segunda-feira, 7 de março de 2011

A oração é de importância capital para o progresso na vida espiritual

“Assim como na natureza cada organismo exige uma alimentação diversa, segundo a idade, os trabalhos e o gasto das forças, assim também cada alma precisa de uma particular dose de oração. Notais que a vida divina [isto é, a vida da graça] não se sustenta de virtude, mas de oração, já que a virtude é um sacrifício, um gasto, e não um alimento. Quem sabe rezar de acordo com as suas necessidades, tem a sua lei de vida. Não é a mesma para todos. Uns precisarão de um grau maior de oração para se manter no estado de graça; outros de um grau menor. Esta afirmação não pode ser posta em dúvida, pois a experiência no-la prova.



Uma alma conservar-se-á em estado de graça com pouca oração – basta-lhe esse pouco – mas não há de voar muito alto, enquanto outra, pelo contrário, dificilmente nele se manterá sem muita oração. Sente necessidade de mais. Que reze, e reze sempre!



Assemelha-se a essas naturezas fracas, que precisam comer com frequência para não definhar”.



“A oração é o carácter da religião católica, a marca de santidade da alma, a sua própria santidade. Ao verdes alguém que vive de oração podereis dizer: ‘É um santo’. (...) Jamais, porém, se tornará santo o homem que não reza. Não vos deixeis levar nem pelas palavras, embora belas, nem pelas aparências. O demónio tem muito poder, é douto, transforma-se em anjo de luz. A ciência, tão-pouco, forma santos; não vos fieis nela. Só o conhecimento da verdade não pode santificar, é preciso acrescentar-lhe o amor. Que digo? Há um abismo entre o conhecimento da verdade e a santidade. Quantos génios não se têm perdido!



Insisto. Nem as boas obras de zelo e de caridade podem, por si, santificar. Deus não imprimiu à santidade este carácter. Os fariseus observavam a Lei, davam esmolas, consagravam os dízimos a Deus e, no entanto, Nosso Senhor chamava-lhes sepulcros caiados. Trabalhavam muito sem que, no entanto, o seu trabalho se transformasse em oração. O Evangelho no-lo confirma. É que a prudência, a temperança, a dedicação podem aliar-se a uma consciência viciada”.



“A oração não é, [por assim dizer,] na ordem divina, senão a mesma graça. Já notaste que as tentações, as mais violentas, são contra a oração? Esta inspira tanto medo ao demónio que, de bom grado, ele nos deixaria fazer todas as [boas] obras imagináveis, se pudesse impedir-nos de rezar, ou, pelo menos, se conseguir viciar a nossa oração. Devemos, pois, estar de sobreaviso, alimentar sempre o espírito de oração, fazer da oração o nosso dever primordial. O Evangelho não nos manda antepor a salvação do próximo à nossa própria salvação; pelo contrário, diz-nos que de nada vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua própria alma. A primeira lei imposta – infelizmente violada todos os dias – é a da salvação própria. Descuidamo-nos de bom grado de nós mesmos para servir os outros, entregando-nos a obras de caridade. De facto, a caridade é fácil e cheia de consolações, eleva-nos, enobrece-nos, mas enquanto isso, fugimos da oração por indolência. Por ser sem ruído e silenciosa, é humilhante, e não ousamos, portanto, entregarmo-nos a ela”.



“Se a vida natural depende da alimentação, a vida sobrenatural depende, de modo absoluto, da oração. Se fordes, por conseguinte, obrigados a tudo deixar – penitências, obras de zelo, até mesmo a Comunhão, – jamais deveis abandonar a oração! É de todos os estados; a todos santifica. Mas será que devemos deixar a Comunhão, que nos dá o próprio Jesus, se tiver de ser, para preferir à oração? Devemos. Sem oração não sentiremos os efeitos salutares da visita de Jesus. Será qual remédio encerrado num invólucro. Nada se faz de grande para Jesus sem a oração, que nos reveste das Suas virtudes. Se não rezardes, nem os Santos, nem o próprio Deus vos farão progredir no caminho da perfeição.



A oração está de tal forma ligada à santidade que, Deus, ao querer elevar a alma, não intensifica as suas virtudes, mas sim, o seu espírito de oração, isto é, a sua capacidade de poder rezar. Aproxima-a de Si, e nisto está o segredo da santidade.



Consultai a vossa experiência própria. Sempre que a voz de Deus se fez ouvir, haveis procurado com maior insistência a oração e o retiro. E os Santos, cientes da importância da oração, amavam-na mais que a tudo e suspiravam continuamente pela hora em que a ela se poderiam entregar. Sentiam-se atraídos a ela como o ferro ao ímã. A oração foi-lhes, portanto, a recompensa: no Céu rezam continuamente”.



“Se não rezardes, perder-vos-eis. E se fordes abandonados por Deus, podeis atribuir isto, com toda a certeza, ao facto de não rezardes. Sois qual o desgraçado náufrago que recusa a corda que lhe lançam com intuito de arrancá-lo à morte. Que fazer? Está perdido!”



(São Pedro Julião Eymard, “A divina Eucaristia”)

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