domingo, 15 de janeiro de 2012

O Silêncio de Maria

Como entender o silêncio de Maria?

Ela sempre soube ouvir e acatar a vontade de Deus e, a partir da Anunciação, aceitou o seu chamado, no silêncio.

Não saiu gritando aos quatro ventos que seria a Mãe do Filho de Deus e que tinha sido a escolhida; afinal de contas, não foi isso que Deus havia lhe pedido.

Esse acontecimento nos faz refletir, pois precisamos buscar a sabedoria do silêncio e da alegria íntima e verdadeira com Deus.

Maria não sentiu orgulho, nem vaidade, para contar esse grande acontecimento. Seus sentimentos eram outros. Tudo era um mistério e somente Deus poderia revelá-lo.

Ela, quando voltou da casa de sua prima Isabel, não contou nada do acontecido nem para José, seu noivo e futuro marido.

Você já imaginou a angústia dela e a dúvida de José?

Maria silenciou. Sabia que somente Deus poderia desvendar este mistério escondido no seu silêncio.

E quanto à mãe de Maria? Será que ela soube da Anunciação nesta ocasião?

Certamente não. Seria possível que, na sua enorme emoção contasse ao menos para um parente próximo, e este a outro e, assim por diante, e dessa forma todos viriam a saber e nada entender.

Era melhor o silêncio, que também não seria entendido, mas que não poderia ser contestado.

Maria se cala e Deus fala...

"José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados."1

Maria é esposa e, como tal, silencia suas vontades em favor de José.

"As mulheres sejam submissas aos maridos, como ao Senhor. Pois o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual ele é o Salvador. Por outro lado, como a Igreja se submete a Cristo, que as mulheres também se submetam em tudo, a seus maridos."

"Durante a instrução, a mulher fique escutando em silêncio, com toda a submissão. Que ela não ensine, nem mande no homem, mas fique em silêncio."

E é José quem determina o que é preciso fazer e como fazer, porém com respeito e muito amor.

"Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela... É assim que os maridos devem amar suas esposas, como amam seu próprio corpo...

Deus, na intenção de proteger seu Filho, dava ordens a José, a cabeça da família, o protetor e guardião da Sagrada Família, e Maria obedecia em silêncio.

Hoje em dia tudo é tão diferente!

Parece antiquado, ultrapassado essa maneira de agir de Maria.

Mas será que o comportamento dos casais de hoje é melhor, é salutar e enriquecedor dentro do lar, no relacionamento entre esposos e filhos?

A mulher moderna sabe silenciar? Sabe acatar? Ou não sabe nem ouvir?

Pobre dos homens! Perderam a sua identidade!

Como se comportar com mulheres tão autoritárias, auto-suficientes e independentes?

Onde está o silêncio de Maria nas mulheres de hoje?

O feminismo passou à frente da feminilidade e da fragilidade do ser mulher. Como o homem deve se comportar diante dessa falsa representação?

"Maridos, comportai-vos sabiamente no vosso convívio com as vossas mulheres, pois são de um sexo mais fraco... Tratai-as com todo respeito..."

Mas... a mulher se apresenta à frente do silêncio e o marido perde o controle da situação, não sabe como agir.

O silêncio é um tesouro que temos guardado dentro de nós que vale mais que diamantes.

Muitas vezes ele vale a própria vida, a felicidade, o amor.

Maria, mesmo nas suas dificuldades, sabia silenciar, não reclamava, não murmurava, simplesmente silenciava. E nesse seu silêncio, falava com Deus, rezava e Dele recebia o consolo.

Na alegria, silenciava e nesse silêncio de felicidade glorificava a Deus.

"Jesus foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele."

Maria e José, juntamente com Jesus que estava com doze anos, foram a Jerusalém para a festa da Páscoa. Terminados os dias da festa, Maria e José voltaram para Nazaré e Jesus ficou em Jerusalém sem que eles percebessem. Pensavam que Jesus pudesse estar à frente ou atrás da caravana com amigos, porém quando chegaram não acharam o menino.

Voltaram e O encontraram no Templo e Maria lhe disse: "Filho, porque agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos angustiados, à tua procura!"7

Jesus parece responder o óbvio: "Porque me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?"

Maria e José não compreenderam, mas silenciaram.

E Jesus, como Filho obediente e submisso a seus pais, voltou com eles para Nazaré, em silêncio.

"Sua mãe guardava todas estas coisas no coração."

Guardar no coração é mergulhar na alma, silenciar no espírito.

Ela viveu trinta anos de silêncio absoluto. Jesus, seu Filho é o próprio Deus e vive também no silêncio, na discrição e na simplicidade de sua pobre vida cotidiana. Ambos se unem no silêncio contemplativo ao Pai.

Um silêncio obediente!

Um silêncio esperançoso!

Maria nos ensina na alegria e na dor a fazermos silêncio.

Um silêncio que ora, que louva, que clama, que chora também.

Um silêncio de sim a Deus em todos os momentos de nossa vida.

Aprendamos a silenciar nossa vontade em favor de Deus, a exemplo do silêncio de Maria.
 
Capítulo extraído do Livro Dia a dia com Maria - Rachel Lemos Abdalla- Ed. Komedi