segunda-feira, 6 de abril de 2015

100 questões sobre Sao José

01. Quais são as referências bíblicas que encontramos sobre São José?

No Novo Testamento as primeiras notícias que possuímos sobre são José são nos dadas pelos evangelistas Mateus e Lucas, os quais procuraram ilustrar com interesse as referências sobre o nascimento, a infância e a adolescência de Jesus. Desta forma eles nos deram esta ficha biográfica de José:

a) Descendente da casa de Davi (Mt 1,16; Lc 1,27)

b) Esposo de Maria (Mt 1,18-22)

c) Conhecido por todos como pai de Jesus (Mt 1,20; 13,55; Lc 3,23 ; 2,48); também João faz a mesma referência (Jo 6,42).

d) Ficou perplexo diante do mistério da Encarnação de Jesus no seio de Maria (Mt 1,19)

e) Foi com Maria a Belém para o recenseamento ordenado por César Augusto (Lc 2,41).

f) Fugiu para o Egito e voltou depois com Maria e o Menino para Nazaré (Mt 2,14-21).

g) Em companhia de Maria, encontrou Jesus que tinha doze anos junto ao templo de Jerusalém e em seguida o Menino desceu com eles para Nazaré, onde lhes era submisso (Lc 2,41-52).

h) Tinha a profissão de Carpinteiro (Mt 13,55).

i) Era um homem justo (Mt 1,19).

02. Existem outras referências sobre São José nos Evangelhos?

Não. São apenas estas, inclusive não é registrada nenhuma palavra sua. Complexivamente são apenas vinte e seis versículos que lhe são dedicados, onde os evangelistas o nomeiam por quatro vezes.

03. Por que sendo José, depois de Maria, o colaborador de Deus mais importante na história da salvação, é tão silenciado?

É verdade que São José é um dos maiores santos dos evangelhos, é maior que João Batista que recebeu um elogio de Jesus sobre sua pessoa (Mt 11,11), é maior que Isabel que concebeu milagrosamente o precursor do Salvador (Lc 1,13-17) , é maior que Pedro que recebeu os poderes de Jesus (Mt 16,18) e dos demais apóstolos que foram os colaboradores diretos de Jesus (Mt 10,1-4), é maior que os patriarcas, que os profetas e os reis porque cumpriu uma especialíssima missão. Entretanto, não devemos estranhar esta “pouca importância descritiva” sobre José, visto que os evangelistas estavam preocupados em narrar a vida de Jesus e seu ministério, ainda mais porque sua santidade falava mais alto do que qualquer palavra.

04. Como explicar duas genealogias de Jesus?

O evangelista Mateus através de sua pena percorre todo o caminho da ascendência de Jesus até chegar a Jacó (Mt 1,1-16). Ele faz nos ver a sucessão legal, respeitando os direitos messiânicos de Davi até Jesus. Na sua genealogia, Jesus é qualificado como Cristo, ou seja, o Messias. Naturalmente Mateus escreveu para os judeus e isso tinha uma importância particular. Ele defende a descendência davídica de Jesus, o que era indispensável para os hebreus, a fim do reconhecimento como “aquele que deve vir”. O próprio João Batista perguntou a Jesus “És tu aquele que deve vir ou devemos esperar outro?” (Mt 11,3).

Por outro lado, Lucas segue outra linha indicando a sucessão natural de Jesus e fez o percurso da genealogia de Jesus chegar a Levi, como pai de José (Lc 3,23). Para explicar melhor esta questão é necessário um estudo exegético aprofundado. Em todos os casos, para esta questão de uma dupla genealogia os estudiosos propõem duas soluções:
1. Em base à Lei do Levirato expressa no livro do Deuteronômio (Dt 25,5-10), era estabelecido que se uma mulher ficasse viúva, devia tornar-se esposa do irmão do esposo falecido e o primeiro filho desse casamento era considerado filho legal do primeiro marido e filho natural do segundo marido.

2. Supõe que Maria era filha única de Levi, e José ao esposá-la entrou com plenos direitos de filho na família de seu sogro, isto porque diante da lei, neste caso, Levi podia ser considerado pai de José.
O importante é saber que José deu a Jesus o título messiânico, ele introduziu Jesus ao mundo como descendente de Davi, ou como afirmou São Bernardino de Sena: “De uma certa maneira, José deu a Deus, na pessoa do Filho, a nobreza temporal”.

05. Podemos ainda conhecer outros dados referentes a José?

Claro que além destas referências explícitas podemos afirmar outros dados com base na história ou tradição e com poucas possibilidades de credibilidade também nos dados dos apócrifos, que são textos da mesma época dos escritos bíblicos ou até  um pouco posteriores, chegando até aos primeiros séculos de nossa era, mas não são escritos considerados como inspirados, e  portanto não foram considerados de uso oficial no ensino da Igreja.

É sabido contudo, que José pertencia à casa e à família de Davi e que herdou a promessa feita a Davi.

06. Como era a situação geográfica na época em que José nasceu?

Sabemos que o seu país de origem é a Palestina, onde hoje se situa o território de Israel, localizado na parte oriental do Mar Mediterrâneo formado por uma faixa de terra de 240 por 150 quilômetros quadrados. Uma região de terras férteis, embora comporta também de desertos desoladores e de regiões montanhosas com colinas que vão de 500 a 900 metros, espalhadas por suas regiões denominadas de Galiléia, Samaria e Judéia.

Destacava-se no tempo de José, como de sorte ainda hoje, o Mar da Galiléia, ou também denominado de Lago de Genesaré, com 2 Km de comprimento por 11 de largura e com uma profundidade de até 45 metros, um dos principais palcos da vida do povo de José, sobretudo pela pesca.

Era de suma importância também o Rio Jordão que, ao percorrer 350 Km, despeja suas águas no Mar Morto, o qual possui uma extensão de 85 Km e 16 Km de largura com sua profundidade de até 400 metros e com suas águas densas de sal, não permitindo portanto nenhum tipo de vida .

07. Como era a situação política no tempo de José?

São José nasceu sob a dominação dos Romanos, pois seu povo passou a viver sob o jugo dos Romanos desde o ano 63 antes do nascimento de Jesus. Seu povo tem uma longa história marcada de lutas, conquistas, derrotas, deportações, exílios, monarquias e infidelidade a Deus, embora sempre com uma fé forte em Javé, também se muitas vezes contaminada por idolatrias.

Quando José nasceu, seu país era palco de um certo progresso e de novidades por parte dos Romanos, os quais gostavam de construções imponentes e de artes. Entretanto seu povo era de certa maneira escravo dos dominadores, e pouco se podia progredir a não ser os privilegiados. Por ser os Romanos de uma índole eclética, seus comportamentos eram incompatíveis com as aspirações do povo de José, o que deu ocasião para muitas revoltas, guerrilhas e revoluções armadas organizadas por facções do próprio povo e em tudo isso estava o desejo enorme de livrar-se da dominação estrangeira.

O país de José era governado por Herodes; este era um caudilho imposto pelo poder real de Roma no ano 46 aC. Cruel, mandou matar todos aqueles que se opunham à sua política, mas apesar de tudo foi um administrador hábil e um político astuto.

08. Como era a situação social que José vivenciou?

Como povo dominado pelos Romanos, era também explorado, portanto era pobre, com exceção de alguns que constituíam a classe dos privilegiados. Agrava-se ainda mais a situação de precariedade se levarmos em conta que além da dominação dos Romanos, havia muitas e altas taxas impostas pelo império romano, que toda pessoa era obrigada a pagar. Soma-se a isso o solo pobre e pouco produtivo, agravado pelas condições climáticas hostis por causa da escassez de chuva e por uma agricultura rudimentar. Além de tudo isso havia também a exploração por parte da classe dominante.

09. Sendo José pertencente à classe pobre, como podemos deduzir seu estilo de vida?

Como todo pobre, José morava em uma casa muito simples, construída com paredes de pedras calcárias, com tijolos de barro cozido ao sol. Dormia como era o costume, em esteiras apropriadas para esse fim e sua alimentação era constituída de pão e peixes provenientes do Lago de Genesaré, não distante de Nazaré. Não faltavam também variedades de frutas tais como: romãs, figos e tâmaras. A carne era muito rara na mesa do pobre, mas em compensação havia sempre o azeite, o leite e até o vinho.

10. E quanto ao ambiente religioso?

Toda a vida religiosa do povo hebreu, mas também a política e a social, girava em torno do Templo de Jerusalém, este imponente edifício que tinha sido construído pelo Rei Salomão dez séculos antes de Jesus nascer. Destruído por Nabucodonosor em 516 aC, fora reconstruído por Zorobabel. Porém, por volta do ano 20 antes do nascimento de Jesus, novamente fora destruído por Herodes para que em seu lugar fosse edificado um outro mais suntuoso e rico pela sua imponência. Este ficou pronto no ano 64 dC.

O Templo era o lugar das orações e das ofertas dos sacrifícios e imolações de animais por parte dos hebreus. Pela sua importância e constante movimentação, devido ao fluxo de gente que o freqüentava, este possuía 20 mil funcionários, desde o mais alto grau sacerdotal até o mais humilde empregado. Naturalmente para sustentar todo este funcionamento, cada hebreu pagava 10% de impostos do que produzia.

Outro fator importante que constituía o contexto religioso da época era a divisão dos grupos ou classes, constituídos pelos saduceus, que eram as pessoas mais ricas e influentes. Estes geralmente eram os sacerdotes e os administradores do Templo; era o grupo dos privilegiados. Seguiam depois os fariseus, inimigos dos Romanos e distinguidos pela ostentação religiosa, com suas práticas de orações, purificações, normas de comportamento e pela observância estrita da lei. Havia ainda um grupo de revolucionários e guerrilheiros denominados de Zelotas e também uma outra classe conhecida como Essênios. Estes viviam em comunidades monacais às margens do Mar Morto, numa localidade hoje conhecida como Quamrám, onde levavam uma vida ascética e rígida. Por fim, devido a uma divisão dos hebreus no século X aC, a região da Samaria era considerada pelos judeus como uma terra maldita e seus habitantes eram tidos como pagãos, heréticos e impuros, e por isso odiados, ainda mais porque adoravam a Deus no monte Garizim, onde haviam construído um Templo.

11. Como podemos deduzir o dia-a-dia de José neste ambiente cultural?

Todas as pessoas simples, como José, viviam dentro de um ambiente marginalizador e classista. Claro que quem mais sofria eram as mulheres, consideradas inferiores aos homens, sem nenhuma incidência no meio social. Restava-lhes cozinhar, lavar roupa, buscar água no poço ou na fonte e dedicar-se à limpeza. Não participavam das funções nas Sinagogas e quando iam ao Templo ocupavam os lugares depois dos homens. Elas não tinham permissão para ler a Torá no Templo e nem o testemunho de uma mulher podia ser levado em consideração; inclusive em público, nenhum homem de boa reputação cumprimentava uma mulher.

Naturalmente José, homem justo, não podia ter como práxis de seu comportamento estas atitudes discriminadoras e sobretudo para Maria, com a qual viveu uma profunda vida de amor e de doação, compartilhando toda a sua vida, nutrindo por ela um profundo respeito, uma grande ternura e uma perfeita comunicação de seu afeto, amando-a com amor intenso.

12. Qual o significado do nome José?

Este nome deriva da língua hebraica “Iôséf”, forma abreviada de “Iehôséf” que significa: “Javé acresça, faça crescer”, em latim Ioseph (us).

