessário que o movimento parta de um ser em ato.

Se este ser tivesse potência, não se daria movimento algum. O movimento tem que partir de um ser que seja apenas ato.

Portanto, a sequência não pode ser infinita.

Ademais, está se falando de uma série de movimentos nas coisas que existem no universo.

Ora, esses movimentos se dão no espaço e no tempo. Tempo-espaço são mensuráveis. Portanto, não são movimentos que se dão no infinito.

A sequência de movimentos em tempo e espaço finitos tem que ser finita.

E que o universo seja finito se compreende, por ser ele material. Sendo a matéria mensurável, o universo tem que ser finito.

Que o universo é finito no tempo se comprova pela teoria do Big Bang e pela lei da entropia. O universo principiou e terá fim. Ele não é infinito no tempo.

Logo, a seqüência de movimentos não pode ser infinita, pois se dá num universo finito.

Ao estudarmos as cinco provas de S. Tomás sobre a existência de Deus, devemos ter sempre em mente que ele examina o que se dá nas "coisas criadas", para, através delas, compreender que existe um Deus que as criou e que lhes deu as qualidades visíveis, reflexos de suas qualidades invisíveis e em grau infinito.

Este primeiro motor não pode ser movido, porque não há nada antes do primeiro. Portanto, esse 1º ente não podia ter potência passiva nenhuma, porque se tivesse alguma ele seria movido por um anterior. Logo, o 1º motor só tem ATO. Ele é apenas ATO, isto é, tem todas as perfeições.
Este ser é Deus.

Deus então é ATO puro, isto é, ATO sem nenhuma potência passiva. Este ser que é ato puro não pode usar o verbo ser no futuro ou no passado. Deus não pode dizer "eu serei bondoso", porque isto implicaria que não seria atualmente bom, que Ele teria potência de vir a ser bondoso.

Deus também não pode dizer "eu fui", porque isto implicaria que Ele teria mudado, isto é, passado de potência para Ato. Deus só pode usar o verbo ser no presente. Por isso, quando Moisés perguntou a Deus qual era o seu nome, Deus lhe respondeu "Eu sou aquele que é" (aquele que não muda, que é ato puro).

Também Jesus Cristo ao discutir com os fariseus lhes disse: "Antes que Abraão fosse, eu sou" (Jo. VIII, 58).

E os judeus pegaram pedras para matá-lo porque dizendo eu sou Ele se dizia Deus.

Na ocasião em que foi preso, Cristo perguntou: "a quem buscais ?", e, ao dizerem "a Jesus de Nazaré", ele lhes respondeu:

"Eu sou". E a essas palavras os esbirros caíram no chão, porque era Deus se definindo.
Do mesmo modo, quando Caifás esconjurou que Cristo dissesse se era o Filho de Deus, Ele lhe respondeu:

"Eu sou". E Caifás entendeu bem que Ele se disse Deus, porque imediatamente rasgou as vestes dizendo que Cristo blasfemara afirmando-se Deus.

Deus é, portanto, ATO puro. É o ser que não muda. Ele é aquele que é. Por isso, a verdade não muda. O dogma não muda. A moral não evolui. O bem é sempre o mesmo.A beleza não muda.

Quando os modernistas afirmam que a verdade, o dogma, a moral, a beleza evoluem, eles estão dizendo que Deus evolui, que Ele não é ATO puro. Eles afirmam que Deus é fluxo, é ação, é processo e não um ente substancial e imutável.

É o que afirma hereticamente a Teologia da Libertação. Diz Frei Boff:

"Assim, o Deus cristão é um processo de efusão, de encontro, de comunhão entre distintos enlaçados pela vida, pelo amor." (Frei Boff, A Trindade e a Sociedade, p. 169)

Ou então:

"Assim, Mary Daly sugere compreendermos Deus menos como substância e mais como processo, Deus como verbo ativo (ação) e menos como um substantivo. Deus significaria o viver, o eterno tornar-se, incluindo o viver da criação inteira, criação que, ao invés de estar submetida ao ser supremo, participaria do viver divino." (Frei Boff, A Trindade e a Sociedade, pp. 154-155)

É natural pois que Boff tenha declarado em uma conferência em Teófilo Otono:

Como teólogo digo: sou dez vezes mais ateu que você desse deus velho, barbudo lá em cima. Até que seria bom a gente se livrar dele." (Frei Boff, Pelos pobres, contra a pobreza, p. 54)

IIª Via - Prova da causalidade eficiente

Toda causa é anterior a seu efeito. Para uma coisa ser causa de si mesma teria de ser anterior a si mesma.

Por isso neste mundo sensível, não há coisa alguma que seja causa de si mesma. Além disso, vemos que há no mundo uma ordem determinada de causas eficientes.

Assim, numa série definida de causas e efeitos, o resfriado é causado pela chuva, que é causada pela evaporação, que é causada pelo calor, que é causado pelo Sol. No mundo sensível, as causas eficientes se concatenam às outras, formando uma série em que umas se subordinam às outras: A primeira, causa as intermediárias e estas causam a última. Desse modo, se for supressa uma causa, fica supresso o seu efeito. Supressa a primeira, não haverá as intermediárias e tampouco haverá então a última.

Se a série de causas concatenadas fosse indefinida, não existiria causa eficiente primeira, nem causas intermediárias, efeitos dela, e nada existiria. ora, isto é evidentemente falso, pois as coisas existem. Por conseguinte, a série de causas eficientes tem que ser definida. Existe então uma causa primeira que tudo causou e que não foi causada.

Deus é a causa das causas não causada. Esta prova foi descoberta por Sócrates que morreu dizendo:

"Causa das causas, tem pena de mim". A negação da Causa primeira leva à ciência materialista a contradizer a si mesma, pois ela concede que tudo tem causa, mas nega que haja uma causa do universo.

O famoso físico inglês Stephen Hawkins em sua obra "Breve História do Tempo" reconheceu que a teoria do

Big-Bang (grande explosão que deu origem ao universo, ordenando-o e não causando desordem, como toda explosão faz devido a Lei da entropia) exige um ser criador. Hawkins admitiu ainda que o universo é feito como uma mensagem enviada para o homem. Ora, isto supõe um remetente da mensagem. Ele, porém, confessa que a ciência não pode admitir um criador e parte então para uma teoria gnóstica para explicar o mundo.


O mesmo faz o materialismo marxista. Negando que haja Deus criador do universo, o marxismo se vê obrigado a transferir para a matéria as qualidades da Causa primeira e afirmar, contra toda a razão e experiência, que a matéria é eterna, infinita e onipotente. Para Marx, a matéria é a Causa das causas não causada.

IIIª Via - Prova da contingência

Na natureza, há coisas que podem existir ou não existir. Há seres que se produzem e seres que se destroem. Estes seres, portanto, começam a existir ou deixam de existir. Os entes que têm possibilidade de existir ou de não existir são chamados de entes contingentes. Neles, a existência é distinta da sua existência, assim o ato é distinto da potência. Ora, entes que têm a possibilidade de não existir, de não ser, houve tempo em que não existiam, pois é impossível que tenham sempre existido.

Se todos os entes que vemos na natureza têm a possibilidade de não ser, houve tempo em que nenhum desses entes existia. Porém, se nada existia, nada existiria hoje, porque aquilo que não existe não pode passar a existir por si mesmo. O que existe só pode começar a existir em virtude de um outro ente já existente. Se nada existia, nada existiria também agora. O que é evidentemente falso, visto que as coisas contingentes agora existem.

Por conseguinte, é falso que nada existia. Alguma coisa devia necessariamente existir para dar, depois, existência aos entes contingentes. Este ser necessário ou tem em si mesmo a razão de sua existência ou a tem de outro.

