segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Beata Jacinta Marto (1910-1920)

A beata Jacinta Marto (1910-1920), a mais pequena das videntes de Fátima,


é um exemplo admirável da criança evangélica, isto é, de uma pequena

criatura em quem brilham de modo admirável os dons e as maravilhas de

Deus. Já por natureza, como testemunha a prima Lúcia, “tinha um coração

muito bem inclinado, e o bom Deus tinha-a dotado dum carácter doce e

meigo, que a tornava, ao mesmo tempo, amável e atraente”. Gostava de

brincar, de contemplar as estrelas, de colher e oferecer flores, de cantar e

dançar, o que não perdeu após as Aparições. Tinha também os seus caprichos

e amuos infantis, que foi superando com as graças do Céu.

Tendo sido agraciada com as aparições do Anjo e da Virgem Maria,

deixou-se cativar pela beleza e bondade dos mensageiros do Céu e penetrar

pelo encanto do amor e da graça que deles recebeu. Depois de ver

pela primeira vez a “Senhora mais brilhante do que o sol”, com o coração

a rebentar de alegria, não se conteve sem revelar à mãe o segredo que se

comprometera a guardar juntamente com o irmão e a prima, e exclamou:

“Ó mãe, vi hoje na Cova da Iria Nossa Senhora!”. A partir de então, a boa

notícia não mais parou. Por esta fragilidade, difundiu-se em todo o mundo

a oferta da misericórdia divina que a Mãe de Cristo veio comunicar aos homens,

fazendo-lhes o apelo a não ofenderem mais a Deus, que já está muito

ofendido.

A experiência das Aparições marca profundamente a pequena Jacinta,

que, com apenas sete anos, sente o impulso forte a amar. E fá-lo com grande

generosidade. Antes de mais, o amor a Deus e a Jesus, quer na sua presença

eucarística, quer na imagem e símbolo do seu Coração. Reconhece

que Jesus é muito bonito, mais do que as estampas em que é representado.

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Mesmo assim, manifesta o seu afecto beijando uma que a prima lhe deu.

Desejava muito receber Jesus na eucaristia, o “Jesus escondido”, como lhe

chamava. E dizia: “Gosto tanto d’Ele!”. Visitava-O na igreja paroquial e não

se cansava de lhe dizer que O amava. Quando a prima regressava da igreja

e lhe dizia que tinha comungado, pedia-lhe com grande ternura: “Chega-te

aqui bem para junto de mim, que tens em teu coração a Jesus escondido”.

Ela tinha uma real percepção da presença de Jesus no seu íntimo, embora

não soubesse explicar bem o que experimentava. Dizia: “Não sei como é!

Sinto a Nosso Senhor dentro em mim. Compreendo o que me diz e não O

vejo nem oiço; mas é tão bom estar com Ele”. Tinha dentro do peito um fogo

ardente que a levava a amar Jesus e o seu Coração. Muitos dos sacrifícios

que sofria oferecia-os por amor de Jesus e de Maria. Detinha-se longamente

a pensar em Nosso Senhor e em Nossa Senhora, nos pecadores...como

forma de meditar e de lhes manifestar o seu afecto. Enquanto esteve no

Orfanato, em Lisboa, podia fazer companhia a Jesus escondido e receber

a comunhão.

Nada menos era o seu amor à Virgem Maria, especialmente sob a imagem

do seu Coração Imaculado. Exclamava: “Eu gosto tanto do seu Coração!

É tão bom!”. Pouco antes de ir para o hospital, recomenda à prima

que difunda a sua devoção: “Diz a toda a gente que Deus nos concede as

graças por meio do Coração Imaculado de Maria; que lhas peçam a Ela; que

o Coração de Jesus quer que, a Seu lado, se venere o Coração Imaculado

de Maria; que peçam a paz ao Imaculado Coração de Maria, que Deus lha

entregou a Ela”. O seu amor e devoção manifestava-se quer no cumprimento

das recomendações e apelos da Virgem quer na oração frequente

do rosário. E ainda na repetição frequente das jaculatórias: “Doce Coração

de Maria, sede a minha salvação! Imaculado Coração de Maria, converte os

pecadores, livra as almas do inferno!”.

A salvação dos pecadores foi a grande paixão da sua vida, como reconheceu

o Papa João Paulo II, na homilia da missa da beatificação, em Fátima,

no ano 2000: A pequena Jacinta sentiu e viveu como própria a aflição

de Nossa Senhora pelos seus filhos que se perdem por não haver quem se

sacrifique e peça por eles. Por isso, ofereceu-se “heroicamente” como vítima

pelos pecadores. Um dia - já ela e Francisco tinham contraído a doença

que os obrigava a estarem na cama - a Virgem Maria veio visitá-los a casa,

como conta a pequenita: «Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar

o Francisco muito em breve para o Céu. E a mim perguntou-me se queria

ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim». E, ao aproximar-se

o momento da partida do Francisco, Jacinta recomenda-lhe: «Dá muitas

saudades minhas a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e diz-lhes que sofro

tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores». Jacinta ficara tão

impressionada com a visão do inferno durante a aparição de 13 de Julho,

que nenhuma mortificação e penitência era demais para salvar os pecado13

res. Bem podia ela exclamar com São Paulo: «Alegro-me de sofrer por vós e

completo em mim próprio o que falta às tribulações de Cristo, em benefício

do seu Corpo, que é a Igreja» (Cl 1, 24).