13. Qual era a profissão de José?

José foi um trabalhador, e sua característica de homem trabalhador refletiu-se inclusive no Filho de Deus, o qual era conhecido como “fabri filius” (Mt 13,55), (filho do carpinteiro). Como era o costume de então, José seguramente recebeu esta profissão de seu pai, portanto ainda adolescente já era um artesão.

Como realçam os evangelhos, José possuía uma pequena oficina em Nazaré, um lugarejo perdido nas montanhas, lugar de lavradores, de gente simples e pobre. Portanto ele não fabricava móveis refinados ou objetos de consumo da aristocracia, da gente rica de seu país.

14. Não seria melhor classificá-lo como artesão?

Certamente, aliás, o texto evangélico usa uma expressão genérica para designar a sua profissão, ou seja, o qualifica como artesão. Desta forma, ele não fabricava somente móveis, mas também portas, janelas e tudo aquilo que era de necessidade das moradias de Nazaré. Com a categoria de artesão podemos concluir que José era um artífice que manuseava a madeira e o ferro. Por isso, ele executava o seu trabalho não apenas recluso na sua carpintaria, mas também para fora, consertando um arado, uma roda de carroça, ou fazendo o fundamento de uma casa, etc.

Naturalmente, esta sua profissão facilitava muito o seu contato com o povo de Nazaré e de toda a região que também solicitava os seus trabalhos. Por isso, José era uma pessoa bem relacionada, conhecia bem os problemas, os desejos e sofrimentos do seu povo.

15. Será por isso (ser José um artesão) que José é tido como o protetor dos trabalhadores?

Não simplesmente por isso, porque outros santos trabalharam também tanto quanto ou até mais que ele, mas sim porque o seu trabalho teve uma função especial: aquela de nutrir o Filho de Deus e de educá-lo, da mesma forma também para sustentar Maria, sua esposa.

O trabalho de José tem ainda uma outra qualificação particular: com ele Jesus aprendeu uma profissão e sustentou-se por trinta anos. “Aquele que sendo Deus, tornou-se semelhante a nós em tudo, dedicava a maior parte de sua vida sobre a terra, no trabalho manual, junto a um banco de carpinteiro” (Encíclica Laborem Exercens, 6).

16. Quem particularmente indicou o Carpinteiro de Nazaré como modelo para os trabalhadores?

Esta indicação nós a devemos particularmente ao Papa Pio XII, quando instituiu no dia 1º de maio de 1955 esta festa litúrgica. O mesmo Papa assim se expressou: “Não houve nenhum homem assim tão próximo ao Redentor pelos vínculos familiares, pela comunhão diária, pela harmonia espiritual e pela vida divina de graça como São José, da estirpe de Davi, mas também um humilde trabalhador”.

O Papa João Paulo II evidenciou a missão de José, ou seja, a sua função de “Minister Salutis” ao afirmar: “Graças ao banco do trabalho junto ao qual exercia a sua profissão em companhia de Jesus, José aproximou o trabalho humano ao mistério da redenção”.

17. A condição operária de José foi importante para Jesus na sua qualificação humana?

A condição operária de José foi aquela que “personifica o tipo humano, que o próprio Cristo escolheu para qualificar a sua própria posição social de “Filius Fabri”. Portanto, com José Jesus assumiu uma qualificação humana e social. Tornando-se civilmente Filho de José (Lc 3,23), Jesus herdou o título real de “filho de Davi”, mas contemporaneamente assumiu também aquela condição profissional que o qualifica como o “Filho do Carpinteiro” (Mt 13,55).

18. Como podemos imaginar a vida de José durante a sua adolescência e juventude?

Uma vida  normal conforme viviam os jovens e adolescentes daquela época,  ou seja, vivia o dia-a-dia na dedicação ao trabalho, na freqüência à Sinagoga, na observância das leis e costumes de seu povo e como qualquer jovem do seu tempo, tinha os seus sonhos, e as suas aspirações de casar-se e de constituir uma família.

19. Como José e Maria descobriram a vocação matrimonial?

Afirmamos que tanto José como Maria foram vocacionados por Deus para a preciosa missão de realizar o mistério da Encarnação de Jesus. Jesus, o Filho de Deus, devia, no desígnio de Deus, nascer de uma mulher casada e virgem, ou seja, dentro de uma família. Daqui vemos a necessidade do matrimônio entre José e Maria, justamente para a vinda do Filho de Deus dentro de um contexto matrimonial.

Deus na sua onisciência concedeu todas as oportunidades para que entre ambos surgisse o amor que leva à concretização da comunhão de vida entre um homem e uma mulher através do matrimônio. Portanto a presença de um na vida do outro na descoberta desta vocação não foi um simples jogo de circunstâncias, mas o resultado de uma preciosa intervenção de Deus, e assim eles se casaram.


20. Por que freqüentemente na arte São José é representado como velho?

Durante muitos séculos São José foi visto mais como um servo de Maria do que como seu esposo, e a razão desta visão distorcida foi devido à influência dos livros apócrifos, os quais procuraram erroneamente defender a virgindade de Maria, e portanto a concepção virginal de Jesus, vendo em seu esposo um velho de cabeça branca e careca, com uns noventa anos. Um erro imperdoável, pois acreditou-se mais na incapacidade física de José sendo velho, sem a libido, do que nas suas virtudes e na graça de Deus.

Hoje pode-se afirmar com toda segurança que José casou-se com Maria com a idade própria de todos os jovens hebreus quando se casavam, ou seja, entre os dezoito e vinte e quatro anos, conforme os textos rabínicos atestam. Além do mais, Deus quis que seu Filho se inserisse na história humana da maneira mais natural possível, dentro de uma família e com pais que lhe dessem toda assistência, sustento e educação. Ora, se José fosse velho, como foi apresentado, como poderia ter a força e a disposição para fugir com Jesus e Maria para o Egito, atravessando o deserto, numa longa caminhada e enfrentando os perigos, a falta de água e o cansaço? Como poderia José ter sustentado Jesus e sua esposa se não tivesse a força juvenil?

21. Os artistas também contribuíram para uma representação de José idoso?

Sim. Os artistas influenciados pelos apócrifos disseminaram a representação plástica de José idoso e de cabelos brancos, a fim de melhor salvaguardar a  virgindade de Maria, e com isso não se levou também em  conta que o evangelista Lucas testemunha que Jesus “Era tido como filho de José” (3,23). Felizmente, graças à Josefologia, ultimamente o guarda do Redentor é representado na arte como um jovem cheio de vigor.

22. Como era o costume da celebração do matrimônio no tempo de José?

Não era muito diferente do costume de hoje. A cerimônia era constituída de duas etapas: O noivado e o matrimônio propriamente dito. A cerimônia do noivado era bastante simples e normalmente se realizava na casa do pai da noiva, onde o noivo pagava ao futuro sogro uma certa quantia baseada naquilo que ele possuía, ou podia, isto era devido ao fato que uma mão de obra o pai a entregava ao genro. De fato, a partir desta cerimônia, a mulher passava a pertencer ao marido, de direito e de dever, embora ainda continuasse morando na casa paterna. Era, desta forma, selado o verdadeiro matrimônio, pois com o noivado os contraentes tinham direitos de esposos.

O nascimento de um filho durante o noivado era tido como legítimo e se a noiva fosse infiel neste período era tratada como adúltera e sujeita aos castigos, inclusive de apedrejamento.

23. Como se procedia à segunda etapa de celebração matrimonial?

Esta era celebrada com mais solenidade, quando a noiva esperava o seu noivo toda enfeitada e coroada com flores na cabeça acompanhada por suas amigas na casa do pai enquanto que o noivo dirigia-se à noite acompanhado de seus amigos para a casa da noiva.

Ali na presença dos convidados dava-se o início à cerimônia onde o noivo dirigia-se à noiva com estas palavras: “És minha esposa e eu sou teu esposo de hoje para sempre”. Em seguida começava a festa que podia durar até uma semana.

24. Se José conduziu Maria para sua casa, então a anunciação do Anjo a Maria deu-se depois que tinham celebrado a segunda parte do matrimônio?

Alguns afirmam que José e Maria não dividiam o mesmo teto na ocasião da anunciação do Anjo fundamentando-se nas palavras do Anjo: “Antes de coabitarem, aconteceu que ela  concebeu por virtude do Espírito Santo” (Mt 1,18). Porém segundo os estudiosos, na interpretação exata deste versículo deve-se afirmar que “antes  que tivessem relações sexuais”. Lendo o texto de Mateus 1,20: “Não temas receber Maria como tua esposa”, alguns entenderam que Maria estava ainda na casa de seus pais, constatando portanto a gravidez de Maria antes da segunda parte do matrimônio. Porém, segundo a interpretação de grandes exegetas, as palavras do Anjo a José foram para tranqüiliza-lo e devem ser entendidas como: “Não temas ficar, estar aí ao lado de tua esposa”, ou seja, referem-se a algo que José já havia feito. Portanto a anunciação do Anjo a Maria deu-se dentro do clima familiar de convivência com José.

25 - Se Maria convivia com José, sob o mesmo teto, quando recebeu o anúncio do Anjo sobre sua maternidade divina, como entendemos o anúncio do Anjo a José diante de sua dúvida?

O evangelista Mateus (1,20-25) relata que “enquanto pensava assim, um Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria como esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo...”, despertando do sono, José fez como o Anjo lhe havia mandado e recebeu sua esposa em sua casa, e sem ter relações com ela, Maria deu à luz um filho, e José deu a ele o nome de Jesus”. Portanto, confirma para José a sua vocação de esposo e de pai de Jesus, realçando o exercício da maternidade de Maria (v 23-25) e sua cooperação como pai putativo de Jesus (v 25) e o intervento da força divina (v 20). Desta forma, fica esclarecido que o encontro do divino com o humano, ou seja, a encarnação de Jesus, aconteceu dentro da instituição da família. Daqui conclui-se a importância do matrimônio de José e Maria e a função indispensável de sua paternidade (v 21-25).

No momento culminante da história da salvação, José é o “filho de Davi” (v 20) preparado por Deus para ser esposo da Mãe de Jesus (v 20) e para dar o nome ao Menino (v 21-25) que fora concebido pelo Espírito Santo. (v 18-20).

Neste anúncio do Anjo “José, filho de Davi” garante desta forma a messianidade de Jesus e também a virgindade de Maria, a qual depende do fato de ela ser a esposa de José.

26. Qual o sentido das palavras de Mateus 1,18-19?

Alguns teólogos chegaram a afirmar em base a estes dois versículos que Maria tinha conservado silêncio absoluto sobre a sua maternidade divina comunicada pelo Anjo, e assim José não sabia de nada. Antes de tudo devemos salientar que é ilógico que Maria não tenha comunicado nada a José sobre sua maternidade, mesmo porque uma postura assim não estaria de acordo com a psicologia, visto que sua gravidez provocara sem dúvida conseqüências que se calaram profundamente em sua existência e em seu ser feminino. Por isso afirmamos que José tomou conhecimento de tudo o que se passava com Maria justamente porque ele era a pessoa de maior confiança dela.