Se sua necessidade dependesse de outro, formar-se-ia uma série indefinida de necessidades, o que, como já vimos é impossível. Logo, este ser tem a razão de sua necessidade em si mesmo. Ele é o causador da existência dos demais entes. Esse único ser absolutamente necessário - que tem a existência necessariamente - tem que ter existido sempre. Nele, a existência se identifica com a essência. Ele é o ser necessário em virtude do qual os seres contingentes tem existência. Este ser necessário é Deus.

5 Vias de São Tomás de Aquino - Parte 3

IVª Via - Dos graus de perfeição dos entes

Vemos que nos entes, uns são melhores, mais nobres, mais verdadeiros ou mais belos que outros.
Constatamos que os entes possuem qualidades em graus diversos. Assim, dizemos que o Rio de Janeiro é mais belo que Carapicuíba. Nessa proposição, há três termos: Rio de Janeiro, Carapicuíba e Beleza da qual o Rio de Janeiro participa mais ou está mais próximo. Porque só se pode dizer que alguma coisa é mais que outra, com relação a certa perfeição, conforme sua maior proximidade, participação ou semelhança com o máximo dessa perfeição.

Portanto, tem que existir a Verdade absoluta, a Beleza absoluta, o Bem absoluto, a Nobreza absoluta, etc.

Todas essas perfeições em grau máximo e absoluto coincidem em um único ser, porque, conforme diz Aristóteles, a Verdade máxima é a máxima entidade. O Bem máximo é também o ente máximo.

Ora, aquilo que é máximo em qualquer gênero é causa de tudo o que existe nesse gênero. Por exemplo, o fogo que tem o máximo calor, é causa de toda quentura, conforme diz Aristóteles. Há, portanto, algo que é para todas as coisas a causa de seu ser, de sua bondade, de sua verdade e de todas as suas perfeições. E a isto chamamos Deus.

Por esta prova se vê bem que a ordem hierárquica do universo é reveladora de Deus, permitindo conhecer sua existência, assim como conhecer suas perfeições. É o que diz São Paulo na Epístola aos Romanos (I,19). E também é por isso que Deus, ao criar cada coisa dizia que ela era boa, como se lê no Gêneses ( I ).

Mas quando a Escritura termina o relato da criação, diz que Deus, ao contemplar tudo quanto havia feito, viu que o conjunto da criação era "valde bona", isto é, ótimo.

Pois bem, se cada parcela foi dita apenas boa por Deus como se pode dizer que o total é ótimo? O total deve ter a mesma natureza das parcelas, e portanto o total de parcelas boas devia ser dito simplesmente bom e não ótimo. São Tomás explica essa questão na Suma contra Gentiles. Diz ele que o total foi declarado ótimo porque, além da bondade das partes havia a sua ordenação hierárquica. É essa ordem do universo que o torna ótimo, pois a ordem revela a Sabedoria do Ordenador. Por aí se vê que o comunismo, ao defender a igualdade como um bem em si, odeia a ordem, imagem da Sabedoria de Deus. Odiando a imagem de Deus, o comunismo odeia o próprio Deus, porque quem odeia a imagem odeia o ser por ela representado. Nesse ódio está a raiz do ateísmo marxista e de sua tendência gnóstica.

Vª Via - Prova da existência de Deus pelo governo do mundo

Verificamos que os entes irracionais obram sempre com um fim. Comprova-se isto observando que sempre, ou quase sempre, agem da mesma maneira para conseguir o que mais lhes convém.

Daí se compreende que eles não buscam o seu fim agindo por acaso, mas sim intencionalmente. Aquilo que não possui conhecimento só tende a um fim se é dirigido por alguém que entende e conhece. Por exemplo, uma flecha não pode por si buscar o alvo. Ela tem que ser dirigida para o alvo pelo arqueiro. De si, a flecha é cega. Se vemos flechas se dirigirem para um alvo, compreendemos que há um ser inteligente dirigindo-as para lá. Assim se dá com o mundo. Logo, existe um ser inteligente que dirige todas as coisas naturais a seu fim próprio. A este ser chamamos Deus.

Uma variante dessa prova tomista aparece na obra "A Gnose de Princeton". Apesar de gnóstica esta obra apresenta um argumento válido da existência de Deus.

Filmando-se em câmara lenta um jogador de bilhar dando uma tacada numa bola, para que ela bata noutra a fim de que esta corra e bata na borda, em certo ângulo, para ser encaçapada, e se depois o filme for projetado de trás para diante, ver-se-á a bola sair da caçapa e fazer o caminho inverso até bater no taco e lançar para trás o braço do jogador. Qualquer um compreende, mesmo que não conheça bilhar, que a segunda seqüência não é a verdadeira, que é absurda. Isto porque à segunda seqüência faltou a intenção, que transparece e explica a primeira seqüência de movimentos. Daí concluir com razão, a obra citada, que o mundo cego caminha - como a flecha ou como a bola de bilhar - em direção a um alvo, a um fim. Isto supõe então que há uma inteligência que o dirige para o seu fim. Há pois uma inteligência que governa o mundo.

Este ser sapientíssimo é Deus.

30 anos depois do atentado Cardeal recorda que a Virgem de Fátima salvou João Paulo II

Roma, 13 Mai. 11 / 04:48 pm (ACI) O Prefeito Emérito da Congregação para as Causas dos Santos no Vaticano, Cardeal José Saraiva Martins, recordou em entrevista concedida à agência do grupo ACI em espanhol, a ACI Prensa, que a Virgem de Fátima, que a Igreja celebra hoje, foi quem salvou o Papa João Paulo II no atentado que sofreu há 30 anos na Praça de São Pedro no dia 13 de maio de 1981.

"Todos recordamos com grande dor o dia 13 de maio de 1981, foi vivido com um grande sentimento de dor, mas também com um grande sentimento de gratidão à Virgem de Fátima que salvou a vida de João Paulo II, ele estava totalmente convencido de que não morreu aquele dia graças à proteção da Virgem de Fátima", assegurou.

O Cardeal disse também à ACI Prensa que o Beato João Paulo II costumava dizer "a Virgem de Fátima desviou a bala que devia me ferir".

Por isso, em 1982, "um ano depois, no aniversário do atentado, o Papa viajou a Fátima para dar a graças (à Virgem) por ter salvado a sua vida e para oferecer-lhe aquela bala que devia tê-lo levado à morte".

Sobre a data da beatificação de João Paulo II, o Cardeal assinalou: "parece lógico, que a beatificação se produza no mês de maio mas por que no 1º de maio? Eu digo que a beatificação de João Paulo II tinha que ter lugar no dia do trabalhador porque João Paulo II antes de abraçar a carreira eclesiástica foi um operário na pedreira".

"A festividade de 1º de maio não foi só a beatificação de um Papa, mas sim de um operário e por isso o Dia do Trabalho (e de São José Operário) era o dia mais indicado para a beatificação do Papa Wojtyla, porque ele foi um grande trabalhador, um grande operário".

O Cardeal afirmou também na entrevista com a ACI Prensa que "é muito importante celebrar a fé da Virgem de Fátima e também recordar e viver aquelas importantes mensagens que esta Virgem branca trouxe não só a Portugal, mas a todo mundo".

"A Virgem é nossa mãe, que veio a Fátima para nos recordar alguns pontos do Evangelho muito importantes", acrescentou.

O Prefeito Emérito comentou que celebra esta festa com muito carinho, que reúne cada ano em seu santuário em Portugal entre 500 000 e 600 000 fiéis, porque "dizem que Fátima é o altar do mundo, mas eu digo que também é a cátedra do mundo, porque a Virgem ensinou e continua ensinando muitas verdades".

