Compenetração do castigo que paira sobre o mundo
A impressão que o segredo de Fátima causou sobre a pequena Jacinta foi tão grande que a Irmã Lúcia, diante do pedido do bispo de Leiria para que pusesse por escrito tudo mais de que se lembrasse da vida de sua prima, tomou isso como um sinal do Céu de que era chegado o momento de revelar as duas primeiras partes do segredo. Pois não lhe era possível narrar certos fatos sem mencionar a grande impressão que o segredo provocou na alma de Jacinta.
Em primeiro lugar a visão do inferno, que explica o zelo dela pela salvação das almas, como os fatos até aqui narrados demonstram de sobejo. Ademais, o castigo de guerras e perseguições à Santa Igreja, que Nossa Senhora anuncia se os homens não cessarem de ofender a Deus. Esse fundo de quadro está presente em várias visões particulares que Jacinta teve, e que denotam o fundo de suas cogitações.
Assim, por exemplo, numa tarde de agosto de 1917, estando os videntes sentados nos rochedos do outeiro do Cabeço — onde, no ano anterior, um Anjo lhes aparecera — Jacinta pôs-se subitamente a rezar a oração que o Anjo lhes ensinara, e depois de um profundo silêncio disse à prima: “Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente a chorar com fome e não têm nada para comer? E o Santo Padre numa igreja diante do Imaculado Coração de Maria a rezar? E tanta gente a rezar com ele?” (III Memória, p. 110).
A Irmã Lúcia acrescenta: “Passados alguns dias, perguntou-me:
— Posso dizer que vi o Santo Padre e toda aquela gente?
— Não. Não vês que isso faz parte do segredo?! Que por aí logo se descobria?
— Está bem. Então não digo nada” (III Memória, p. 110).
Um dia, em casa de Jacinta, Lúcia encontrou-a muito pensativa e interrogou-a:
— “Jacinta, que estás a pensar?
— Na guerra que há de vir. Há de morrer tanta gente! E vai quase toda para o inferno! Hão de ser arrasadas muitas casas e mortos muitos padres. Olha, eu vou para o Céu; e tu, quando vires de noite essa luz que aquela Senhora disse que vem antes, foge para lá também” (III Memória, p. 110).
Jacinta recomendou fidelidade a Lúcia
A compreensão profunda da Mensagem de Fátima vê-se em todos os pensamentos expressos por Jacinta. Como se sabe, na primeira aparição Nossa Senhora tinha dito que a levaria logo para o Céu. Mais tarde, em aparições particulares, disse-lhe que seria transferida para Lisboa e lá morreria sozinha; mas que não temesse, porque a própria Mãe de Deus estaria com ela, como de fato aconteceu. Os livros que tratam de Fátima descrevem os fatos com pormenores. Destaquemos um.
Pouco antes de ir para o hospital, lembrando-se de que Lúcia fraquejara em vários momentos, Jacinta disse a ela: “Já me falta pouco para ir para o Céu. Tu ficas cá para dizeres que Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Quando for para dizeres isso, não te escondas, dize a toda a gente que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria, que lhas peçam a Ela, que o Coração de Jesus quer que, a seu lado, se venere o Coração Imaculado de Maria. Que peçam a paz ao Imaculado Coração de Maria, que Deus lha entregou a Ela. Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!” (III Memória, p. 112).
Fonte: Revista Catolicismo
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