27. Por que então Mateus descreve que Maria ficou grávida pela ação do Espírito Santo antes de morar com José?

Analisando superficialmente o versículo 18 do primeiro capítulo deste evangelista, ele deixa entender que Jesus nascerá necessariamente logo depois que foram morar juntos, porém a intenção do evangelista é ressaltar o fato da concepção virginal, de excluir de modo absoluto qualquer participação masculina na concepção de Jesus. Para Mateus o essencial é deixar claro que existia entre ambos um vínculo matrimonial, “José seu marido” e a concepção virginal “ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”. Basta lembrar que Mateus considera sempre Maria como esposa (1,20-24) e José como esposo (1,16-19).


28. Como explicamos a intenção de José, “homem justo”, em querer deixar Maria?

A designação de “homem justo”, aplicada a José, indica que sua justiça não se deve porque é um observante da lei, pois de fato a lei mosaica autorizava ao marido, em caso de adultério de sua esposa, dar-lhe o divórcio, o que não é o caso de Maria. Ele se mostra justo não por querer aplicar justiça a uma inocente (no caso Maria, que não tinha cometido adultério), mas ele é justo porque na sua humildade sente-se não estar à altura de ser considerado o pai do Menino Deus.

Ao conhecer a grande missão que Deus confiara à sua esposa, como Mãe do Messias, ele sentiu-se diante daquele misterioso desígnio divino, entrou em contato com o inexplicável para ele e por isso, porque era homem justo, decidiu abandonar Maria. Porém, a sua decisão de abandoná-la não foi porque suspeitou algo errado nela e então para não desonrá-la, porque era bom, encontrou a solução de deixá-la. Não foi também porque diante do mistério da maternidade divina ele não conseguia compreender e assim, incerto, achou como melhor saída abandoná-la. Foi porque ele, na sua humildade, sentiu-se indigno de compartilhar sua vida ao lado de Maria, achando ser um obstáculo para a ação de Deus sobre ela.


29. Então qual é a explicação para esse seu pensamento (deixar Maria)?

A explicação correta defendida inclusive por grandes teólogos e santos é que ele, como todos os que esperavam o Messias, reagiu como os justos da bíblia diante de Deus que intervém na sua história: Como Moisés que tira as sandálias, como Isaías espantado pela visão de Deus, como Isabel que se maravilha e pergunta como é possível a mãe do Salvador pode vir até ela, ou ainda como Pedro que diante de Jesus diz: “Afasta-te de mim Senhor porque sou um pecador”.

30. . De Maria Virgem, no texto de Mateus (1,18-25) temos uma comprovação incontestável, mas como afirmar a virgindade de José?

Antes de tudo, com Santo Tomás encontramos duas razões para a sua virgindade: “Porque ele não teve nenhuma outra mulher e porque a infidelidade não pode ser atribuída a este santo personagem”. Da mesma forma, sendo a virgindade um dom de Deus (I Cor 7,32), Deus quis conceder-lhe também este dom em vista de sua grande missão. O fato de Deus ter escolhido José como esposo de Maria Virgem, faz com que a presença e a convivência dele com Maria fosse o resultado de uma preciosa intervenção divina.

José viveu a sua virgindade ao lado de Maria, compreendendo a missão de sua esposa, e por um especial desígnio de Deus compartilhou totalmente com ela essa tarefa vivendo um amor virginal e ao mesmo tempo conjugal.


31. Aceitando a Virgindade de Maria e de José, podemos afirmar que este matrimônio foi verdadeiro?

José é verdadeiro esposo de Maria sem ter ocorrido entre eles o relacionamento sexual, mas em virtude da união conjugal. Mateus afirma que José é esposo de Maria (1,16). Assim explicita-se que também guardando a continência, permanece o matrimônio, o qual pode ser considerado como tal não pelo motivo da união sexual, dos corpos, mas do perseverante afeto da mente.

Santo Agostinho afirma que no matrimônio de José e Maria estão presentes todos os requisitos de um verdadeiro matrimônio, ou seja: a prole, que é o próprio Jesus, a fidelidade, porque não houve nenhum adultério e o sacramento, porque não houve divórcio (o divórcio segundo a lei mosaica dissolvia o matrimônio).

32. Como afirmamos, portanto, que José é esposo de Maria?

Os evangelistas (Lc 2,4-5; Mt 1,16) descrevem claramente José esposo de Maria, e portanto, o matrimônio entre ambos foi realizado. O evangelista afirma que José tomou a sua esposa e a conduziu para a sua casa e lá viveram com a presença do próprio Jesus.

33. Como José e Maria viveram o vínculo matrimonial?

O matrimônio de Maria com José foi destinado por Deus para acolher e educar Jesus, e por isso exigia a máxima expressão da união conjugal, ou seja, o dom total e completo de um para com o outro. Entre ambos existiu, como afirmou Bernardino de Bustis: “Um amor indivisível e santíssimo; de fato, depois de Cristo seu Filho, a Virgem puríssima não amou nenhuma outra criatura assim tanto como José e da mesma forma José amou Maria acima de qualquer outra criatura”. Portanto, José como esposo viveu uma profunda experiência de comunhão intimamente ligado a Maria, conviveu com ela, partilhou com ela a sua vida e amou-a com um amor intenso, e da mesma forma foi Maria para com ele, tendo um sentimento natural de esposa, cultivando em seu coração sentimentos e afetos que eram destinados exclusivamente a José.

Os evangelistas (Lc 2,4-5; Mt 1,16) descrevem claramente José como esposo de Maria, portanto o matrimônio entre ambos foi realizado. O evangelista afirma que José tomou a sua esposa e a conduziu para a sua casa.

34. O que dizem os apócrifos sobre José?

Os apócrifos são escritos datados dos últimos séculos antes de Cristo até os primeiros séculos da era cristã e estes não são reconhecidos como inspirados por Deus, pois não passam de ficções acompanhadas por fantasias e lendas pueris. Apesar disso, estes textos exerceram uma grande influência na pregação e devoção popular, assim como nas expressões artísticas. Graças a isso, José recebeu algumas conotações que não condizem com sua pessoa.

Na primeira delas, já salientamos, José ficou por muitos séculos apresentado, sobretudo pela arte fictória como, sendo um velho de barba branca quando se casou com Maria. Outra fantasia destes textos é que José, antes de casar-se com Maria já tinha se casado, aos 40 anos, com uma mulher chamada Melca, com quem viveu 49 anos e teve quatro filhos, ficando viúvo aos 89 anos. Ainda outra fantasiosa lenda sobre o seu casamento com Maria relata que havia muitos pretendentes para casar-se com ela, e diante disso o sumo sacerdote teria deixado a decisão da escolha do marido de Maria a Deus, colocando num lugar santo um ramo com o nome de cada pretendente, e milagrosamente o ramo de José floresceu e assim ele foi o escolhido. Por isso São José freqüentemente foi representado pela arte com um ramo florido na mão, para simbolizar a sua divina eleição. Encontramo-lo também representado com um lírio na mão para simbolizar sua pureza.

35. Como explicar o que alguns afirmam que José teve filhos com Maria?

Já afirmamos que tanto José como Maria eram virgens, portanto célibes no matrimônio, ou seja, jamais tiveram relações sexuais, e isso de maneira alguma atrapalhou o relacionamento intenso de amor deles dentro do matrimônio. Ambos por vontade comum emitiram o voto de virgindade.

O evangelista Lucas (8,19-20) relata: “A mãe e os irmãos de Jesus se aproximaram, mas não podiam chegar perto dele por causa da multidão. Então anunciaram a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver”. Na verdade Lucas não está afirmando que estes “irmãos de Jesus” foram concebidos por Maria, pois a palavra “irmão” revestia-se de significado de parentesco e indicava laços de afeto. Portanto biblicamente não há nenhum fundamento para afirmar que Maria teve outros filhos com José, mesmo porque a palavra “irmão” deve ser entendida no sentido de “parente”.

Por outro lado, é verdade que os apócrifos com o objetivo de salvaguardar a virgindade de Maria resolveram o problema dos “irmãos de Jesus” atribuindo a José um precedente matrimônio, donde depois teria esposado Maria já viúvo e com estes filhos do seu primeiro casamento; porém, como já explicamos, nada disso tem fundamento.

Ainda Mateus (1,15) afirma: “José fez conforme o Anjo lhe ordenara e tomou consigo a sua esposa, a qual, sem que ele a conhecesse, deu à luz um filho que se chamou Jesus”. Diante desta afirmação, alguns quiseram deduzir que José teve relações sexuais com Maria depois do parto, já que o verbo “conhecer” na bíblia significa união sexual, referindo-se ao matrimônio. Porém teólogos de grande quilate argumentam que a afirmação “sem que ele a conhecesse” não indica que José teve relações sexuais com Maria depois do nascimento de Jesus, mas simplesmente que a Virgem permaneceu intacta.

Nem mesmo a afirmação de Lucas (2,7): “Maria deu à luz ao seu filho primogênito” explica nada, pois a palavra “primogênito” significa simplesmente o primeiro filho e não ao primeiro entre outros. Ou seja, indica aquele que nasceu primeiro de sua mãe, tenha esta tido ou não outros filhos depois.

36. Por que Jesus nasceu em Belém e não em Nazaré onde viviam José e Maria?

O Evangelista explica o nascimento de Jesus em Belém com o recenseamento publicado pelo Imperador César Augusto e realizado quando Quirino era governador da Síria, quando todos deviam registrar-se cada um em sua cidade natal. Como José era da família e descendência de Davi, foi de Nazaré até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia e junto com ele foi também Maria, sua esposa, que estava grávida e neste ínterim nasceu Jesus em Belém (Lc 2,1-7). Esta obrigação do cumprimento da ordem da autoridade do Imperador veio ocasionar a descendência davídica de Jesus, conforme os profetas haviam indicado (Mq 5,1). Era de Belém, na Judéia, que sairia o Messias (Mt 2,5).

Foi através de José, “Filho de Davi” (Mt 1,20), que a genealogia davídica foi transmitida a Jesus, com isso ele de fato foi tido e considerado da descendência de Davi

37. Lucas relata que, passados oito dias, o Menino foi circuncidado e deram-lhe um nome. Quem lhe deu o nome de Jesus? (Lc 2,21)

Antes de tudo é necessário explicar o significado deste rito, o qual era uma exigência da legislação sacerdotal, e pelo qual a criança passava a fazer parte oficialmente do povo da aliança. Por isso esse rito era importante para as famílias judáicas e era celebrado com uma certa solenidade, geralmente em casa. Era, desta forma, um rito que simbolizava para os hebreus a aliança com Deus e a santidade de Israel dentre as nações, portanto era um sinal de pacto do povo com Javé.

Com a circuncisão, Jesus cumpria também a lei (Lc 2, 22-24,7) e naturalmente como era tradição, um dos primeiros deveres do pai era aquele de circuncidar o filho; mesmo que a mãe pudesse cumprir este rito, foi José quem o cumpriu (Ex 4,25). Geralmente este rito tinha um certo número de participantes, a tradição talmúdica fixava dez testemunhas.

José, sabedor de que esta era sua obrigação, tornou-se o “ministro da circuncisão” do Menino e ao realizá-lo proferiu estas palavras: “Bendito seja o Senhor, nosso Deus, que nos santificou com os seus preceitos e nos permitiu introduzir o nossofilho na aliança de Abraão, nosso Pai”.