10 mandamentos para a paz

A paz começa em casa:

1. Tenha fé e viva a Palavra de Deus, amando o próximo como a si mesmo.

2. Ame-se, confie em si mesmo, em sua família e ajude a criar um ambiente de amor e paz ao seu redor.

3. Reserve momentos para brincar e se divertir com sua família, pois a criança aprende brincando e a diversão aproxima as pessoas.

4. Eduque seu filho através da conversa, do carinho e do apoio e tome cuidado: quem bate para ensinar está ensinando a bater.

5. Participe com sua família da vida da comunidade, evitando as más companhias e diversões que incentivam a violência.

6. Procure resolver os problemas com calma e aprenda com as situações difíceis, buscando em tudo o seu lado positivo.

7. Partilhe seus sentimentos com sinceridade, dizendo o que o que você pensa e ouvindo o que os outros têm para dizer.

8. Respeite as pessoas que pensam diferente de você, pois as diferenças são uma verdadeira riqueza para cada um e para o grupo.
9. Dê bons exemplos, pois a melhor palavra é o nosso jeito de ser.
10. Peça desculpas quando ofender alguém e perdoe de coração quando se sentir ofendido, pois o perdão é o maior gesto de amor que podemos demonstrar.

10 conselhos de Bento XVI aos jovens

1) Conversar com Deus

"Algum de vós poderia talvez identificar-se com a descrição que Edith Stein fez da sua própria adolescência, ela, que viveu depois no Carmelo de Colônia: "Tinha perdido consciente e deliberadamente o costume de rezar". Durante estes dias (de Jornada Mundial da Juventude) podereis recuperar a experiência vibrante da oração como diálogo com Deus, porque sabemos que nos ama e, a quem, por sua vez, queremos amar".

2) Contar-lhe as penas e alegrias

"Abri o vosso coração a Deus. Deixai-vos surpreender por Cristo. Dai-lhe o 'direito de vos falar' durante estes dias. Abri as portas da vossa liberdade ao seu amor misericordioso. Apresentai as vossas alegrias e as vossas penas a Cristo, deixando que ele ilumine com a sua luz a vossa mente e toque com a sua graça o vosso coração.

3) Não desconfiar de Cristo

"Queridos jovens, a felicidade que buscais, a felicidade que tendes o direito de saborear, tem um nome, um rosto: o de Jesus de Nazaré, oculto na Eucaristia. Só ele dá plenitude de vida à humanidade. Dizei, com Maria, o vosso 'sim' ao Deus que quer entregar-se a vós. Repito-vos hoje o que disse no princípio de meu pontificado: Quem deixa entrar Cristo na sua vida não perde nada, nada, absolutamente nada do que faz a vida livre, bela e grande. Não! Só com esta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só com esta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só com esta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta. Estai plenamente convencidos: Cristo não tira nada do que há de formoso e grande em vós, mas leva tudo à perfeição para a glória de Deus, a felicidade dos homens e a salvação do mundo".

4) Estar alegres: querer ser santos

"Para além das vocações de consagração especial, está a vocação própria de todo o batizado: também é esta uma vocação que aponta para um 'alto grau' da vida cristã ordinária, expressa na santidade. Quando encontramos Jesus e acolhemos o seu Evangelho, a vida muda e somos impelidos a comunicar aos outros a experiência própria (.). A Igreja necessita de santos. Todos estamos chamados à santidade, e só os santos podem renovar a humanidade. Convido-vos a que vos esforceis nestes dias por servir sem reservas a Cristo, custe o que custar. O encontro com Jesus Cristo vos permitirá apreciar interiormente a alegria da sua presença viva e vivificante, para testemunhá-la depois no vosso ambiente".

5) Deus: tema de conversa com os amigos

"São tantos os nossos companheiros que ainda não conhecem o amor de Deus, ou procuram encher o coração com sucedâneos insignificantes. Portanto, é urgente ser testemunhos do amor que se contempla em Cristo. Queridos jovens, a Igreja necessita autênticos testemunhos para a nova evangelização: homens e mulheres cuja vida tenha sido transformada pelo encontro com Jesus; homens e mulheres capazes de comunicar esta experiência aos outros".

6) No Domingo, ir à Missa

"Não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e ajudai também os outros a descobri-la. Certamente, para que dela emane a alegria que necessitamos, devemos aprender a compreendê-la cada vez mais profundamente, devemos aprender a amá-la. Comprometamo-nos com isso, vale a pena! Descubramos a íntima riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza: não somos os que fazemos uma festa para nós, mas, pelo contrário, é o próprio Deus vivo que prepara uma festa para nós. Com o amor à Eucaristia redescobrireis também o sacramento da Reconciliação, no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre que a nossa vida comece novamente".

7) Demonstrar que Deus não é triste

"Quem descobriu Cristo deve levar os outros para ele. Uma grande alegria não se pode guardar para si mesmo. É necessário transmiti-la. Em numerosas partes do mundo existe hoje um estranho esquecimento de Deus. Parece que tudo anda igualmente sem ele. Mas ao mesmo tempo existe também um sentimento de frustração, de insatisfação de tudo e de todos. Dá vontade de exclamar: Não é possível que a vida seja assim! Verdadeiramente não".

8) Conhecer a fé

"Ajudai os homens a descobrir a verdadeira estrela que nos indica o caminho: Jesus Cristo. Tratemos, nós mesmos, de conhecê-lo cada vez melhor para poder conduzir também os outros, de modo convincente, a ele. Por isso é tão importante o amor à Sagrada Escritura e, em consequência, conhecer a fé da Igreja que nos mostra o sentido da Escritura".

9) Ajudar: ser útil

"Se pensarmos e vivermos inseridos na comunhão com Cristo, os nossos olhos se abrem. Não nos conformaremos mais em viver preocupados somente conosco mesmo, mas veremos como e onde somos necessários. Vivendo e atuando assim dar-nos-emos conta rapidamente que é muito mais belo ser úteis e estar à disposição dos outros do que preocupar-nos somente com as comodidades que nos são oferecidas. Eu sei que vós, como jovens, aspirais a coisas grandes, que quereis comprometer-vos com um mundo melhor. Demonstrai-o aos homens, demonstrai-o ao mundo, que espera exatamente este testemunho dos discípulos de Jesus Cristo. Um mundo que, sobretudo mediante o vosso amor, poderá descobrir a estrela que seguimos como crentes".

10) Ler a Bíblia

"O segredo para ter um 'coração que entenda' é edificar um coração capaz de escutar. Isto é possível meditando sem cessar a palavra de Deus e permanecendo enraizados nela, mediante o esforço de conhecê-la sempre melhor. Queridos jovens, exorto-vos a adquirir intimidade com a Bíblia, a tê-la à mão, para que seja para vós como uma bússola que indica o caminho a seguir. Lendo-a, aprendereis a conhecer Cristo. São Jerônimo observa a este respeito: 'O desconhecimento das Escrituras é o desconhecimento de Cristo'".

Fonte: opusdei.org.br

http://destrave.cancaonova.com/10-conselhos-de-bento-xvi-aos-jovens/

''Mortificai os vossos membros terrenos''

Um pecado que muito dificulta trilhar o caminho da santificação, é sem dúvida a gula. É o amor desregrado ao comer e ao beber, buscando muito mais o prazer do paladar do que a necessidade de se alimentar. Quando enchíamos demais o prato e não aguentávamos comer tudo, minha mãe dizia que tínhamos "os olhos maior do que o estomago". Assim como outros vícios, a gula tem também causas diversas, e pode ser fuga, mas não deixa de ser um problema moral que precisa ser enfrentado com coragem, fé e luta.