O amor à família era constante, bem como à prima e companheira da

aventura espiritual. Exprimia-o com vários gestos de ternura, como a oferta

de flores, a oração e o sofrimento que experimentava quando estava afastada

dela. A despedida para Lisboa, que sabia ser definitiva, custou-lhe muito

e fê-la chorar. Só a certeza de que estava a cumprir as palavras de Nossa

Senhora e a oferta de mais um sacrifício por amor atenuava a sua pena.

Ouviu um sacerdote falar do Santo Padre e recomendar a oração por

ele. Associado a isso, teve uma visão em que o via em sofrimento, insultado

por muitas pessoas. A Jacinta adquiriu então um grande amor pelo Papa e

desejava muito que viesse a Fátima. Quando a proclamou beata, João Paulo

II expressou-lhe publicamente a sua gratidão “pelos sacrifícios e orações

oferecidas pelo Santo Padre”. Também os sacerdotes mereceram particular

atenção e afecto da vidente. Se é certo que os interrogatórios de alguns a

incomodavam e deles fugia, encontrou outros que lhe deram conselhos e

ensinamentos que seguia com diligência. Quando, em Lisboa, se foi confessar,

saiu consolada do Sacramento e manifestava o seu contentamento,

exclamando: “Ai, mãe, que Padre tão bom, que Padre tão bom!...”. Nessa

ocasião, recomendava a oração pelos sacerdotes e dizia que eles “só deviam

ocupar-se das coisas da Igreja”, que deviam “ser puros, muito puros”

e que a sua desobediência aos seus superiores e ao Santo Padre ofendia

muito a Nosso Senhor.

Ela, que se prendia às suas coisas e gostava de atrair a atenção sobre si

mesma, após as Aparições, tornou-se desprendida e generosa. Tomou a iniciativa

e arrastou os companheiros para darem a própria merenda às outras

crianças pobres. E fazia-o “com tanta satisfação, como se não lhe fizesse

falta”. Tomou tão a sério a prática do sacrifício para oferecer pela conversão

dos pecadores que se tornou insaciável. Não lhe bastavam os que a vida

já lhe trazia, procurava outros modos de se sacrificar, que hoje podemos

achar exagerados e mesmo perigosos para a sua saúde. O seu amor apaixonado

tornou-se desmedido para alcançar a salvação dos pecadores. Mas

manifestava-se também na compaixão com as pessoas em sofrimento e

na oração com eles, obtendo-lhes as graças do Céu, pela sua intercessão.

Encara os sofrimentos como missão, oferecendo tudo a Jesus, por amor

a Ele, em reparação pelos pecados contra o Imaculado Coração de Maria,

pela conversão dos pecadores e pelo Santo Padre. Na doença, recebe de

novo a visita da Virgem Maria que lhe revela o que ainda deveria passar e

que a iria buscar para o Céu. Assim encontrava consolação e coragem para

tudo suportar. Às vezes beijava um crucifixo e, abraçando-o, dizia: “Ó meu

Jesus, eu Vos amo e quero sofrer muito por Vosso amor”. O médico que a

operou, em Lisboa, testemunha a sua impressão de que se deparou com

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“uma criança com muita coragem”, que deu prova de grande heroísmo no

quanto sofreu e no modo como o suportou. Nos últimos dias da sua breve

vida, Nossa Senhora apareceu-lhe e disse-lhe que lhe tirava as dores. E, de

facto, aliviada do sofrimento, falava e distraía-se à vontade, nomeadamente

vendo estampas religiosas.

Ao partir para Lisboa, na última fase da doença, sofre imenso e tem

consciência da proximidade da morte, mas conforta-a a promessa de que

iria para o Céu. Ali teria ocasião de “amar muito a Jesus e o Imaculado

Coração de Maria” e de pedir muito pelas mesmas intenções que tinha em

vida: os pecadores, o Santo Padre, os seus familiares e as pessoas que a

ela se encomendaram. Consolava a mãe, dizendo-lhe: “Não se aflija, minha

mãe: vou para o Céu. Lá hei-de pedir muito por si”. Faleceu, tranquilamente,

sozinha, como Nossa Senhora lhe tinha predito.

Sobre ela e seu irmão Francisco, o Papa João Paulo II, na referida homilia,

formulou o voto de “que a mensagem das suas vidas permaneça sempre

viva para iluminar o caminho da humanidade!” E disse que ambos se entregaram

“com total generosidade à direcção de tão boa Mestra (a Virgem

Maria) que subiram em pouco tempo aos cumes da perfeição”. Por isso,

louvou assim a Deus, dizendo:

«Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas verdades aos sábios e

inteligentes, e as revelaste aos pequeninos». Eu Te bendigo, ó Pai, por todos

os teus pequeninos, a começar na Virgem Maria, tua humilde Serva, até aos

pastorinhos Francisco e Jacinta.

P. Jorge Guarda
 
Fonte site Santuario de Fátima.

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