38. Quem deu o nome de Jesus ao menino?

O Anjo do Senhor determinou que José cumprisse esta missão paterna: “Tu o chamarás Jesus... (Mt 1,21). Dar o nome implicava a autoridade sobre o filho. Com este exercício de sua paternidade, José passava a ser o representante do Pai Celestial e a exercer todas as funções e direitos de pai sobre Jesus. O Papa Pio XII soube muito bem colher esta função de José em relação a Jesus quando afirmou que ele teve para com Jesus “por um especial dom celeste, todo o amor natural, toda a solicitude afetuosa que um coração de pai pode conhecer”.



39. Qual foi a participação de José na apresentação de Jesus ao Templo, conforme Lc 2,22ss?

Novamente aqui os pais de Jesus cumprem a lei, a qual estabelecia que todo primogênito devia ser consagrado a Deus (Ex 13,1-25). José teve uma função importante neste rito, visto que um dos deveres do pai era o resgate do filho perante Deus mediante uma oferta de cinco ciclos de prata à caixa do Templo. Com isso José, no exercício de sua paternidade, que o constitui ofertante do primogênito Jesus, agiu verdadeiramente como “ministro da salvação”. 

40. Qual é o significado da fuga da Sagrada Família para o Egito?

A descrição deste episódio é um particular que devemos à pena de Mateus (1,13-22). O evangelista mostra, neste relato José no exercício de seus direitos e funções de chefe da Sagrada Família. É a ele que o Anjo aparece e lhe fala comunicando-lhe a destinação. Recebida a ordem de Deus, José põe-se a executá-la imediatamente.

Mateus viu neste acontecimento da fuga e volta do Egito da Sagrada Família o cumprimento da verdadeira libertação, prefigurada no antigo Êxodo e compreendida na profecia de Oséias (11,1): “Do Egito chamei meu Filho” (Mt 2,15). Jesus é considerado por Mateus o verdadeiro Moisés que conduz o seu povo para a libertação definitiva. “Como Israel, diz João Paulo II, tinha tomado o caminho do êxodo de sua condição de escravidão, para iniciar a antiga aliança, assim José depositário e cooperador do mistério providencial de Deus, cuidou também no exílio d’Aquele que realiza a Nova Aliança”. José, salvando da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, tornou-se o “ministro da salvação”, pois toda a salvação foi colocada, naquele momento difícil, nas suas mãos. Neste acontecimento tornou-se clara toda a debilidade da carne que o Filho de Deus assumiu ao encarnar-se e exprime-se na renúncia aos interventos miraculosos, para confiar-se totalmente às mãos de José.


41. A fuga para o Egito quer dizer que a Sagrada Família viveu em terra estrangeira?

Mateus é genérico ao referir este acontecimento apenas diz que o Anjo ordenou a José “Toma sua mãe e o Menino e foge para o Egito...” (2,13). Portanto, José poderia ter chegado apenas na fronteira do Egito ao sul de Gaza, fora do domínio de Herodes. São diversas as localidades que disputam a honra de ter recebido a família de José; dentre estas destacamos Heliópolis, um lugarejo distante 100 Km do Cairo. Também Cairo, que se lembra na Igreja de Abu Sargha, construída segundo a tradição no lugar onde morava a Sagrada Família, assim como outras localidades disputam o mesmo privilégio. O importante é saber que a Providência Divina os destinou a um lugar seguro, provavelmente um dos bairros hebreus, próximo à fronteira.

Existem muitas lendas a respeito da viagem da Sagrada Família pelo deserto até o Egito e durante a sua permanência lá, todas atribuídas aos apócrifos, portanto desprovidas de autenticidade, e portanto não verídicas.

No Egito, vivendo com toda probabilidade entre os seus compatriotas, José não deve ter encontrado dificuldade para instalar-se e trabalhar, mesmo porque as colônias judaicas no Egito naquele tempo formavam uma associação estruturada onde havia ajuda recíproca entre todos.

42. Quanto tempo a Sagrada Família viveu no exílio do Egito?

Segundo uma das versões mais prováveis, dois anos após a matança dos inocentes, da qual Jesus escapou fugindo para o Egito, Herodes morreu, e  logo em seguida José recebeu ordens do Anjo para voltar a Israel: “Levanta-te, toma o Menino e a mãe e retorna à terra de Israel...,avisado em sonho, retirou-se para as bandas da Galiléia, indo morar numa cidade chamada Nazaré” (Mt 2,20-23). Portanto, o tempo da permanência no Egito foi aproximadamente de  dois anos. Em Nazaré, depois de todas estas vicissitudes, José voltou à sua vida normal com Jesus e Maria, no exercício de sua profissão de carpinteiro.

43. Como a Sagrada Família transcorria os seus dias em Nazaré?

A casa de Nazaré tornava-se então o palco privilegiado da presença de Jesus, José e Maria. José com suas mãos habilidosas tirava o sustento para sua família de seu trabalho; o pequeno Jesus, nos joelhos de Maria sua mãe, recebia todo amor natural e os ensinamentos de sua vida exemplar que santificava a vida familiar no dia-a-dia. Na simplicidade e na pobreza, esta santa família transcorria uma vida normal aos olhos dos outros. Jesus, porém “crescia robusto e cheio de sabedoria...” (Lc 2,40).

Como qualquer outra criança, Jesus irá aos poucos conhecendo o ambiente e aprendendo com José a arte da carpintaria. Freqüentará a Sinagoga, ouvindo com atenção a Palavra Sagrada. Instruído por seus pais, irá aprendendo a história de seu povo e conhecendo os textos sagrados.

44. Enquanto Jesus “crescia robusto e cheio de sabedoria”, sendo submisso aos seus pais, qual foi a característica do exercício da paternidade de José?

Os sentimentos de José com respeito a Jesus foram expressões puras e genuínas de um amor autenticamente paterno. Ele exerceu a sua função de pai convivendo com Jesus, abraçando-o, nutrindo-o e educando-o com um paterno afeto. Ele teve para com Jesus, como afirma o Papa Pio IX: “Todo o amor natural, toda a afetuosa solicitude, que um coração de pai possa conhecer”. Jesus foi verdadeiramente amado, não sentiu o sofrimento psicológico de falta de afeto.

José era consciente de sua missão de pai; por isso toda a sua vida foi vivida a serviço de Jesus. “Ele colocou, nas palavras de Paulo VI, à disposição dos desígnios de Deus, a sua liberdade, a sua legítima vocação humana, a sua felicidade conjugal, aceitando da família a condição, a responsabilidade e o peso, renunciando, por um incomparável virgíneo amor, ao natural amor conjugal que a constitui e a alimenta, para oferecer com sacrifício total toda a sua existência às imponderáveis exigências da vinda do Messias”.

45. Podemos ponderar como foi o amor de José por Jesus?

Escolhido por Deus para esta sublime missão de representá-lo aqui na terra perante o seu Unigênito Filho, José exercitou a sua autoridade de modo exemplar, pois o próprio Deus tinha encontrado nele alguém segundo o seu coração, confiando-lhe com plena segurança o mais misterioso segredo de seu coração. Por isso, o seu amor paternal foi sem reservas, foi um amor traduzido em generosidade, em sacrifício e em serviço incondicional para Jesus.

46. Mas se afirmamos que Maria concebeu Jesus por obra do Espírito Santo e também no Credo rezamos: “Encarnou-se por obra do Espírito Santo”, como afirmamos que José é pai de Jesus e não apenas que ele é o guarda de Jesus?

Antes de tudo, como já salientamos, os evangelistas chamam José expressamente de pai (Lc 2,27.33.41.43.48; 3,23; Mt 13,55). Portanto, verdadeiro pai e não num sentido redutivo e incompleto. Sua paternidade é humana e não biológica, por isso esta paternidade tem o aspecto jurídico, o aspecto afetivo e também o aspecto educativo.

Ser pai não implica apenas gerar na carne, basta lembrar hoje a moderna biotecnologia que compromete seriamente aquela paternidade que tem como único fundamento a geração, como: a fecundação “in vitro”, a gravidez do embrião numa mãe “barriga de aluguel”, sem levar em conta as especulações de lucro, ou ainda os bancos de espermas selecionados, ignorando completamente a pessoa que é denominada apenas de “doador”.

Podemos afirmar com Santo Tomás que “José é pai de Jesus do mesmo modo como é entendido esposo de Maria, sem a união da carne, mas pelo vínculo do próprio matrimônio”. José teve um relacionamento com Jesus muito mais intenso do que um filho adotivo fora do casamento.

É importante salientarmos que Cristo nasceu do Espírito Santo não como Filho, por isso Santo Tomás afirma que não se pode dizer que Cristo foi propriamente “concebido do Espírito Santo, mas sim por obra do Espírito Santo“, tudo isso pelo amor de Deus por nós. Este amor e dom de Deus por nós, no Espírito Santo tem uma peculiaridade. De modo analógico, também em São José, o qual foi profundamente envolvido no mistério da Encarnação a ponto de ser considerado por Francisco Suárez como pertencente à ordem da união hipostática.

“O Espírito Santo que honrou José com o nome de pai”, como afirmou Orígines, não excluiu a sua parte, esvaziando assim a sua paternidade. Enquanto Maria recebia um coração de mãe, o Espírito Santo formava em José um coração de pai.

47. Qual a palavra mais indicada para designar a paternidade de José em relação a Jesus?

Há sem dúvida uma dificuldade para designar a paternidade de José, sendo este caso único e singular; portanto nossa língua não possui um termo que a defina exatamente.

Por isso, muitos chamam-no de “Pai adotivo”, porém é uma palavra inadequada, pois indica uma relação paterna com o filho que não é da família, mas que se tornou tal em virtude da lei. Jesus não era estranho à sua família; José personalizava a paternidade divina sobre ele.

Outros designam que a sua paternidade é de “pai legal”, baseando-se nas palavras do anjo a José dizendo-lhe de receber Maria como sua esposa, e que dela nasceria um filho no qual ele colocaria o nome de Jesus (Mt 1,21). Esta designação possui um sentido estritamente jurídico, embora expresse que Jesus é legitimamente reconhecido diante da lei como filho de José. Com isso vem conferida a José a legitimidade de sua paternidade, inclusive com o título messiânico da descendência de Davi. Contudo esta explicação tem um significado formal e não responde à relação íntima entre o pai e o filho, portanto é incompleta.

Há ainda a denominação de “pai virginal”, esta por sinal bastante comum entre os teólogos: um título que não deixa de ser impróprio, embora possa ser um dos mais adequados e aceitáveis porque capta a essência espiritual desta paternidade e determina a sua natureza, pois coloca José juntamente com Maria dentro do matrimônio virginal do qual nasceu Jesus. Contudo esta expressão é ainda imprópria, pois Maria Virgem concebeu por obra do Espírito Santo dando um corpo, carne e sangue a Jesus, enquanto que José em nada disso cooperou.

Há ainda a designação de “pai nutrício” devido à dedicação de José como pai. Este também é um termo inadequado, pois ressalta algumas funções do exercício de sua paternidade, tais como alimentar, defender, cuidar de Jesus, e isso é restringi-la.

A teologia josefina procurou também chamá-lo de “pai matrimonial” em virtude de seu matrimônio com Maria, visto que o seu matrimônio foi querido por Deus em razão da acolhida de Jesus. Esta denominação é incomum, assim como a expressão “pai vigário” para indicar que José fez as vezes de Deus Pai aqui na terra para Jesus, mesmo porque é uma linguagem difícil de ser compreendida.