A temperança, que é a virtude oposta à gula, garante à pessoa, saúde, equilíbrio, autocontrole e bem estar. O economista Joelmir Beting disse certa vez que as pessoas podem ser divididas em dois grupos: um dos que passam fome, e outro dos que precisam fazer regime para emagrecer. Tirando o exagero, há uma parcela de verdade nesta afirmação, e isto mostra a falta de temperança. É preciso ter coragem de abrir os olhos. Há em cada um de nós um mecanismo psíquico, fortíssimo, de "compensação", que nos faz buscar desesperadamente a satisfação em alguma coisa, quando sofremos os revezes da vida. A maior parte das vezes essa compensação é buscada, quase que mecänicamente, no sexo, na comida e no dinheiro, de maneira desordenada. É preciso então, mais uma vez, lembrarmos da advertência séria de Jesus: "Vigiai e orai; pois o espírito é forte, mas a carne é fraca" (Mc14,38).

Há uma página belíssima no diário do jovem escoteiro francês, Guy de Larigaudie, que ele chama de "aventuras interiores". Escreve ele: "...devia ser uma mestiça. Tinha os ombros esplêndidos e a beleza animal das mulatas, de lábios grossos e olhos imensos. Era bela, de uma beleza selvagem. Em verdade só havia uma coisa a fazer. Não a fiz. Tornei a montar o cavalo e partir a galope, sem me virar, chorando de desespero e de raiva. Penso que no dia do juízo final, se não tiver outra coisa a apresentar, poderá oferecer a Deus, como flores, todas essas carícias, que por amor Dele eu não quis conhecer" (Estrela de Alto Mar). É o exemplo de uma fuga heróica. Os santos foram pessoas como nós, tentados do mesmo jeito, mas que estavam dispostos a lutar; decidiram lutar contra o pecado "até o sangue", como disse o Apóstolo (Hb 12,4).

São Francisco de Assis , um dia, viu-se obrigado a atirar-se contra os espinhos do roseiral de Assis para que o fogo da paixão fosse apagado pela dor. O grande São Bernardo, de Claraval, um dia jogou-se num lago gelado até o fogo da paixão se acalmar em seus membros. É difícil a luta contra os vícios, mas é necessária e linda. Sem ela não seremos homens autênticos como Deus nos desejou.

O homem "de pé", é aquele que tem uma hierarquia de valores: o espírito acima da razão, e esta acima do corpo. Se é o corpo e suas paixões, que o conduzem, o homem então está de "cabeça para baixo", vive se arrastando como um verme da terra, como disse Michel Quoist, o grande sacerdote e educador dos jovens: "sem a primazia do espírito não há mais homem". Na verdade "poucos são os que merecem o nome de homem". O grande problema de nosso mundo moderno é exatamente este: quanto mais o homem vai apoderando-se da tecnologia e do universo, ao mesmo tempo vai perdendo o domínio de si mesmo. Isto porque ele está de cabeça para baixo; os seus instintos sufocam o seu espírito.

Está escravo dos bens materiais, está escravo da comida e da bebida, está escravo do sexo; e, por isso distorce o sentido de todas as coisas e perde o rumo. Asfixiou o seu espírito! Só há um jeito de sermos homens livres, é lutar contra nós mesmos e conquistarmos a liberdade de filhos de Deus (Rom 8,21). Esta não é uma lei apenas do cristianismo. Antes de sermos cristãos temos que ser homens, conforme a natureza, obedecendo a hierarquia dos valores humanos. Ghandi, o hindu apaixonado por Jesus e pelo Evangelho, dizia que "quando a gula estiver sob controle todos os outros sentidos automaticamente estarão". É por isso que praticava e recomendava tanto o jejum.

O domínio de si mesmo é a mais difícil das artes, e também a mais importante. Quem não é capaz de governar a si mesmo não é capaz de governar os outros, a família e as instituições. Na mesma exortação do "vigiai e orai", Jesus recomenda-nos: "Velai sobre vós mesmos para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso de comer, com a embriaguez e com as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso" (Lc 21,34).E acrescenta: "Vigiai, pois, em todo o tempo, e orai a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem"(36).

E São Paulo faz eco a essas palavras quando escreve aos Colossenses: "Mortificai, pois, os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixões, desejos maus, cupidez e a avareza, que é idolatria" (Cl 3,5).Qual era para São Paulo o sentido da mortificação? Ele afirmava: "Castigo o meu corpo e o mantenho em servidão, a fim de que não aconteça que, tendo pregado aos outros, venha eu mesmo ser reprovado" (1Cor 9,27). Pelo batismo " diz São Paulo " "fomos sepultados com Cristo na sua morte e ressuscitamos dos mortos pela glória do Pai para uma vida nova" (Rom 6,3"6; Col 2,12).

A Bíblia de Jerusalém explica assim essa grande realidade espiritual: "A obra de morte e ressurreição, operada pelo batismo, de maneira instantânea e absoluta no plano místico (sobrenatural) da união com Cristo celestial (Col 2,12"20; 3, 1"4), deve realizar-se de modo lento e progressivo no plano terrestre do velho mundo em que o cristão permanece mergulhado. Já morto em principio, deve ele morrer de fato, "mortificando" dia a dia o "homem velho" do pecado que nele vive".Esse é o sentido da mortificação; realizar a nível terreno (natural) a obra que o batismo já completou a nível místico (sobrenatural); e torna-se, assim, um caminho de santificação. O livro do Eclesiástico nos ensina com sabedoria divina: "Filho, durante a tua vida prova a tua temperança, vê o que é nocivo e não te concedas.Não seja ávido de toda delícia, nem te precipites sobre iguarias, porque na alimentação demasiada está a doença e a intemperança leva à náusea. Muitos morreram por intemperança, mas aquele que se cuida, prolonga a vida" (Eclo 37,27-31).

Além da temperança na comida, na bebida, no que se vê e no que se ouve, é fundamental na busca da própria santificação, a temperança no falar. A palavra tem um poder extraordinário, tanto para gerar o bem quanto para produzir o mal. Muitos já disseram que a palavra pode ser mais destruidora do que os canhões. Não é à toa que um dos mandamentos é: "Não levantar falso testemunho". Jesus disse que seremos julgados também pelas palavras que dissermos: "Eu vos digo, no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado"(Mt 12,36). A nota da Bíblia de Jerusalém diz que "não se trata simplesmente de palavras "ociosas", mas de palavras perversas; em suma, calúnia" .
Há uma lógica em que sejamos julgados pelas nossas palavras, pois elas espressam o que há no nosso interior. Jesus mesmo ensina, que "a boca fala daquilo que está cheio o coração" (34). Isto nos ensina que só teremos lábios puros se o coração for puro. Assim como o mau hálito, muitas vezes, é sinal de que o estômago não está bem, as más palavras espelham o mal estado do espírito. E como as palavras más são destruidoras nas comunidades!... São Paulo recomendava vivamente aos Efésios: "Nenhuma palavra má saia de vossas bocas, mas só boas palavras que sirvam para edificação e que sejam benfazejas aos que a ouvem" (Ef 4,29).E Jesus, certamente pensando no perigo das calúnias, acusações, blasfêmias, etc., proibia todo julgamento, fofocas e comentários que ferem a caridade. "Não julgueis para que não sejais julgados, pois com a mesma medida com que medirdes sereis medidos" (Mt 7,102).
É tão grande o efeito de nossas palavras na vida das outras pessoas, que São Tiago considera a temperança no falar um critério de perfeição. "Se alguém não cair por palavras, este é um homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo" (Tg 3,12). E o apóstolo faz três belas comparações:

1. ''governamos todo o corpo vigoroso do cavalo colocando um pequeno freio na sua boca;

2. "governamos os grandes navios, mesmo quando agitados pelos fortes ventos, com um pequeno leme à vontade do piloto e,

3. "uma pequena chama de um fósforo pode incendiar uma grande floresta. Os livros sapienciais da bíblia estão repletos de ensinamentos sobre o controle da língua. Não ser apressado em responder: "Escuta com doçura o que te dizem a fim de compreender, darás então uma resposta sábia e apropriada" (Eclo 5,13).Falar com paz e justiça: "Não te afastes jamais de uma linguagem pacífica e equitativa"( 5,12).É melhor calar"se do que falar o que não deve: "Se tiveres inteligência, responde a outrem, senão põe a mão sobre a tua boca, para que te não suceda ser surpreendido e dizer uma palavra indiscreta, e venhas te envergonhar dela" (5,14).Quando a gente diz alguma coisa que não deve, acaba ouvindo o que não quer.