Por fim alguns teólogos exprimem a opinião de que a designação da paternidade de José deve ser aquela expressa em Lucas 3,23 : “Ao iniciar o ministério, Jesus tinha uns trinta anos, filho, segundo se pensava, de José”... Este título também exprime pouco, pois apenas salienta que os moradores de Nazaré acreditavam que ele era o pai de Jesus, não destacando os aspectos positivos de sua paternidade.

48. Então qual é a designação exata que podemos usar para expressar a paternidade de José?

Na verdade nenhum dos títulos citados exprime a totalidade do relacionamento de José com Jesus, pois ele teve, como afirma Suárez: “Salvo a sua virgindade, tudo aquilo que é próprio de um pai”. Participou da mesma dignidade de Maria, a Mãe de Jesus. Esta é uma paternidade única, sobrenatural, e não encontrando uma palavra completa que possa expressar perfeitamente essa paternidade especial, devemos chamar José simplesmente de “pai de Jesus”, como a sagrada escritura o chama, (Lc 2,27. 33.41.43.48; 3,23; Mt 13,55) sem acrescentar nenhum adjetivo especial a esse título

49. Sendo José pai de Jesus, quais foram as atribuições mais específicas que José exerceu neste ministério?

Basicamente os evangelistas ressaltaram estas:

- A imposição do nome ao Menino (Mt 1,15), assumindo o direito paterno e reconhecendo Jesus como seu filho.

- A descendência davídica, reconhecendo a Jesus o título de descendente de Davi, portanto da casa e da família de Davi (Lc 2,4).

- O rito da circuncisão (Lc 2,21), com o qual Jesus passou a fazer parte do povo da Aliança.

- O rito do resgate como primogênito, na apresentação do Menino no Templo (Lc 2,22ss).

- O cuidado com o Menino e sua mãe na fuga e permanência no Egito (Mt 2,13-22).

- A vida de dedicação à família e ao trabalho em Nazaré, onde Jesus lhe era submisso (Mt 2,51)

50. Sendo pai de Jesus, como José o educava?

Um aspecto muitas vezes esquecido em relação à paternidade de São José é aquele que diz respeito à sua função de educador de Jesus. Evidentemente deve-se admitir que a influência que uma pessoa recebe do ambiente em que vive e o circunda tem grande importância na sua vida, e isto foi muito real em relação à educação de Jesus. O Papa Paulo VI compreendeu muito bem este aspecto, vendo refletida no comportamento de Jesus a longa convivência que ele teve com José, e por isso mesmo afirmou: “São José é o tipo do evangelho que Jesus, depois de deixar a pequena oficina de Nazaré e ao iniciar a sua missão de profeta e de mestre, anunciará como programa para a redenção da humanidade”. Isto significa que o tipo de homem novo que Jesus pregava como ideal no Reino, fora formado e plasmado em sua mente ao longo dos anos que conviveu com José, em correspondência àquele modelo concreto que sempre teve diante de si durante os 30 anos de convivência na Sagrada Família de Nazaré.

Jesus embebeu-se da educação recebida de José, uma educação fundamentada no exemplo, na coerência, no esforço do cumprimento da vontade de Deus, de uma maneira simples tornando-se um modelo a ser imitado. Por isso o mesmo Papa declara: “São José é a prova que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não é preciso grandes coisas, basta o cumprimento das virtudes comuns, humanas e simples, contanto que verdadeiras e autênticas”.

51. Além do seu grande exemplo de vida, José exerceu quais funções práticas na educação de Jesus?

Sendo um homem do seu tempo, José procurou em termos práticos cumprir as determinações próprias que cabiam aos pais de então, como aquela da educação religiosa do filho, a qual começava com a adolescência e consistia basicamente no ensinamento de trechos da Sagrada Escritura, no conhecimento das prescrições de Deus ao seu povo, realizadas através do ensino oral, com as leituras seguidas de explicações, de interrogações e de respostas (Dt 8,7-20; Ex 13,8).

Além disso, José ensinou a Jesus a própria profissão de carpinteiro que, como de costume, passava de pai para filho. Os longos anos passados no ambiente de trabalho com José, no banco da carpintaria, tornava a expressão cotidiana do amor vivido no ambiente de família.

Da mesma forma, de José como um bom judeu, Jesus herdou a educação nas práticas da piedade, onde todos os dias recitava em sua casa as orações próprias das práticas religiosas judaicas, assim como com José participava dos cultos na Sinagoga de sua cidade. Portanto, José exercitou tudo aquilo que era dever de educação de um bom pai, muito mais porque recebera diretamente de Deus a missão de servir diretamente a pessoa de Jesus mediante o exercício de sua paternidade.


52. Sendo José um carpinteiro, como compreendemos o trabalho em sua vida?

O trabalho é um componente fundamental na vida de qualquer pessoa, por isso também para José o trabalho foi o meio para assegurar o sustento de sua família, e foi também no exercício de sua profissão dentro da carpintaria o laboratório da educação de Jesus, pois ele próprio exerceu com suas mãos o trabalho manual, como “Filius Fabri” (Filho do carpinteiro) Mt 13,55. A condição operária de José é aquela que “personifica o tipo humano, que o próprio Cristo escolheu para qualificar a sua posição social de filho de carpinteiro”, e Jesus quis justamente assumir a qualificação humana e social de São José.

São José aproximou o trabalho humano ao mistério da redenção graças ao banco de sua carpintaria onde exerceu sua profissão juntamente com Jesus.

53. O evangelista Lucas (2,41-52) relata que Jesus subiu a Jerusalém com seus pais quando completou 12 anos e lá se perdeu. Como explicar este acontecimento?

Aos 12 anos Jesus foi com seus pais pela primeira vez participar dos festejos da Páscoa na cidade Santa de Jerusalém. Esta era para ele a primeira oportunidade de participar oficialmente do culto a Deus no Templo. Era para ele também uma ocasião importantíssima, pois com doze anos tornava-se socialmente “adulto”. Além do mais, esta peregrinação à cidade Santa colocava-o diante de um mundo diferente daquele vivido até então em Nazaré, um lugarejo insignificante. Em Jerusalém, que por esta ocasião recebia um número extraordinário de peregrinos, chegando a ter até 150 mil pessoas, Jesus encontrava-se em companhia de seus pais com um mundo diferente.

A perda de Jesus não foi um descuido dos seus pais, mas uma decisão dele de permanecer na cidade entre os pórticos do Templo ouvindo e indagando os rabinos; foi pois uma opção livre e espontânea sua.

54. O que aconteceu com Jesus após o episódio de sua perda no Templo?

Lucas relata que “Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles... e crescia em  sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. (2,51-52) Ali em Nazaré, junto com José e Maria, ele passou a viver a “escola  do evangelho” à espera do cumprimento de sua missão messiânica. Ali viveu como  um homem entre os homens, condividindo a obediência, a humildade e o trabalho junto com José e Maria, santificando os deveres de família e do trabalho que fazia juntamente com seu pai. Todo este arco de sua existência foi marcado pela presença contínua e iluminadora de José, pai e educador.

55. Após o episódio da perda e o encontro de Jesus no Templo, os evangelistas não falam mais nada sobre José, será porque ele morreu logo em seguida?

Na verdade não podemos dar uma resposta precisa quanto ao número de anos que José viveu, pois não encontramos disso nenhuma referência nos evangelhos. Após os relatos da infância de Jesus, os evangelistas passam logo para o seu ministério público, e a presença de José desaparece. O que podemos afirmar com certeza absoluta é que ele viveu até a idade dos 12 anos de Jesus (Lc 2,4-52). As respostas que os Josefólogos dão a respeito do tempo da morte de José são variadas, porém a mais unânime é que ele morreu logo depois do batismo de Jesus e antes das bodas de Caná. Portanto, logo nos primeiros dias do ministério público de Jesus, ou seja, quando Jesus tinha cerca de 30 anos de idade (Lc 3,23). Os motivos plausíveis para esta afirmação são de que nas bodas de Caná José não se econtrava, Maria porém sim, (Jo 2,1-11) e também de que durante as suas pregações quem se dirige a ele é sua mãe e seus primos, (Jo 9,27) e além do mais, aos pés da cruz, Jesus confiou sua mãe ao discípulo João (Jo 19,27).

56. Como foi a morte de José?

Também não possuímos elementos convincentes para esclarecer a respeito de sua morte, porém aceitando que ele tenha morrido antes de Jesus, podemos deduzir que tenha tido uma morte ao lado de Jesus e de Maria. O certo é que a morte de José possui um significado importante, tanto é verdade que esta tem um valor e um lugar na piedade dos fiéis. A sensibilidade religiosa e a razão guiaram a piedade cristã a considerar, desde os tempos mais antigos, a morte de José como “um plácido sono entre os braços da Virgem e de Jesus”.

57. Por que São José é considerado protetor da boa morte?

Há um livro apócrifo denominado “A história de São José, o carpinteiro,” que teve origem em Nazaré no século II., o qual foi escrito para uso litúrgico dos judeu-cristãos. Este relata que Jesus teria contado aos discípulos reunidos sobre o monte das Oliveiras toda a vida de José, particularmente a sua morte. Este relato difundiu-se ao ponto que os coptos monofisitas egípcios instituíram a festa da comemoração de sua morte, denominada de “trânsito”, no dia 20 de julho. Com a influência deste livro e desta festa, passou-se a considerar São José o protetor da boa morte e a cena do “Trânsito de São José” apareceu na iconografia e se difundiu rapidamente. Nasceram várias confrarias para promover esta festa, até aquela mais recente instituída pelo Papa Pio X em 1913 junto à Igreja de São José Al Trionfale, em Roma, denominada de “Pia união do trânsito de São José para a salvação dos agonizantes”. Também o Papa Bento XV no motu próprio “Bonum Sane” em 1920 quis que São José fosse lembrado como protetor dos moribundos porque expirou com a assistência de Jesus e de Maria. O mesmo Papa aprovou também duas missas votivas a São José, uma para os moribundos e outra para a proteção da boa morte, e também uma oração para obter a boa morte: “Que eu morra como o glorioso São José, entre os braços de Jesus e de Maria...”. Da mesma forma, Pio X em 1909 aprovou a Ladainha de São José, e dentre as invocações estão aquelas “esperança dos enfermos, padroeiro dos agonizantes e terror dos demônios”. Também o Papa Pio XI, o Ritual Romano de 1922, colocou para o rito da unção dos enfermos a invocação: “São José, dulcíssimo padroeiro dos agonizantes, fortaleça a tua esperança”, e da mesma forma compôs a belíssima oração: “A ti eu recorro, São José, padroeiro dos moribundos...”.

58. Podemos dizer alguma coisa de José após a sua morte?

Muitos teólogos e santos, dentre os quais alguns respeitadíssimos como São Tomás de Aquino, Clemente de Alexandria e São Bernardino de Sena, afirmaram que José esteve entre os santos que na ressurreição de Jesus saíram dos sepulcros conforme narra o evangelista Mateus (27,52-53). É evidente que São José seria o primeiro, devido à sua grandeza como pai de Jesus e esposo de Maria, a merecer este privilégio. Outros teólogos como Cornélio Lápide e Francisco Suárez, afirmam que José subiu aos céus em corpo e alma na ascensão de Jesus. O Papa Bento XIV limitou-se a afirmar que acreditava piedosamente que São José ressuscitou. A Igreja nunca se pronunciou a este respeito porque não é um artigo de fé. O próprio Bernardino de Sena afirma que: “Podemos crer por devoção, e não por segurança temerária, que Jesus ornou o seu pai putativo com o mesmo privilégio concedido à sua santíssima Mãe, de modo que, como ela foi levada aos céus em corpo e alma, assim também no dia da ressurreição do Senhor Jesus, ressuscitou consigo o santíssimo José...”