É preciso muito cuidado com a língua; "pois sendo inflamada pelo inferno incendeia o curso de nossa vida" ( Tg 3,6), nos lembra são Tiago. "Feliz o homem que não pecou por suas palavras" (Eclo14,1).Quantas brigas e até mortes por causa das palavras! "Uma querela precipitada acende o fogo; a presteza na disputa derrama sangue, e a língua que presta falso testemunho causa a morte" (Eclo 28,13).O peixe morre pela boca e muitos pelas suas palavras."A chicotada faz um ferimento, porém uma língua má quebra os ossos.Muitos homens morreram pela espada, mas não tanto quanto os que pereceram por sua própria língua" (Eclo 28,21-22)."Faze uma balança para pesar as tuas palavras, e para a tua boca um freio bem ajustado" (28,29).O livro dos Provérbios diz que: "Não pode faltar o pecado num caudal de palavras, quem morde seus lábios é um homem prudente"( Pr 10,19).

Do Livro: "Sede Santos!" Prof. Felipe Aquino

"Libertos de uma tristeza hereditária"

Deus realiza em nós uma verdadeira cura interior, passando por toda a nossa história de salvação até chegar aos nossos antepassados. Muitas vezes a raiz da amargura, melancolia e angústia está radicada em nossa história.

Herdamos os genes físicos de nossos pais, como a cor dos olhos, do cabelo, da pele, mas com eles recebemos também toda uma herança psicológica e espiritual vinda dos nossos antepassados.

Fatos que aconteceram com os nossos pais, avós, bisavós, tataravôs, envolvendo ódio, vingança, morte, escravidão, roubo, crueldade, grandes injustiças... Ora eles foram os autores, ora eles foram as vitímas. Toda essa hereditariedade psicológica acaba sendo passada junto com a própria hereditariedade física. Antepassados nossos podem ter praticado ocultismo,

magia negra, necromancia, vários tipos de evocação e pactos com espíritos, cultos diabólicos e outros contatos mais ou menos diretos com os espíritos malignos.

Essa hereditariedade nos atinge no mais íntimo do nosso ser e nos leva a um estado de tristeza que muitas vezes não entendemos. Você não foi diretamente marcado, mas pode acabar carregando as conseqüências da ferida que marcou algum dos seus antepassados. Muitas pessoas acabam recebendo de seus antepassados tendências à depressão, ao furto, ao alcoolismo, ao homicídio, ao homossexualismo, à crueldade...

É toda uma carga hereditária que podemos receber dos nossos antepassados.

É uma herança de pecado do qual não temos culpa, mas carregamos as conseqüências em nossa vida concreta. O maravilhoso é que tudo pode ser mudado pela intervenção de Deus.

É por isso que precisamos buscar com afinco essa intervenção. A nossa árvore genealógica pode ser mergulhada na redenção de Cristo, pela oração e especialmente pela oração por excelência: a Santa Missa Não há nada que não possa ser mudado pela oração. A redenção de Cristo atinge eficazmente o nosso passado.

Portanto, se queremos de fato e buscamos com sinceridade a cura das feridas e marcas que recebemos, por herança, dos nossos antepassados, podemos ser completamente curados e libertos. Por um lado, é imprescindível a intervenção de Deus; mas, por outro, é indispensável a nossa abertura e a nossa decisão de buscar a cura.

Seu irmão,

Monsenhor Jonas Abib

Como as almas separadas do corpo conhecem?

Após a morte, a inteligência subsiste e passa a ter um modo de se exercer bastante diferente daqui na terra, pois que ela é chamada a contemplar em sua essência as realidades imateriais como Deus. Convém-lhe assim conhecer vendo o que de si é inteligível, da mesma maneira que as substâncias separadas. Deus infunde espécies na alma da mesma maneira que o faz com os anjos. A alma tem parte nelas, embora de modo menos elevado. Por meio destas espécies a alma conhece o que lhe convém de maneira direta e intuitiva. Este conhecimento ultrapassa em qualidade e em segurança tudo que existe na terra, tanto por causa da superioridade da luz divina, quanto por causa da ausência de possibilidade de erro oriunda dos fantasmas da imaginação.

À guisa de ilustração, imaginemos alguém que, em virtude de acidente, perde os olhos. Deixará imediatamente de enxergar. No entanto, a capacidade virtual de poder ver, nele subsiste. E subsiste na alma, não no corpo, obviamente. Se por algum prodígio da medicina, puder ser-lhe restaurada a vista, passará novamente a enxergar, pois a potência virtual da vista reencontrará o elemento corporal que lhe permite exercer-se, que são os olhos.

4.1 Parece que a inteligência humana conhecerá sempre por imagens

Uma dificuldade surge, entretanto a este respeito.

É próprio da inteligência humana conhecer as realidades espirituais a partir de suas imagens sensíveis. Não é esta inteligência, entretanto, a mesma natureza que a inteligência dos anjos, os quais não estando unidos naturalmente a um corpo, conhecem diretamente a essência das coisas por meio das formas inteligíveis infusas no momento em que são criados. Ora, Deus move cada natureza segundo seu próprio modo de ser. Assim sendo, parece que a inteligência humana conhecerá sempre com base em imagens.

Contudo, quando se fala da visão do Criador, ao menos no que concerne esta visão direta e face-a-face que chamamos de visão beatífica, é preciso render-se à evidência de que nenhuma imagem sensível pode permitir ao homem conhecer sua inteligibilidade. Deus se torna inteligível, sem o concurso de qualquer ser intermediário criado. Trata-se de um modo novo de conhecer onde parece que o intelecto não tem lugar.

4.2 Funções e influências da alma separada

Quais as funções que a alma neste estado de separação pode, portanto, exercer e que influências pode sofrer?

4.2.1 Funções que pode exercer.

A alma continua viva. A Igreja já condenou a hipótese da inconsciência da alma após a morte ([1]).

Na outra vida, antes da ressurreição a vida da alma é parecida com a do Anjo, embora com diferenças. O anjo, por exemplo, se move "instantaneamente"; o homem, não. O homem não pode seguir o voo de seu pensamento, nem de sua vontade, como o faz o espírito angélico. Algo disso, no entanto pode fazer. Por concessão de Deus também.

4.2.2 Atividades sensitivas

Atividades que requeiram as potências sensitivas externas (corpo), não as pode ter a alma separada do corpo. Com a morte, a alma só conserva em raiz, virtualmente ([2]) as potências sensitivas, pois que operam a partir de seu corpo (sentidos). Por exemplo, não poderá mais conhecer uma árvore concreta já vista em sua peregrinação terrena ou ainda a conhecer depois. Só pode ter noção da ideia universal de árvore (aplicável, portanto, a todas as árvores do mundo).

4.2.3 Atividades espirituais

Outro aspecto entretanto é no tocante à atividade espiritual, ou funcionamento psicológico, que veremos a seguir.


5. Funções intelectivas da alma separada

5.1. Conhecimentos já havidos ou acrescidos

a) A alma separada do corpo conserva todos os conhecimentos intelectuais adquiridos anteriormente durante sua vida neste mundo ([3])
b) Vê-se e conhece-se a si mesma de modo perfeito ([4]).

Conhecimento com alegria superabundante para as almas justas.

c) Conhece perfeitamente as demais almas separadas, o que lhe era vedado enquanto unida a seu corpo. Tudo por conhecimento natural([5]).

Conhece também aos anjos, no entanto, não por conhecê-los por alguma espécie inteligível abstrata, pois que eles são superiores (mais "simples"). O conhecimento que a alma tem dos anjos lhe advém, sim, do conhecimento de semelhanças impressas na alma por Deus, acessíveis às almas separadas ([6]).

d) Em virtude das espécies inteligíveis infundidas

naturalmente por Deus, têm as almas separadas um conhecimento natural, embora imperfeito e geral, de todas as coisas naturais. Isto traz um aumento enorme do que se poderia chamar das ciências naturais da alma separada ([7]).

e) Em virtude destas mesmas espécies naturais infundidas por Deus, pode a alma separada conhecer um enorme número de coisas. Não todas, mas aquelas com as quais tiver determinado relacionamento, por algum modo, seja por ter delas conhecimento anterior (ciência), por afeto (amigo, parente), seja por inclinação natural (semelhança de vocação) etc. Tudo, por determinação divina ([8]).

f) O conjunto todo destes conhecimentos proporciona à alma separada, além das idéias infundidas por Deus uma altíssima ideia de Deus enquanto Autor da ordem natural, pois grande número de perfeições divinas reflete-se na própria substância das almas separadas, além das demais coisas que conhece naturalmente por infusão divina.

Todos estes conhecimentos dizem respeito tanto às almas dos justos, quanto à dos precitos. Nenhum deles transcende a ordem puramente natural (naquele estado), sendo algo que pede e exige psicologicamente o estado próprio da separação. Para as almas boas será motivo de regozijo; para as outras, ocasiões suplementares de tormentos e decepções.

5.2. Ciência adquirida permanece na alma separada?

Baseando-se em São Jerônimo: "Aprendamos na terra aquilo cujo conhecimento persevere em nós até o céu" ([9]), S. Tomás declara que a ciência, na medida em que está no intelecto (e ele demonstra que está principalmente nele), permanece na alma separada.

5.3. Dificuldade levantada por S. Tomás: se assim for, um homem não tão bom poderá saber mais do que um mais virtuoso. Responde ([10]): Pode ser, assim como poderá haver maus de estatura maiores que bons; mas, diz ele, isso quase não tem importância, em comparação com as outras prerrogativas que os mais virtuosos terão.

5.4. Almas separadas conhecem o que se passa na terra?

Podem as almas separadas do corpo conhecer o que se passa na terra?

São Tomás começa, a priori, negando esta hipótese. Cita S. Gregório: "Os mortos não sabem como está organizada a vida daqueles que, depois deles, vivem na carne; a vida do espírito é bem diferente da vida da carne. Assim como as coisas corpóreas e as incorpóreas diferem em gênero, também se distinguem pelo conhecimento ([11])".

No tocante aos bem-aventurados, no entanto, S. Gregório realça ([12]) que "Não se deve pensar a mesma coisa a respeito da alma dos santos. Para aquelas, com efeito, que vêem por dentro a claridade de Deus todo-poderoso, não se deve absolutamente acreditar que reste fora alguma coisa que ignorem".

Opinião também contestada por Santo Agostinho ["Minha mãe que tanto fez por mim na terra, depois não me apareceu nunca mais"], reproduzida por São Tomás ([13]).

São Tomás, no entanto, acaba concluindo que "parece mais provável que as almas dos santos, que veem Deus, conheçam tudo o que aqui acontece".

Ele enuncia três observações que enriquecem o tema ([14]):

5.4.1 Falecidos podem preocupar-se com coisas do mundo?

Os mortos podem preocupar-se das coisas do mundo, ainda que as ignorem concretamente. Da mesma maneira que quando rezamos pela alma de um falecido, sem saber se está efetivamente no purgatório ou não;

5.4.2. Conhecimento por informações recebidas

Podem tomar conhecimento das coisas deste mundo por informações que lhes cheguem seja pelos anjos, seja pelos demônios ou ainda por divina revelação, especialmente por algum fato que lhes diga mais especialmente respeito (conhecidos, familiares);

5.4.3. Conhecimento por aparições

Por especial permissão divina podem auferir conhecimento por outras almas, diretamente ou por meio de anjos.

RIDDER, Guy de. O conhecimento da alma separada do corpo. Centro Universitário Italo Brasileiro - Curso de Pós-Graduação em Teologia Tomista. São Paulo, 2007. p.9-11.

Guy de Ridder

[1] Cf DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral, São Paulo: Paulinas/Loyola, 2007, p. 1238.

[2] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,77,7 - 89,5; e Suplemento 70,I-2 em ROYO MARIN, O.P., Antonio. Teologia de la Salvación. Madri: BAC, 1965, p. 178

[3] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,89-5-6

[4] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,88,I c; e I,89,2; SCG III,42-46; De anima, a.16 em ROYO MARIN, O.P., Antonio. Teologia de la Salvación. Madri: BAC, 1965, p. 180

[5] Cf. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,89,2

[6] Cf. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,89,1,3; 2,2;3

[7] Cf. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,89,3,c e 4

[8] Cf. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,89,4; 57,2

[9] Cf Epístolas, 53, al.103, em AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I, 89, 5, 2

[10] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I, 89,6,2

[11] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,89,8

[12] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I, 89,8,3

[13] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I, 89,8,3

[14] Cf AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, São Paulo: Loyola, 2002, I,89,8,3

O PURGATÓRIO NA BIBLIA

Muitos me perguntam onde está na Bíblia o Purgatório? Ele é uma exigência da razão e mesmo da caridade de Deus por nós. A palavra “Purgatório” não existe na Bíblia, foi criada pela Igreja, mas a realidade, o “conceito doutrinário” deste estado de purificação existe amplamente na Sagrada Escritura como vamos ver. A Igreja não tem dúvida desta realidade por isso, desde o primeiro século reza pelo sufrágio das almas do Purgatório.
1 – São Gregório Magno (†604), Papa e doutor da Igreja, explicava o Purgatório a partir de uma palavra de Jesus: “No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo que se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,31). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro” (Dial. 41,3). O pecado contra o Espírito Santo, ou seja a pessoa que recusa de todas as maneiras os caminhos da salvação, não será perdoado nem neste mundo, nem no mundo futuro. Mostra o Senhor Jesus, então, neste trecho, implicitamente, que há pecados que serão perdoados no mundo futuro, após a morte.