59. Em virtude da sua sublime paternidade, como podemos exprimir melhor a dignidade de José?

Quanto mais unido a Jesus, maior a dignidade, por isso sua dignidade só é superada por aquela de Maria e, portanto, é superior àquela dos Anjos. Jesus foi-lhe obediente e submisso, e José teve para com ele um relacionamento de pai, na educação, no afeto e na convivência. Portanto teve uma tarefa altíssima, pois cooperou no mistério da nossa redenção.

O teólogo Francisco Suárez defende a dignidade de José afirmando: “Considero que a missão de apóstolo constituiu o maior encargo entre os que existem na Igreja ... Entretanto, não é improvável a opinião segundo a qual a missão de José é ainda mais perfeita, por ser de ordem superior... existem encargos ou ministérios da ordem da graça santificante, e nesse caso considero os apóstolos em suma dignidade... porém existem ministérios que se encontram no limite da ordem da União hipostática, a qual é de per si mais perfeita... justamente nesta ordem, no meu modo de ver, está o ministério de São José, ou seja, no mais alto grau”.

60. Qual a importância de José nos mistérios da nossa redenção?

Antes de tudo devemos afirmar que ele participou como nenhuma outra pessoa, com exceção de Maria, no mistério na encarnação de Jesus, função esta que ele exerceu como esposo de Maria e com a sua paternidade. Sua cooperação foi, podemos dizer, indireta, enquanto esposo de Maria, mas necessária e, enquanto pai de Jesus, embora não participando diretamente, colaborou enquanto nutriu, protegeu e educou Jesus, compartilhando com ele vários anos de sua vida. Deus confiou-lhe Jesus e Maria, os tesouros mais preciosos, e por isso a sua missão foi aquela de servir a economia da salvação, ao desígnio da redenção que se iniciou com a encarnação.

61. Onde encontramos a expressão da santidade de José?

Sua santidade tornou-se lúcida na singular união e intimidade que teve com Maria e Jesus e tudo isso transformou-se numa constante resposta de amor a Deus e na aceitação simples e generosa de sua vontade. Sua santidade é expressa também pelo denominativo que Mateus 1,19 lhe dá: “Homem justo”, ou seja, um homem que possuía a perfeição de todos as justiças, e deste modo pode-se, como afirma Oliver, “testemunhar de modo visível a perfeição admirável de Deus Pai”.


62. Se José é Justo segundo a designação da bíblia, pode ele ter sido santificado antes de nascer?

O qualificativo “justo” que lhe é atribuído é reservado no Novo Testamento somente a Deus, e este é o juízo de apreciação que os evangelhos fazem sobre José. Naturalmente muitos defenderam a alta santidade de José, inclusive alguns como Gerson e Bernardino de Bustis chegaram a defender a sua santificação no seio materno, prerrogativa esta que teve o profeta Jeremias: “Antes de saíres do seio de tua mãe, eu te santifiquei” (Jr 1,5), ou também João Batista, “será cheio do Espírito Santo desde o seio de sua mãe” (Lc 1,15). Outros pensadores, como o Cardeal Lepiciér, defenderam a sua impecabilidade durante toda a vida e, com isso, admitem consequentemente que foi isento da concupiscência. Porém, esta não é posição defendida pela Igreja até hoje.


63. A santidade de uma pessoa exprime-se numa vida virtuosa, quais as virtudes fortes em José?

Todas as virtudes a começar por aquelas teologais. A fé, que foi o distintivo de todas as suas ações na realização da vontade de Deus. Toda a sua vida interior teve base na fé, pois “o homem justo vive da fé” (Rm 1,17); ela é o elemento fundamental da santidade. José demonstrou sua fé quando lhe foi pedido que aceitasse ser esposo de uma Virgem, a qual daria à luz um filho, do qual ele seria o pai. Ele acreditou na concepção virginal de Maria, embora não compreendesse todo o mistério.

Também a esperança permeou a vida de José, mantendo-se ele calmo e cheio de esperança em Belém nas circunstâncias difíceis em que Maria estava para dar à luz. O mesmo deu-se quando teve que fugir para o Egito e lá viver por alguns anos, ou ainda quando perdeu Jesus em Jerusalém onde o procurou com diligência.

A caridade é o parâmetro da santidade, e José amou com o máximo grau de amor Jesus e Maria; e quem ama Deus ama também o próximo.

Além das virtudes teologais destacamos nele também aquelas morais tais como: a prudência, guardando com fidelidade o segredo da encarnação de Jesus no seio de sua esposa; a justiça, tributando a Maria toda a sua confiança e dando tudo o que lhe era devido assim como a Jesus; a fortaleza, sendo valoroso, trabalhando corajosamente contra todas as dificuldades com que se deparou; a temperança, vivendo humildemente como artesão em Nazaré.


64. O que dizer da virtude do silêncio em José?

Esta foi uma virtude caracteristicamente sua juntamente com a humildade. Ele é o homem do silêncio, tanto é verdade que os evangelhos não relatam sequer uma palavra sua, quase a dizer que o silêncio foi a sua característica, a sua marca pessoal. Basta lembrar que quando percebeu a gravidez de sua esposa, viveu em silêncio esse problema que o dilacerava. Quando o Anjo lhe ordenou de tomar consigo Maria, ele simplesmente no silêncio obedeceu, numa atitude dócil ao cumprimento da vontade divina. O mesmo se deu nos acontecimentos do nascimento de Jesus e da sua apresentação no templo, quando de sua boca não saiu nenhuma palavra. Quando encontrou o Menino sentado entre os doutores no pátio do Templo de Jerusalém, deixou a palavra para Maria.


65. Como compreender o silêncio de José?

Seu silêncio não é pobreza de espírito, aliás ele viveu profundamente uma riqueza interior ao lado de Maria e de Jesus. Seu silêncio era meditativo, uma maneira de melhor viver o seu amor profundo por Jesus e Maria; era um silêncio atento à presença significativa destes dois tesouros em sua companhia. Em virtude de seu silêncio ele foi destinado por Deus, conforme exprimia o Papa Paulo VI, para ser como “uma sombra opaca ao redor de Jesus, mais para ocultar os raios daquele sol divino do que para ser iluminado por ele, mais para absorvê-los do que para refleti-los”.

66. Como os fiéis viram o seu poder de intercessão?

Numerosos escritores josefinos e santos defenderam o grande poder de intercessão de São José, justamente por reunir em si um tesouro de riquezas, concentrando os esplendores de todos os santos. O grande teólogo Tomás de Áquino ensina que “alguns santos receberam o privilégio de nos proteger em casos especiais; a São José, porém, foi conferido o encargo de nos socorrer em todas as necessidades”. Santa Tereza d’Ávila diz que: “no céu é feito tudo o que São José pede”. De fato, depois de Maria, São José ocupa o primeiro lugar no coração de Deus; assim, ninguém depois de Maria e do Salvador pode nos conceder mais graças que São José. Gerson diz que: “No céu São José não pede, mas manda, não impetra, mas impera”. Afirmou Santa Tereza uma grande devota de São José: “que nunca me lembro de haver pedido uma graça a São José sem que a tenha recebido imediatamente”. O fundador da Congregação dos Oblatos de São José, o Bem-aventurado José Marello, confiava tanto no poder de intercessão de São José que afirmava: “Se São José não concedesse graças, não seria mais São José”. Para Santa Tereza, as graças que São José concede são: a busca do perdão dos pecados, o amor a Jesus e Maria, uma vida interior e uma boa morte.

É diante de tamanho poder de intercessão que o Papa Bento XV considerou que os devotos de São José têm o caminho mais breve para a santidade; e Pio XI, grande devoto do pai de Jesus, afirmou que ele tem diante de Deus uma intercessão “onipotente”.

67. Se São José é intercessor, é também protetor?

A devoção a São José teve um desenvolvimento surpreendente, culminando na sua proclamação como Patrono da Igreja Universal, com o decreto “Quemadmodum Deus” de Pio IX aos 08 de dezembro de 1870. Neste decreto o Papa afirma de José, como pai de Jesus, que Deus “constituiu como senhor de sua casa e de suas propriedades, e como guarda de seus tesouros mais queridos. A Jesus ele abraçou-o com afeto paterno e nutriu-o com solicitude especialíssima”. O Papa Leão XIII em sua encíclica “Quamquam Pluries”, de 15 de agosto de 1889, explica o porquê do patrocínio de São José sobre toda a Igreja Católica com estas palavras: “As causas e razões especiais pelas quais São José foi proclamado Patrono da Igreja e em virtude das quais ela se colocou repetidas vezes sob a sua proteção, são estas: Porque ele foi o esposo de Maria e pai, como era reconhecido, de Jesus Cristo. Daí derivam sua dignidade e graça, santidade e glória”.

Sendo ele protetor de toda Igreja, o é também de todos os fiéis, particularmente das famílias. Na verdade, a família de Nazaré, da qual ele é o chefe, torna-se o modelo mais sublime para todas as famílias. Por isso, todas as famílias devem tê-lo como seu protetor. São José é tido também como protetor dos sacerdotes, em virtude de sua específica missão de cuidar do tesouro divino do Pai aqui na terra, vivendo intimamente com Ele, tocando-o, sustentando-o, defendendo-o e educando-o. Na verdade, o mesmo corpo que nasceu de Maria e que José protegeu é aquele que o sacerdote segura no momento da consagração na missa. “São José nutriu, como nos ensina Pio IX, aquele que os fiéis deviam comer como pão da vida eterna”. Portanto, existe uma relação profunda entre o ministério sacerdotal e a missão de São José.

Ele é também o protetor da boa morte, justamente por ter morrido ao lado de Jesus e de Maria.


68. Ele é também o protetor das famílias religiosas?

As Congregações Religiosas, os Institutos de vida consagrada, as Sociedades de vida apostólica que têm São José como protetor e trazem o seu nome são inumeráveis e encontram-se espalhadas em todo mundo. Da mesma forma as Confrarias, as Associações e Instituições entituladas ao nosso Santo são numerosíssimas e disseminadas em todos os lugares. Disto podemos deduzir a grande consideração que São José possui entre os cristãos.

69. Dentre as muitíssimas Congregações e Institutos religiosos que escolheram São José como Patrono, poderia ser citada uma e o porquê da escolha?

Assim como Pio IX diante das tribulações que angustiavam a Igreja do seu tempo buscou a proteção de São José, da mesma forma também o Fundador da Congregação dos Oblatos de São José, o Bem-aventurado José Marello, atraído pelo exemplo de São José, do seu serviço por amor aos interesses de Jesus com a dedicação completa de sua vida, em 1872, aos 28 anos, idealizava uma “Companhia de São José” que fosse a “promotora dos interesses de Jesus”, onde cada membro tivesse suas próprias inspirações de seu modelo São José, que foi na terra o primeiro a cuidar dos interesses de Jesus...”. Esta sua inspiração inicial ganhou corpo quando em 1877 no esboço da regra para a Companhia, ele declara que esta estava aberta para quem desejasse “seguir de perto o Divino Mestre com a observância dos Conselhos Evangélicos” retirando-se na casa de São José com “o propósito de permanecer escondida e silenciosamente operoso na imitação daquele grande modelo de vida pobre e escondida”. De fato, em 1878 fundava a Congregação, tendo como patrono São José e os seus membros chamados: “Oblatos de São José”, com a intenção especial de honrá-lo e amá-lo imitando suas virtudes e propagando a sua devoção. Desta forma, esta Congregação, espalhada pelo mundo inteiro com os seus mais de quinhentos religiosos, empenha-se em “reproduzir na própria vida as virtudes características de São José, na união com Deus, na humildade, no escondimento, na laboriosidade, na dedicação aos interesses de Jesus, consagrando-se ao serviço da Igreja nas formas de apostolado ministerial que dia-a-dia a Providência indica”. Assim, esta Congregação tem como empenho primordial aquele do serviço que foi próprio de São José, aquele do silêncio e do escondimento, que como consente a pérola de cristalizar-se, ao nascituro de formar-se e à semente de desenvolver-se, assim também consente ao Filho de Deus de inserir-se da maneira mais discreta na família humana.