2 – O ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus do Antigo Testamento; cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus. Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. “Então encontraram debaixo da túnica de cada um dos mortos objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, coisas proibidas pela Lei dos judeus. Ficou assim evidente a todos que haviam tombado por aquele motivos… puseram-me em oração, implorando que o pecado cometido encontrasse completo perdão… Depois [Judas] ajuntou, numa coleta individual, cerca de duas mil dracmas de prata, que enviou a Jerusalém para que se oferecesse um sacrifício propiciatório. Com ação tão bela e nobre ele tinha em consideração a ressurreição, porque, se não cresse na ressurreição dos mortos, teria sido coisa supérflua e vã orar pelos defuntos. Além disso, considerava a magnífica recompensa que está reservada àqueles que adormecem com sentimentos de piedade. Santo e pio pensamento! Por isso, mandou oferecer o sacrifício expiatório, para que os mortos fossem absolvidos do pecado” (2Mc 12,39-45).

O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas: “Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado”. (2 Mac 12,44s) .Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé. Cometeram uma falta que não foi mortal.

Fica claro no texto de Macabeus que os judeus oravam pelos seus mortos e por eles ofereciam sacrifícios, e que os sacerdotes hebreus já naquele tempo aceitavam e ofereciam sacrifícios em expiação dos pecados dos falecidos e que esta prática estava apoiada sobre a crença na ressurreição dos mortos. E como o livro dos Macabeus pertence ao cânon dos livros inspirados, aqui também está uma base bíblica para a crença no Purgatório e para a oração em favor dos mortos.

3 – Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E S. Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos.

4 – Na passagem de Mc 3,29, também há uma imagem nítida do Purgatório:”Mas, se o tal administrador imaginar consigo: ‘Meu senhor tardará a vir’. E começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar (…) e o mandará ao destino dos infiéis. O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes.” (Lc 12,45-48). É uma referência clara ao que a Igreja chama de Purgatório. Após a morte, portanto, há um “estado” onde os “pouco fiéis” haverão de ser purificados.
5 – Outra passagem bíblica que dá margem a pensar no Purgatório é a de (Lc 12,58-59): “Ora, quando fores com o teu adversário ao magistrado, faze o possível para entrar em acordo com ele pelo caminho, a fim de que ele não te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor te ponha na prisão. Digo-te: não sairás dali, até pagares o último centavo.”

O Senhor Jesus ensina que devemos sempre entrar “em acordo” com o próximo, pois caso contrário, ao fim da vida seremos entregues ao juiz (Deus), nos colocará na “prisão” (Purgatório); dali não sairemos até termos pago à justiça divina toda nossa dívida, “até o último centavo”. Mas um dia haveremos de sair. A condenação neste caso não é eterna. A mesma parábola está´ em Mt 5, 22-26: “Assume logo uma atitude reconciliadora com o teu adversário, enquanto estás a caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo” . A chave deste ensinamento se encontra na conclusão deste discurso de Jesus: “serás lançado na prisão”, e dali não se sai “enquanto não pagar o último centavo”.

6 – A Passagem de São Pedro 1Pe 3,18-19; 4,6, indica-nos também a realidade do Purgatório:”Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados (…) padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos na prisão, aqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes (…).” Nesta “prisão” ou “limbo” dos antepassados, onde os espíritos dos antigos estavam presos, e onde Jesus Cristo foi pregar durante o Sábado Santo, a Igreja viu uma figura do Purgatório. O texto indica que Cristo foi pregar “àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”. Temos, portanto, um “estado” onde as almas dos antepassados aguardavam a salvação. Não é um lugar de tormento eterno, mas também não é um lugar de alegria eterna na presença de Deus, não é o céu. È um “lugar” onde os espíritos aguardavam a salvação e purificação comunicada pelo próprio Cristo.

Do livro: Purgatório. O que a Igreja ensina.
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.comb.br

Purificação necessária para entrar no Céu

Sabemos que a Igreja Católica é una. É o que rezamos no Credo.

Entretanto, os membros da Igreja não estão todos aqui, entre nós, mas em lugares diversos, como diz o Concílio Vaticano II. Alguns "peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros, finalmente, são glorificados" (Lumen Gentium, 49).

Entre a terra e o Céu não é raro acontecer, no itinerário da alma fiel, um estágio intermediário de purificação. Segundo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, por aí passam "os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão perfeitamente purificados".

Por isso "passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu" (nº 1030).

Esse estado de purificação nada tem a ver com o castigo dos condenados ao Inferno, pois as almas do Purgatório têm a certeza de haver conquistado o Céu, mesmo que sua entrada ali tenha sido adiada por causa de seus resíduos de pecado.

A primeira epístola aos Coríntios faz referência ao exame a que serão submetidos os cristãos, os quais, havendo recebido a Fé, devem continuar em si a obra de sua santificação. Cada um será examinado no respeitante ao grau de perfeição que atingiu: "Se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá.

O dia (do julgamento) demonstrá- lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo" (1Cor 3, 12-15). "Ele será salvo", diz o Apóstolo, excluindo o fogo do Inferno, no qual ninguém pode ser salvo, e se referindo ao fogo temporário do Purgatório.

Comentando este e outros trechos da Sagrada Escritura, a Tradição da Igreja nos fala do fogo destinado a limpar a alma, como explica São Gregório Magno em seus Diálogos: "Com relação a certas faltas leves, é necessário crer que, antes do Juízo, existe um fogo purificador, como afirma Aquele que é a Verdade, ao dizer que, se alguém pronunciou uma blasfêmia contra o Espírito Santo, essa pessoa não será perdoada nem neste século nem no futuro (Mt 12, 31). Por essa frase, podemos entender que algumas faltas podem ser perdoadas neste século, mas outras no século futuro".

Por que existe o Purgatório?
Será Deus tão rigoroso a ponto de não tolerar nem mesmo a menor imperfeição, limpando-a com penas severas? Esta pergunta facilmente pode nos vir à mente.

Em primeiro lugar, devemos nos lembrar desta verdade: depois de nossa morte, não seremos julgados segundo nossos próprios critérios, pois "o que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração" (1Sm

16, 7). Estaremos diante de um Juiz sumamente santo e perfeito, e em seu Reino "não entrará nada de profano" (Ap 21, 27). Com efeito, na presença de Deus, de sua Luz puríssima, a alma percebe em si mesma qualquer pequeno defeito, julgando- se, ela mesma, indigna de tal majestade e grandeza. Santa Catarina de Gênova, grande mística do século XV, deixou uma obra muito profunda sobre a realidade do Purgatório e do Inferno.

Explica ela o seguinte: "Digo mais: no concernente a Deus, vejo que o Paraíso não tem portas e ali pode entrar quem quiser, pois Deus é todo misericórdia e seus braços estão sempre abertos para nos receber na glória; mas a divina Essência é tão pura - infinitamente mais pura do que podemos imaginar - que a alma, vendo nela mesma a menor das imperfeições, prefere atirar-se em mil infernos a aparecer suja na presença da divina Majestade. Sabendo então que o Purgatório está criado para a purificar, ele mesma se joga nele e encontra ali grande misericórdia: a destruição de suas faltas".

Essas manchas, a serem purificadas na outra vida, o que são? São os restos de apego exagerado às criaturas, ou seja, as imperfeições, e os pecados veniais, bem como a dívida temporal dos pecados mortais já perdoados no Sacramento da Reconciliação.

Tudo isso diminui na alma o amor de Deus.

Por causa dessas afeições desregradas se estabelece um estado de desordem em nosso interior, afastando- nos do Mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas.

Essa é a causa pela qual, antes de permitir a uma alma subir até a glória celestial, "a justiça de Deus exige uma pena proporcional que restabeleça a ordem perturbada" (Suma Teológica, Supl. q. 71, a. 1) E a alma se sujeita ao castigo do Purgatório com alegria, em plena conformidade com a vontade do Senhor.

Seu único desejo é ver-se limpa, para poder configurar-se com Cristo.