70. Sendo José intercessor e protetor, é também modelo?

Sem dúvida, pois todos os cristãos devem ter São José como o modelo perfeito que se colocou completamente à disposição da vontade de Deus e executou humilde e fielmente o plano divino da encarnação. Cada cristão deve, como disse João Paulo II em sua exortação apostólica “Redemptoris Custos”, “procurar extrair desta insigne figura, coisas novas e coisas antigas”(Mt 13,52), pois sua participação na economia da salvação foi livremente desejada por Deus para servir juntamente com Maria ao “mistério escondido nos séculos na mente de Deus” (Ef 3,9). Ele é o exemplo de obediência incondicional à vontade de Deus; o que ele fez é puríssima “obediência da fé” (Rm 1,5; 16,26); tornando-se o primeiro depositário do mistério divino, ele é “aquele que foi posto em primeiro lugar por Deus sobre o caminho da peregrinação da fé”, sobre o qual Maria irá adiante de modo perfeito.

José é modelo para os trabalhadores porque “junto à humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da encarnação, como também foi de particular maneira redimido”, e tudo isso graças ao banco da carpintaria, no qual ele trabalhava juntamente com Jesus assim José aproximou o trabalho ao mistério da redenção.

Ele é o modelo para os que buscam a vida interior porque estava “em contínuo contato com o “mistério escondido nos séculos, que morou debaixo do teto de sua casa”. Assim, ele colocou em suas ações envolvidas de silêncio, um clima de profunda contemplação.

Em suma, José é o modelo para todos os cristãos, pois ele é o tipo ideal do evangelho, ao qual Jesus fará alusões em suas pregações. “Ele oferece-nos um exemplo de atraente disponibilidade ao chamado divino, de calma em cada acontecimento, de plena confiança, fundamentada numa vida de sobre-humana fé e caridade e do grande meio da oração”.

Não sem razão São José exerceu uma força irresistível na vida dos santos, constituindo-se para estes, modelo e uma verdadeira escola de santidade. Para muitos santos, São José foi o leit-motiv para o caminho da santidade. É impossível enumerar os santos que tiveram as inspirações em São José, basta-nos apenas lembrar alguns como São Luiz Gonzaga, São João Maria Vianey, São João Batista de la Sale, Santa Tereza, Santo Afonso Maria de Ligório, São Vicente de Paulo e o Bem-aventurado José Marello, o qual aconselhava continuamente aos seus religiosos: “Peçamos a São José que seja o nosso diretor espiritual”.

71. Sendo José particularmente o modelo para o caminho da santidade, qual é o tipo de espiritualidade que ele nos apresenta?

Ele apresenta-nos uma espiritualidade acessível a todos, porque supõe a grandeza da vida cotidiana enquanto tal; de maneira mais ou menos extraordinária, com a qual cada um saberá viver a sua vida comum no exercício constante das mais variadas virtudes. Sua espiritualidade é feita de coisas simples e por isso é que ele é indicado como ponto ideal de referência para todas as categorias de pessoas: sacerdotes, religiosos, pais de família, esposos, virgens, ricos, operários, pobres... Ele nos ensina que “para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não são necessárias coisas grandiosas. Mas são suficientes virtudes humanas comuns, simples, mas verdadeiras e autênticas”, como nos afirmou o Papa Paulo VI.

72. Por que São José não mereceu a atenção da Igreja em suas reflexões logo nos primeiros séculos?

Porque a preocupação da Igreja era toda voltada para a pessoa de Jesus Cristo, nascido de uma Virgem, portanto concentrava suas atenções na proclamação da divindade de Jesus, e consequentemente também desenvolvia uma reflexão sobre Maria, a Mãe de Jesus. Desta forma, São José foi apenas tratado de maneira ocasional quando se analisava o texto evangélico, sobretudo do evangelho da infância.


73. Podemos colher algumas referências desta maneira ocasional com que São José foi lembrado nos escritos e reflexões dos primeiros séculos?

Sem dúvida, alguns escritores, como Santo Ambrósio (+397), consideraram verdadeiro o matrimônio de José e Maria. São Jerônimo (+420), sustentou a sua virgindade. Santo Agostinho (+ 430), além da sua virgindade e de seu verdadeiro matrimônio, defendeu também a sua verdadeira paternidade. Assim como inúmeros outros padres da Igreja e teólogos de então fizeram referência a José.

74. Quando afinal, começou a difusão da doutrina Josefina de uma maneira mais organizada?

A partir do início do século XIII. Como exemplo, temos São Boaventura que coloca em luz a presença de José através de seu “comentário sobre São Lucas” e depois em diversos outros seus sermões. Também São Bernanrdino de Sena em seu “Sermão sobre São José, esposo da Bem-aventurada Virgem”, onde admite a ressurreição de São José e sua assunção ao céu.

Outro grande difusor da doutrina Josefina foi Jean Charlier (+1419), chanceler da Universidade de Paris, mais conhecido como Gérson, o qual escreveu uma obra denominada: “Considerações sobre São José” e outra denominada “Josefina”, assim com um “Sermão sobre a gloriosa natividade da Virgem Maria e sobre a recomendação de seu esposo virginal José”. Outro grande Josefólogo foi Isidoro Isolani (+1528) que escreveu um verdadeiro tratado teológico sobre São José em sua obra “Suma dos dons de São José”. Francisco Suaréz (+1617) revolucionou o pensamento sobre São José colocando-o como membro da ordem da união hipostática. Enfim, é impossível enumerar as centenas de teólogos que escreveram sobre São José e defenderam os seus privilégios.

75. Existem algumas figuras mais eminentes que se destacaram na promoção da devoção e culto a São José?

São inúmeras estas figuras, apenas mencionamos Santa Tereza d’Ávila (+1582) que promoveu o seu culto em toda a Espanha e dedicou onze mosteiros de sua Ordem a São José, os quais foram verdadeiros centros de irradiação da devoção ao nosso santo. São Francisco de Sales (+1622) contribuiu muito na difusão da devoção Josefina com seu “Tratado do amor de Deus” e suas “Conferências Espirituais”. Destacamos também o Cardeal Alexi – Henri – Marie Lépicier (+1936) que escreveu o “Tractatus de S. Joseph” e recebeu a incumbência de Pio X de compor a ladainha de São José. Enfim, o culto e a devoção ao pai nutrício do Redentor conheceu um verdadeiro florescimento com o empenho de grandes devotos do nosso Santo. Desta forma, muitos Fundadores e Fundadoras de Congregações Religiosas difundiram a devoção a São José, a exemplo do Bem-aventurado José Marello (+1894), fundador da Congregação dos Oblatos de São José, assim como de Gaspar Bertoni (+1853).

76. Qual é a voz do magistério da Igreja a respeito do pai de Jesus?

É preciso dizer que não apenas os teólogos e devotos interessaram-se pela teologia Josefina, mas também o magistério da Igreja. Pio IX com o decreto “Inclytus Patriarcha Joseph”, de 10 de setembro de 1847, estendeu a festa do Patrocínio de São José para toda a Igreja. Da mesma forma, com um outro decreto: “Quemadmodum Deus”, de 08 de dezembro de 1870, proclamou-o Patrono universal da Igreja. O Papa Leão XIII colocou o seu pontificado sob a “proteção poderosíssima de São José” e em inúmeros documentos, encíclicas e decretos lembrou a presença de São José. Dentre todos destacamos a encíclica “Quamquam Pluries”, de 15 de agosto de 1889, onde expôs a doutrina sobre São José. Os Papas Pio X e Bento XV em seus vários documentos não deixaram de lembrar e de mencionar a importância de São José para os cristãos.

Pio XI, na sua alocução de 19 de março de 1928, sustentou a superioridade de São José sobre São João Batista e São Pedro, e na alocução de 19 de março de 1935 mostrou a ligação de São José com a união hipostática. Também na sua alocução de 19 de março de 1928 deu-lhe o título de “Onipotente”, assim como em vários outros documentos ressaltou a figura grandiosa do Santo Patriarca.

Pio XII destacou em vários documentos os aspectos da figura de São José, particularmente na encíclica “Haurietis Aquas”, de 15 de maio de 1956, descreveu o relacionamento familiar de Jesus com São José, salientando que o coração de Jesus palpitava de amor pelo seu pai a quem obedecia e ajudava no trabalho da carpintaria.

João XXIII em sua carta apostólica “Le voci”, de 19 de março de 1961, nomeou São José o Protetor do Concílio Ecumênico Vaticano II.

Paulo VI apresentou a figura cristalina e edificante de São José em seus inúmeros documentos e pronunciamentos; na constituição “Lumen Gentium”, de 21 de novembro de 1964, salientou que no sacrifício eucarístico veneramos sobretudo a memória da Bem-aventurada Virgem Maria e também do Bem-aventurado José. Exaltou a sua grandeza, colocou-o em relação com o mundo do trabalho, apontou-o como o introdutor do Evangelho das bem-aventuranças, anunciou-o como programa para a redenção da humanidade, apresentou-o como ponto referencial para as famílias...

João Paulo II em sua encíclica “Redemptor hominis”, de 04 de março de 1979, inseriu-o no coração da nossa redenção. Propô-lo como modelo para todos os pastores e ministros da Igreja. Na encíclica “Laborem Exercens”, de 14 de setembro de 1981, colocou-o ao lado de Jesus, explicitando-o como “O evangelho do trabalho”. No prefácio do novo Código de Direito Canônico, de 25 de janeiro de 1983, confiou a reta observância das normas impetrando a beatíssima Virgem Mãe da Igreja e o “seu esposo São José, Patrono da Igreja”. Além de lembrá-lo em muitos outros documentos, por fim escreveu a exortação apostólica “Redemptoris Custos” aos 15 de agosto de 1989, um verdadeiro tratado de Josefologia, onde ilustra a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja. Este é o pronunciamento do Magistério da Igreja mais completo e atual que até agora possuímos.


77. Como foi o desenvolvimento do culto a São José ao longo dos séculos?

Já destacamos algumas figuras que contribuíram com seus escritos e reflexões para a devoção ao culto de São José, contudo reportamos breves exemplos sobre a difusão de seu culto. Uma das primeiras referências que possuímos a respeito, nos vem de Arculfo, bispo da Gália, o qual relata que em 670 havia em Nazaré uma Igreja onde se encontrava a casa em que Nosso Senhor foi nutrido e uma outra no lugar em que o Anjo Gabriel entrou e falou à Bem-aventurada Maria. Há uma outra referência à pessoa de São José em Belém na Basílica da natividade onde se encontra a inscrição (I) Oseph (V) Irum (M) Ariae “José esposo de Maria”; há também uma pequena Igreja dedicada a São José que surgiu em cima das ruínas de uma antiga Igreja do tempo das cruzadas.

O culto a São José floresceu na Europa a partir do século X, começando pela Itália e espalhando-se com numerosos oratórios, basílicas, igrejas, capelas, abadias, conventos e mosteiros dedicados ao nosso Santo. É impossível mencionar todos os templos dedicados a ele a partir de então porque são inumeráveis e espalhados por toda a Europa e no mundo, inclusive no Brasil, onde as paróquias dedicadas ao nosso protetor ocupam o terceiro lugar, perdendo apenas para Nossa Senhora e Santo Antônio

78. Além do culto nas Igrejas, São José é venerado em outras organizações?

Sim, além das igrejas, basílicas, santuários, catedrais, oratórios, capelas... São José também é cultuado nas inúmeras confrarias e arquiconfrarias, nos mosteiros, nas ordens religiosas, nas congregações e institutos de vida religiosa, assim como nas inúmeras irmandades e associações, sendo que uma das mais antigas associações data do ano de 1345 em Rabat, na Ilha de Malta. Todas estas, em número incontável, surgiram na Europa e se difundiram por todo o mundo.

79. Prescindindo do culto, São José é lembrado ainda de outra maneira?

Há um número considerável de nações, regiões, localidades, cidades, dioceses e variados estabelecimentos e organizações que escolheram São José como Protetor. Ele foi proclamado Patrono especial do reino da Boêmia em 1665 por Ferdinando III e em 1675 foi escolhido como Patrono dos domínios austríacos e no ano seguinte dos territórios germânicos. Tornou-se Protetor da China, da Espanha, do Peru, das Filipinas. Foi designado Patrono de Nápoles, Gênova, Turim, Florença, Verona, Veneza, Palermo, Avinhão, Manila, Cracóvia... e no Brasil existem cerca de 90 municípios catalogados com seu nome. São inúmeras também as dioceses que o têm como seu protetor. Algumas dentre as quais são: aquela de Orvieto, Ottawa, Harós, Wladislávia, Liverpool, São José na Califórnia, São José de Costa Rica, Caacupé no Paraguai, Cúguta na Colômbia, Maracai na Venezuela, Santa Fé na Argentina, Tapachula no México; no Brasil lembramos as dioceses de Fortaleza, Mariana, Garanhuns, Macapá, Campo Mourão, São José dos Campos... Estas poucas indicações dentre inúmeras outras, são apenas uma pálida referência do quanto São José é amado e reconhecido no mundo inteiro.

80. Pode-se indicar algumas festas e reconhecimentos do nosso santo na liturgia?

Já lembramos que o culto a São José, ao contrário daquele a Maria, permaneceu por muitos séculos esquecido com apenas algumas lembranças dos traços de sua figura aqui e ali por alguns devotos ou algumas Ordens Religiosas. Contudo, a partir do século VIII no Ocidente São José era celebrado no dia 19 de março na Abadia de Winchester e no Oriente, a partir do século X, São José era comemorado no dia de Natal e também no dia 26 de dezembro com a festa de “Maria e José, seu esposo”. No século XIV no mosteiro austríaco de São Floriano havia um missal com uma missa votiva ao “Pai putativo do Senhor”. Ao longo dos séculos estas festas e comemorações em honra a São José desenvolveram-se de muitas maneiras até chegar a 1917: com o Código Direito Canônico, a festa denominada “Comemoração solene de São José, Esposo da Bem-aventurada Virgem Maria” foi incluída como preceito para toda a Igreja.

Outra festa litúrgica celebrada com solenidade foi aquela do “Patrocínio de São José”, estendida para toda a Igreja em 1847 por Pio IX e fixada para o terceiro domingo depois da Páscoa. Esta festa antes fora celebrada por muitas Ordens Religiosas: a partir de 1680 pelos Carmelitas; depois a celebraram os Agustinianos, os Barnabitas, etc. Também muitas dioceses, desde aquela do México em 1703, depois a de Puebla, Los Angeles, Palermo, De la Plata, Pavia, Colônia, Orvieto, Asti, Acqüi, etc. Esta festa foi substituída por aquela de “São José Operário” instituída por Pio XII para o dia 1º de maio.

Paulo VI na promulgação do Missal Romano inseriu nele três missas em honra de São José: a solenidade de 19 de março: “São José, esposo da Bem-aventurada Virgem Maria”, a festa de “São José Operário”, 1º de maio e uma missa votiva. Além disso, São José é celebrado na “Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José” no domingo dentro da oitava do Natal.

81. Dentro da liturgia existem referências a São José?

Além daquelas nas missas, São José tem seu nome lembrado na “Ladainha dos Santos” e Leão XIII aprovou a recitação do “Ofício votivo de São José” nas quartas-feiras. Seu nome está incluído também nas orações rezadas depois da missa desde 1884; assim como o mesmo Papa prescreveu uma belíssima oração em honra a ele: “A vós, São José, recorremos”, a ser rezada no mês de outubro após a reza do Rosário. Em 1921 Bento XV inseriu o seu nome no prefácio da missa e acrescentou sua invocação na oração “Bendito seja Deus”. Pio XI em 1922 incluiu-o nas orações pelos moribundos no Ritual Romano. João XXIII em 1962 incluiu o seu nome no Cânon da missa.

82. Existem algumas orações ou práticas de piedade josefinas indulgenciadas?

São muitas, basta lembrar apenas algumas, tais como: a “Ladainha a São José”, indulgenciada em 1909 por Pio X . Da mesma forma Bento XV em 1921 concedeu indulgências especiais para a recitação do “Pequeno Ofício de São José”. Existem muitas outras orações indulgenciadas como aquela bastante conhecida “Jesus, José e Maria, eu vos dou meu coração...”. O importante é salientar que todas estas orações exaltam a sua santidade, dignidade e a sua missão específica no mistério da nossa redenção.

83. Quais são as devoções mais características nas práticas de piedade josefina ao longo dos séculos?

Uma devoção bastante difundida desde o século XIV e presente até hoje é: “As sete dores e sete alegrias de São José”. No final do século XV encontramos o “Rosário de São José”, e ainda hoje existem vários. Em 1597 ficou conhecida a “Ladainha de São José” publicada em Roma e atribuída a Jerônimo Graziano da Mãe de Deus; também esta até hoje é muito rezada.

Desde 1850 multiplicaram-se diversas formas do “Rosário de São José”; Rosário Perpétuo de São José: Rosário do devoto de São José; Terço a Maria Santíssima e a São José...”

Em 1649 surgiu a devoção do “Cordão de São José” com as Agostinianas da Bélgica, como forma de curar as doenças e livrar das ciladas do demônio. Esta devoção foi enriquecida por Pio IX com indulgências.

Os padres capuchinhos difundiram a devoção nascida com a Ordem Terceira Franciscana na França do “Escapulário de São José”; da mesma forma, desde 1865 os Camilianos divulgaram o “Escapulário da Bem-aventurada Virgem- Maria, São José e São Camilo”.

Em 1875 surgiu no México a devoção de benzer as velas na festa de São José, assim como ainda neste mesmo país, a partir de 1903, implantou-se o costume de benzer a “Água de São José”.

Em Milão desde 1854 implantou-se o “Culto Perpétuo a São José”, dedicando-lhe um dia a cada mês do ano.

Surgiram depois “A Novena Perpétua a São José”; “Os sete domingos de São José”; “As dezenove quartas-feiras de São José”; “As sete quartas-feiras de São José”. A prática das “quartas-feiras dedicadas a São José” é muito comum ainda hoje, assim como a “dedicação do mês de março a São José”, também muito celebrado atualmente.

84. São José foi lembrado também na música?

A música foi da mesma maneira uma forma utilizada para honrar o nosso santo. Alguns músicos famosos compuseram missas em honra do nosso santo, tais como: Johamm G. Albrechtsberger, que compôs a “Missa Sancti Josephi”; Flor Peeters, a “Missa in honorem Sancti Joseph”; Pergolesi o “Oratório sobre a morte de São José”, assim como inumeráveis outras músicas e cânticos nascidos em vários países que contribuíram para exaltar São José.

85. Existiram outras formas de honra tributadas a São José?

Uma das mais características foi a coroação canônica de suas imagens. A primeira delas deu-se em Bogotá em 1779; depois na cidade do México em 1788; também em Guanajunto no México em 1790. Em Kalisz, na Polônia, São José foi coroado em 1796 e recoroado em 1985. Dezenas de outras coroações aconteceram no século XX em Barcelona, Montreal, Buenos Aires, Ávila, Santa Ana (El Salvador). Atestam-se ainda o culto a São José e suas aparições, dentre as quais uma em 1448 em Novara (Itália), em Knock (Irlanda) em 1879 e em Fátima (Portugal) em 1817.

86. São José entrou também no folclore?

A piedade popular e o amor a São José que os fiéis demonstraram teve um gosto folclorístico em muitos lugares. Na Sicília (Itália), por ocasião do dia 19 de março, os fiéis organizavam o “Banquete de São José” convidando alguns pobres para almoçarem em suas casas. Ainda na Sicília costumava-se vestir um velho de bons costumes com uma túnica e um manto tendo nas mãos uma vara florida com a qual abençoava o povo. Em outras localidades levam-se neste dia, pães às Igrejas para serem abençoados e distribuídos aos pobres ou comidos em família. Ainda na Itália numa localidade de nome Gela costuma-se no dia 1º de maio levar à Igreja o “Prato de São José”, cheio de vários tipos de alimentos. Este é leiloado e a renda revertida para as obras de caridade. Da mesma forma, em Riccia (Itália), os fiéis praticam a devoção a São José convidando para o almoço três pessoas: um casal e um adolescente ou jovem, representando a Sagrada Família.

Em Siracusa no dia 19 de cada mês os devotos celebravam o chamado “dezenove”, onde doze devotos preparavam, cada um, três roscas grandes e várias roscas pequenas e as levavam diante da imagem do santo durante a missa do dia; as três roscas grandes eram distribuídas uma para um idoso, outra para uma moça e a terceira para uma criança, enquanto que as pequenas eram dadas aos amigos.

Em outros lugares no dia 19 de março as famílias preparam uma farta mesa convidando cinco pessoas representando Jesus, Maria , José, Santa Ana e São Joaquim, ou também preparam uma farta mesa na praça pública às 12 horas, onde participam dela os mais pobres e idosos.

No dia 23 de janeiro, Festa dos Esponsais de São José com Maria, costuma-se mandar benzer muitos doces e confeitos para depois levá-los aos doentes e distribuí-los entre os amigos.

Outro costume em Nápoles (Itália) é de, na ocasião da festa do Santo, organizar a “Violeta de São José”, onde os devotos oferecem estas flores ao santo nas igrejas ou diante das imagens que possuem em suas casas.

Existe ainda o costume de organizar procissões que partem de duas igrejas, uma com a imagem de São José e outra de Nossa Senhora e estas se encontram na praça principal, onde Nossa Senhora oferece um ramalhete de flores a São José.

Atualmente no Brasil em várias Igrejas celebra-se a “Novena de São José” nos dias 19 de cada mês, onde os devotos costumam levar alimentos, folhas de chá, flores para serem abençoadas e depois levadas para as suas casas ou distribuídas.


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