As almas nesse estado "purificamse", diz São Francisco de Sales, "voluntariamente, amorosamente, porque assim Deus o quer" e "porque estão certas de sua salvação, com uma esperança inigualável".

A pena do Purgatório

As dores infligidas nesse local de purificação são "tão intensas que a menor pena do Purgatório ultrapassa a maior desta vida" (Suma Teológica, Supl., q. 71, a. 2). Mesmo assim, pondera São Francisco de Sales, "o Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, pois as chamas nele existentes são chamas de amor".

Mas como entender que esse terrível sofrimento seja transpassado de amor? Na verdade, o maior tormento das almas do Purgatório - a "pena de dano" - é causado precisamente pelo amor. Essa pena consiste no adiamento da visão de Deus. Criado para amar e ser amado, o homem, ao abandonar esta terra, descobre a inefável beleza da Luz Divina e deseja correr para Ela com todas as suas forças, como o cervo sedento corre em direção à fonte das águas. Contudo, vendo em si o defeito do pecado, fica privado temporariamente daquela presença tão pura.

Afastada, assim, d'Aquele que é a suprema e única felicidade, a alma sente um padecimento incalculável.

Para nós, que ainda somos peregrinos neste vale de lágrimas, é difícil entender a imensidade dessa dor. Vivemos sem ver a Deus, embora n'Ele creiamos. Somos como cegos de nascimento, pois nunca vimos o Sol de Justiça, que é Deus; embora sintamos seu calor, não podemos fazer idéia de seu resplendor e grandeza.

Entretanto, as almas benditas do Purgatório, logo após terem abandonado o corpo inerte, discerniram a inefável e puríssima beleza de Deus, mas não podem possuí-la imediatamente. Santa Catarina de Gênova usa uma expressiva metáfora para explicar essa dor: "Suponhamos que, no mundo inteiro, exista apenas um pão para matar a fome de todas as criaturas, e que basta olhar para esse pão para ficarem satisfeitas.

Por sua natureza, o homem saudável tem o instinto de se alimentar.

Imaginemos que ele seja capaz de se abster dos alimentos sem morrer, sem perder a força e a saúde, mas aumentando cada vez mais a fome.

Ora, sabendo que só aquele pão pode saciá-lo e que não poderá matar sua fome enquanto não o alcançar, ele sofre sacrifícios insuportáveis, os quais serão tanto maiores quanto mais longe ele estiver do pão".

Apesar de tudo, as almas do Purgatório têm a certeza de que um dia poderão se saciar de modo pleno com esse Pão da Vida, que é Jesus, nosso amor. E por isso seu sofrimento é em tudo diferente do tormento dos condenados ao Inferno, os quais nunca poderão se aproximar da Mesa do Reino dos Céus.

Esperança e desespero, eis a diferença fundamental entre esses dois lugares.

Disposição das almas no Purgatório

Por isso, há nas almas do Purgatório um matiz de alegria no meio da dor. De forma brilhante, explica- o o Papa João Paulo II, na alocução de 3 de julho de 1991: "Mesmo que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, pois sabe que pertence para sempre ao seu Deus".

E Santa Catarina de Gênova afirma: "Estou certa de que em nenhum outro lugar, excetuando o Céu, o espírito pode achar uma paz semelhante à das almas do Purgatório".

Isso ocorre porque a alma se fixa na disposição em que se encontra na hora da morte, ou seja, contra ou a favor de Deus, pois a liberdade humana termina com a morte. E tendo falecido na amizade de Deus, a alma do Purgatório se adapta com docilidade à sua santa vontade. Daí conservar a paz em meio a terríveis sofrimentos.

Todos acham melhor fazer um esforço para evitá-lo. Outros, porém, sem se oporem aos anteriores, enfrentam o problema com uma ousada confiança no amor misericordioso do Senhor.

Santa Teresa de Jesus, por exemplo, diz com veemência: "Esforcemo- nos, fazendo penitência nesta vida. Como ser á suave a morte de quem a tiver feito por todos os seus pecados, e assim não precisar ir para o Purgatório!" Já sua discípula, Santa Teresinha do Menino Jesus, formula de modo surpreendente sua atitude, se nele caísse: "Se eu for para o Purgatório, ficarei muito contente; farei como os três hebreus na fornalha, caminharei entre as chamas cantando o cântico do amor".

Uma atitude não contradiz a outra, mas ambas se completam, e, mesmo se tivermos de passar por esse lugar tão doloroso, tenhamos uma confiança sem limites na bondade divina.

De qualquer modo, a Santa Igreja coloca maternalmente à nossa disposição as indulgências, para nos poupar das penas do Purgatório. Mas este tema pode ficar para outro artigo.

Ajudemos as almas benditas

Não devemos pensar só no nosso destino pessoal, mas também nos perguntarmos como podemos ajudar aquelas almas que já estão à espera da libertação. Elas não podem fazer nada por si, pois estão impossibilitadas de alcançar méritos, e dependem de nós. Interceder por elas é uma belíssima e valiosa obra de misericórdia: de certo modo, não há ninguém mais carente do que elas.

O costume de rezar pelas almas dos falecidos vem do Antigo Testamento.

Também diversos Padres da Igreja promoveram essa prática, como São Cirilo de Jerusalém, São Gregório de Nissa, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. No século XIII, o Concílio de Lyon ensinava: "As almas são beneficiadas pelos sufrágios dos fiéis vivos, quer dizer, o sacrifício da Missa, as orações, esmolas e outras obras de piedade, as quais, segundo as leis da Igreja, os fiéis estão acostumados a oferecer uns pelos outros".

Como é bela a devoção às benditas almas do Purgatório! É agradável a Deus e nos beneficia também, levando-nos à verdadeira dimensão cristã da existência, fazendo-nos viver em contato e comunhão com o sobrenatural, e com o futuro, no sentido mais pleno da palavra. Como essas pobres almas nos ficarão agradecidas ao receber nosso auxílio! Poderão ser nossos parentes, ou até mesmo nossos pais. Poderá ser alguém que não conhecemos, e que nos dará uma afetuosa acolhida na eternidade. No Céu, e enquanto ainda estiverem no Purgatório, elas rezarão por nós, com todo o empenho, pois Deus lhes dá essa possibilidade.

Concluindo, gostaria de fazer ao prezado leitor uma proposta: reze por essas almas necessitadas, ofereça- lhes Missas, dê esmolas por elas, faça sacrifícios e consiga que outras pessoas se tornem devotas fervorosas das almas benditas.

Sabe quem será o maior beneficiado? Você mesmo!

Fontes documentais sobre o Purgatório
A doutrina católica sobre o Purgatório foi definida em especial no Concílio de Florença (1438-1445) e no de Trento (1545-1563), com base em textos da Escritura (2Mc 12,42-46; 1Cor 3,13-15) e da Tradição, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (n.1030-1031).

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, aborda a questão em seu número 50: "Orações pelos defuntos, culto dos santos".

Em sua solene profissão de fé intitulada Credo do Povo de Deus, feita em 30 de junho de 1968, o Papa Paulo VI inclui as almas "que se devem ainda purificar no fogo do Purgatório" (n. 28).

O Papa João Paulo II refere- se ao Purgatório em vários documentos: - Mensagem ao Cardeal Penitenciário-Mor de Roma, 20/3/98; - Carta ao Bispo de Autum, Châlon e Mâcon, Abade de Cluny, 2/6/98; - Audiência Geral de 22/7/98; - Audiência Geral de 4/8/99; - Mensagem à Superiora Geral do Instituto das Irmãs Mínimas de Nossa Senhora do Sufrágio, 2/9/2002.

(Revista Arautos do Evangelho, Nov/2006, n. 59, p. 34 a 37)